Economia mundial caminha para recessão

Economia mundial caminha para recessão

GENEBRA – A economia mundial está em trajetória recessiva e espera-se que o crescimento global desacelere para 2,3% este ano, devido às crescentes tensões comerciais e à incerteza, afirmou o organismo das Nações Unidas sobre comércio e desenvolvimento, Unctad, em um relatório divulgado nesta quarta-feira, dia 16.

“A incerteza em matéria de política comercial está em um nível historicamente alto, e isso já está se traduzindo em atrasos nas decisões de investimento e em redução das contratações”, destacou o texto da ONU Comércio e Desenvolvimento.

A projeção do crescimento global está abaixo do patamar de 2,5%, que é amplamente considerado como sinal de uma recessão mundial, segundo a Unctad.

Isso também representa uma desaceleração significativa em comparação com as taxas médias de crescimento anual anteriores à pandemia de covid-19, quando o crescimento mundial já era moderado.

O relatório citou ameaças crescentes, entre elas choques na política comercial, volatilidade financeira e aumento da incerteza, marcada no início de 2025 pelas medidas e contramedidas, principalmente de tarifas sobre importações, desencadeadas pelo novo governo dos Estados Unidos.

A Unctad afirma que as crescentes tensões comerciais estão afetando o intercâmbio mundial de bens e serviços, e as recentes medidas tarifárias estão perturbando as cadeias de suprimento e prejudicando a previsibilidade.

A desaceleração afetará todas as nações, e a Unctad ressaltou sua contínua preocupação com os países em desenvolvimento, em particular com as economias mais vulneráveis.

Muitos países de baixa renda enfrentam uma “tempestade perfeita” de piora nas condições financeiras externas, dívida insustentável e enfraquecimento do crescimento interno, alertou a agência da ONU.

Quanto à evolução regional, a Unctad prevê uma forte desaceleração da economia americana, que alcançará 1% de crescimento em 2025, devido principalmente à maior incerteza política, agravada pelas medidas comerciais anunciadas recentemente.

O Canadá também deve experimentar uma desaceleração significativa, com um crescimento previsto de apenas 0,7%.

“Em geral, o risco de ocorrer uma recessão no final deste ano na região da América do Norte aumentou consideravelmente”, aponta o relatório.

Estima-se uma leve recuperação do crescimento na América Latina, chegando a 2,3% em 2025, já que a recuperação da economia argentina compensa a desaceleração no Brasil e no México. A região é particularmente suscetível às mudanças de política nos Estados Unidos, especialmente em matéria de comércio e migração.

A maioria dos bancos centrais da região continuará com a flexibilização monetária à medida que a inflação tende a cair, “com a notável exceção do Brasil, que iniciou um ciclo de aperto”.

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A Unctad prevê uma notável desaceleração da economia brasileira em 2025, para 2,2%, já que o aperto monetário inibe o investimento e o gasto de consumo.

Da mesma forma, no México, as persistentes condições financeiras restritivas e os esforços de consolidação fiscal prejudicarão o crescimento, provocando uma desaceleração da expansão para 0,5%.

A aplicação de restrições mais severas às exportações do país resultaria em uma revisão significativa para baixo das perspectivas de crescimento do México para este ano.

Projeta-se que a economia da Argentina se recupere fortemente em 2025, após dois anos consecutivos de contração, registrando uma expansão de 5%.

A recuperação será impulsionada por um aumento dos salários reais e do gasto das famílias, enquanto uma melhora nas condições de financiamento contribuirá para impulsionar o investimento privado. No entanto, o aumento da desigualdade e da informalidade moderará a expansão.

O crescimento na região do sul da Ásia se expandirá 5,6%, já que a diminuição da inflação facilita uma flexibilização monetária na maior parte da região.

No entanto, a volatilidade dos preços dos alimentos continuará sendo um risco e as complexidades em torno da dívida seguirão afetando economias como Bangladesh, Paquistão e Sri Lanka.

Enquanto isso, espera-se que o crescimento na África recupere para 3,6% este ano, embora suas três maiores economias – África do Sul, Nigéria e Egito, que juntas representam quase metade da produção econômica da região – mostrem um panorama misto de recuperação e desafios.

A África está na linha de frente de exposição a crises em cascata. O crescimento moderado em todo o continente é insuficiente para criar empregos de qualidade suficientes, especialmente para seus jovens, destaca o relatório.

As perspectivas não são totalmente sombrias, já que o relatório aponta o crescimento do comércio entre países em desenvolvimento (Sul-Sul) como uma fonte de resiliência. Atualmente, esse comércio representa aproximadamente um terço do comércio mundial e oferece oportunidades para muitos países em desenvolvimento.

Diante das crescentes tensões comerciais e da desaceleração do crescimento, a Unctad pede diálogo e negociação junto com uma maior coordenação de políticas em nível regional e mundial.

“A ação coordenada será essencial para restabelecer a confiança e manter o desenvolvimento no caminho certo”, conclui o relatório.

*Imagem em destaque: Vista do porto de Chattogram, em Bangladesh. Foto: Shutterstock / Unctad

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service

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