Casta dos oligarcas políticos e da bandidagem com imunidade

Casta dos oligarcas políticos e da bandidagem com imunidade

A Índia possui um sistema de castas baseado no nascimento e na religião hindu, com um sistema hierárquico rígido de Brahmanes (sacerdotes), Xátrias (guerreiros), Vaishyas (comerciantes) e Sudras (trabalhadores), além dos Dalits (intocáveis) à margem do sistema como párias. Na China, a hierarquia social, embora historicamente influenciada pela educação e mérito, não se baseia em castas de nascimento, mas sim em um sistema de estratificação por mérito e função, com os intelectuais no topo da hierarquia, seguido por agricultores, artesãos e comerciantes.

No Brasil, o processo de mobilidade profissional e social não é só uma consequência dos méritos individuais de cada pessoa, ou seja, dos seus esforços e dedicações. As posições hierárquicas estariam condicionadas às pessoas com os melhores valores educacionais, morais e aptidões técnicas ou profissionais específicas e qualificadas em determinada área de atuação.

Por exemplo, a tese “Meritocracia dos Laços” defendeu, com fatos e dados, a hipótese de a “sorte do berço”, particularmente, a herança de elite socioeconômica e cultural carioca e paulistana, foi decisiva no destino profissional dos economistas brasileiros, embora não tenha sido uma barreira insuperável. É uma sub casta.

Networking é a ação de trabalhar sua rede de contatos, trocando informações relevantes com base na colaboração e ajuda mútua. Essa ação fundamental, para a ascensão profissional, inclui diferentes atividades voltadas à carreira e negócios, através da manutenção de relacionamentos interpessoais úteis para a carreira.

Casta é um termo referente a um sistema social hierárquico, onde a posição de um indivíduo é determinada por seu nascimento em uma determinada categoria social. As castas são geralmente definidas por critérios como etnia, ocupação ou religião e caracterizadas por muita endogamia, ou seja, os casamentos predominam entre pessoas dentro da mesma casta ou sub casta profissional.

Os poderes de castas (e sub castas) de natureza ocupacional se definem a partir das lógicas de suas ações. Por exemplo, o poder militar da casta dos guerreiros-militares (da farda) tem lógica militar: violência, vingança, coragem, fama, glória etc. O poder econômico da casta dos mercadores (do colarinho branco) adota a lógica de mercado: liberalismo, empreendedorismo, competitividade, eficiência em custos/benefícios etc.

Geralmente, buscam e aliar ao poder político ou legislativo da casta dos oligarcas (da gravata), cuja lógica paroquial (paternalismo, localismo etc.) é típica dos bairristas e a lógica familiar (respeito, herança, primogenitura etc.) visa maior enriquecimento dos clãs dinásticos.

Em contraponto, em uma aliança social-desenvolvimentista, o poder sindicalista da casta dos trabalhadores (do macacão ou colarinho azul) com sua lógica corporativa (igualitarismo, ceticismo quanto ao livre-mercado) dos trabalhadores organizados reúne-se com o poder executivo da casta dos sábios-tecnocratas (do terno-e-gravata) com a lógica de especialista (educação, titulação) de técnicos e gestores pragmáticos. Contragolpe, atualmente, recebe o apoio do poder judiciário da casta dos sábios-juristas (da toga) com sua pressuposta lógica da meritocracia (nomenclatura com mais bem dotados, regras, autoridade).

Atualmente, no Brasil, o poder religioso da casta dos sábios-sacerdotes (da batina ou do púlpito), especialmente dos pastores dos crentes manipuláveis, com sua lógica religiosa (conservadorismo em costumes, moralismo, disciplina etc.), é dissidente — e apoia a familícia paramilitar! O poder midiático da casta dos sábios-jornalistas (da pena ou do microfone) oscila, devido ao oportunismo da lógica de negociante, entre neoliberalismo, sem pluralismo no debate público, golpismo etc.

Reagem contra o avanço do neofascismo, o poder de celebridade da casta dos sábios-criativos (do superstar ou de influenciadores) com a lógica de artista (autonomia, autoexpressão, liberalismo cultural, criatividade etc.) e o poder educacional da casta dos sábios-educadores (vestidos com jeans e camiseta) com sua lógica cívica: tolerância, defesa de direitos civis, sociais e políticos das minorias.

Casta é a classificação capaz de ver não só como os agrupamentos sociais buscam o interesse próprio e a vantagem econômica, mas também como encarnações de ideias e estilos de vida. Provocam reações quando procuram os impor às outras castas, como no caso brasileiro atual, de a casta dos oligarcas políticos buscar se tornar imune às punições de seus crimes.

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Na calada da noite, dentro da Câmara de Deputados em Brasília, a moralidade morreu, apesar do esforço dos deputados de esquerda para a ressuscitar em discursos de plenário. Nasceu a criatura mais cínica da temporada legislativa: a “PEC da Blindagem” — apelidada logo pelo povo de “PEC da Bandidagem”.

Oficialmente, o texto dizia proteger a “independência do Parlamento”. Na prática, era o equivalente a instalar airbags, colete à prova de bala e porta de cofre suíço em torno de cada deputado e senador, para nenhum raio de justiça os atingir por acidente.

A coreografia foi digna de ópera bufa. Capachonaro Vendilhão da Pátria, recém alçado a “líder da minoria”, recebeu a coroa como uma indulgência plenária: — “Estás absolvido, filho pródigo, de todas as besteiras e os crimes contra a pátria típicos de quinta-coluna, cometidos com seu ousado lobby junto ao Imperador Donald”. Afinal, pouca importa uma ameaça de intervenção militar estrangeira diante a suprema arte de blindar a própria biografia…

No mesmo compasso, Cajado Mandado foi chamado de madrugada para assumir a relatoria da obra-prima. A troca de relator era urgente: o anterior era um homem ainda sujeito a constrangimentos éticos, não queria assinar a certidão de nascimento de um monstro tão feio. Cajado aceitou, porque cajado, afinal, serve para guiar rebanhos — e o rebanho em questão era uma casta inteira de oligarcas à beira da canonização política.

A inovação genial da PEC da Bandidagem? Colocar presidentes de partidos na lista de intocáveis e restaurar o voto secreto nas deliberações sobre julgamentos. Uma jogada de mestre: agora, além de se esconder atrás da toga do STF, os ilustres congressistas poderão se esconder atrás do biombo do anonimato. “Votaram em segredo, ninguém sabe quem”, dirão os líderes, sorrindo para as câmeras.

Na verdade, todos sabem a quem serve essa blindagem. O crime organizado do fuzil olhava com inveja o crime organizado do terno e gravata. — “Se eles podem, por qual razão não nós?”, perguntavam os barões do pó, do jogo do bicho e do dinheiro sujo. Mas logo a PEC ofereceu a solução: basta fundar um partido, virar presidente e pronto, blindagem garantida! Mais difícil é lavar dinheiro em paraíso fiscal…

Enquanto isso, nas ruas, operações da PF descobriam desvios de aposentadorias, propinas em emendas, malas de dinheiro saindo de gabinetes como se fossem sacolas de supermercado. Tudo isso deixa de preocupar os arquitetos da nova Constituição paralela: a República Blindada da Casta Política Oligárquica.

Em resumo, o enredo foi “o crime do fuzil e o crime engravatado se dar as mãos”. Faltou apenas acrescentar: e foram juntos ao cartório registrar a PEC da Bandidagem, agora reconhecida como certidão de batismo da impunidade nacional.

Assim, entre um tarifaço, uma ameaça da Casa Branca e uma sessão noturna, o Congresso conseguiu a proeza de reinventar a monarquia absolutista. São reis sem coroa, mas com foro privilegiado, súditos sem direitos, mas com tarifa elétrica reajustada e isenção de imposto de protelado, porque os congressistas tinham coisa muito mais importante em lugar de representar o povo: se perpetuarem nessa mordomia típica de boca-livre.

E o povo? O povo assiste de camarote, sem blindagem, sem imunidade, mas com a certeza de, no Brasil, a cada nova emenda constitucional, a Constituição original se parece cada vez mais com uma piada de mau gosto. Ah, quem mandou votar nos deputados da direita?!

(+) Imagem em destaque: Congresso Nacional em Brasília, símbolo do poder político brasileiro. Crédito: Pixabay

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