Direita alternativa, nacionalistas identitários e ‘trollagem’

Os movimentos alt-right (Direita Alternativa) e nacionalistas identitários apresentam algumas características comuns, mas possuem nuances distintas. Ambos fazem parte da extrema direita contemporânea e apoiam o nacionalismo e o conservadorismo cultural, enquanto abominam o liberalismo progressista.

A alt-right surgiu nos Estados Unidos, na década de 2010, como um movimento digital, ganhando visibilidade com a eleição de Donald Trump em 2016. Seus membros rejeitam o conservadorismo tradicional e adotam táticas provocativas e militantes.

Dentro da direita alternativa, seus militantes acreditam na Teoria da Grande Substituição: imigrantes e minorias estariam sendo usados ​​para diluir a população branca. Defendem a Supremacia Branca.

A alt-right usa plataformas como 4chan, 8chan, Twitter e YouTube para divulgar sua ideologia através de memes, ironia e desinformação. Usam e abusam da cultura meme na Internet.

O movimento se opõe a instituições como a ONU e a UE (União Europeia), alegando elas promoverem o multiculturalismo e enfraquecerem as nações. Também rejeita o feminismo, os direitos LGBTQ+ e o movimento “woke”. Adota o antiglobalismo e o antiprogresso social.

A direita também briga entre si por causa da rejeição do conservadorismo tradicional. Diferentemente dos políticos republicanos mais respeitáveis, a alt-right defende um conservadorismo mais agressivo, autoritário e focado em identidade racial. Luta por um “etnoestado branco”.

Possui conexões com o neonazismo e supremacismo branco. Embora neguem publicamente, grupos da alt-right adotam símbolos nazistas e fazem uso de “apitos de cães” (mensagens codificadas para públicos racistas).

O movimento identitário nacionalista tem raízes na Europa, especialmente na Nouvelle Droite francesa dos anos 1960. Ele compartilha uma ideia de supremacia racial da alt-right, mas se apresenta de forma mais sofisticada e intelectualizada ao aceitar a “diferença em vez de supremacia”.

Ao contrário do racismo explícito da alt-right, identitários alegam todas as culturas deverem permanecer “separadas” para preservar a sua “identidade”, rejeitando a miscigenação e a imigração.

Faz a defesa da etnopluralidade na qual cada grupo étnico deveria viver em seu próprio território, rejeitando o multiculturalismo. Defende também a soberania nacional e se opõe à imigração em massa, acusando “elites globalistas” de destruir a cultura europeia em favor do globalismo.

Entretanto, os nacionalistas identitários de origem francesa usam táticas “mais respeitáveis” diante os xucros norte-americanos. Enquanto a direita alternativa usa ironia e tratamento de choque, identitários buscam parecer intelectualmente respeitáveis, influenciando partidos políticos e think tanks.

Por exemplo, a teoria da “Grande Substituição” é popular entre identitários e alt-right. Generation Identity é um grupo europeu organizador de protestos contra a imigração para promover a identidade branca europeia.

Comparação entre Alt-Right e Nacionalistas Identitários

Trollagem (ou trolling, em inglês) é um comportamento online caracterizado por provocações deliberadas, desinformação e incitação a reações emocionais, geralmente com o objetivo de perturbar ou manipular debates.

São características da trollagem a provocação intencional. O troll faz comentários polêmicos ou ofensivos para irritar ou desestabilizar os participantes de uma discussão.

Adota a desinformação e o cinismo. Os trolls disseminam informações falsas ou exageradas para confundir e manipular o público.

Ironia e sarcasmo são armas para destruir a reputação dos adversários. Utilizam humor distorcido para disfarçar ataques ou desqualificar adversários. Outra tática é o desvio de foco ao criar distrações em debates sérios para minar quaisquer discussões racionais.

A alt-right e outros grupos extremistas de direita usam trollagem na política como estratégia para atrair líderes, atacar opositores e espalhar ideias radicais sob o disfarce de “piadas”. Plataformas como 4chan, 8chan, Reddit e Twitter (X do Musk) são usadas para coordenar campanhas de trollagem, direcionadas contra minorias, jornalistas e ativistas.

A auto vitimização é uma tática dos covardes. Quando acusados é comum adotarem o discurso do tipo “era só uma piada” para banalizar discursos de ódio e dar aparência de inocência ao conteúdo extremista.

Durante as campanhas eleitorais de Donald Trump, em 2016 e 2024, membros da alt-right divulgaram memes e notícias falsas para desacreditar adversários e polarizar o debate. Expressões caricaturais, o uso irônico de símbolos nazistas e a disseminação de “teorias da conspiração” foram amplamente promovidas por trolls políticos.

A trollagem vai além da simples provocação e pode ser usada como ferramenta de manipulação e radicalização. No contexto de extrema direita, ela serve para atrair jovens, espalhar ideologias racistas e minar debates democráticos, transformando espaços online em ambientes de desinformação e polarização.

A alt-right e os nacionalistas identitários fazem parte do mesmo espectro da extrema direita, mas aumentam em estilo e estratégia. Enquanto a alt-right usa estratégia de choque e comunicação digital para radicalizar jovens, os identitários buscam uma “abordagem mais respeitável” para intervenção em políticas públicas. Ambas as correntes, no entanto, convergem em sua oposição ao multiculturalismo, ao liberalismo progressista e à democracia pluralista.

Fernando Nogueira da Costa

Fernando Nogueira da Costa é professor titular do Instituto de Economia da UNICAMP. Obras (Quase) Completas em livros digitais para download gratuito em http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/). E-mail: [email protected].