Em viagem à França, Lula encontra Macron e é homenageado em meio a pressões de IOF e INSS

AGENDA POLÍTICA
Por Carmen Munari
O presidente Lula viaja à França entre os dias 4 e 9 de junho, onde tem agenda cheia
Nos encontros com o presidente francês, Emmanuel Macron, Lula deve tratar de questões como o multilateralismo, do tarifaço de Trump, da COP 30 e da regulação das redes sociais – temas caros aos dois presidentes.
HOMENAGEM EM PARIS
A Academia Francesa, instituição equivalente à Academia Brasileira de Letras, prepara sessão privada oficial para homenagear o presidente brasileiro Lula em Paris em 5 de junho. A homenagem é um evento raro: desde a fundação da academia pelo Cardeal Richelieu em 1635, apenas 19 chefes de Estado foram homenageados em sessão oficial — ou seja, uma média de quatro por século, de acordo com fontes que participam da elaboração do programa do presidente na capital francesa. Lula é o segundo brasileiro a receber a rara homenagem. O primeiro foi Dom Pedro II em 1872. No mesmo dia, Lula faz visita de Estado à França, segundo as fontes, que afirmam também que as datas ainda estão sendo debatidas e podem mudar. A ideia de convidar Lula para a homenagem foi do secretário Perpétuo da Academia, o escritor Amin Maalouf.
Lula também receberá o título de doutor honoris causa na Universidade de PariA Academia Francesa vai homenagear o presidente Lula. Desde a fundação da academia em 1635, apenas 19 chefes de Estado foram homenageados 8, conhecida pelo nome de Paris 8 de Vincennes Saint-Denis, fundada em 1969 como resposta às transformações sociais e educacionais impulsionadas pelos protestos de Maio de 1968 na França. Participa ainda da programação do Ano do Brasil na França.
Trata-se da primeira visita de Estado de um presidente brasileiro ao país em 13 anos, e da segunda visita do presidente Lula ao país. Um Fórum Econômico Brasil-França também está previsto.
No roteiro da extensa viagem, Lula irá a Mônaco e Nice em eventos sobre a conservação dos oceanos.
*Nesta segunda-feira (02/06), Lula tem audiências internas com ministros e assessores.
CONVITE PARA O G7
A Embaixada do Canadá no Brasil convidou Lula para participar das reuniões do G7 em Kananaskis, nos dias 16 e 17 de junho. Ainda não há confirmação da viagem.
LULA BONITÃO
“Podem ter certeza de uma coisa: se eu estiver bonitão do jeito que estou, apaixonado do jeito que eu estou e motivado do jeito que eu estou, a extrema direita não volta a governar este país nunca mais”, disse Lula em discurso no evento do PSB no domingo (01/05). “Para que eu seja candidato à reeleição, tem algumas coisas na minha vida: primeiro, eu preciso estar 100% de saúde, como eu estou hoje”.
IOF: HADDAD PRESSIONADO
O assunto que não quer calar desde a semana passada: como o ministro Fernando Haddad vai cumprir (como deseja) a meta do orçamento fiscal (ou do arcabouço fiscal) para este ano. Além do corte e contingenciamento totalizando R$ 31,3 bilhões (valor que não poderá ser gasto), o governo contava com os recursos da elevação do IOF, fixada em decreto, para uma série de operações financeiras. Voltou atrás na taxação de pontos da medida que diziam respeito a investimentos de fundos e de pessoas físicas no exterior e manteve para operações internas como compra de moeda estrangeira.
Não foi suficiente. O grande capital e seus aliados no Congresso Nacional já anunciaram que vão derrubar todo o decreto. A ponto de o presidente da Câmara dar “decisão” de dez dias para que o governo apresente justificativas sobre a necessidade de elevar o IOF e apresentar um plano concreto para reduzir os gastos públicos.
Em reunião, o ministro Fernando Haddad informou a Motta e a Alcolumbre que não existe alternativas viáveis ao aumento do IOF no curto prazo. No encontro, o ministro da Fazenda afirmou que não trabalha com a hipótese de revogar a medida e que, sem ela, o funcionamento da máquina pública ficaria em situação delicada. Haddad disse ainda que as alternativas exigidas pelo Congresso só poderiam ser apresentadas a partir de 2026, segundo apuração do UOL.
Haddad surpreendeu na semana passada ao afirmar em discurso público que “servir” ao presidente Lula é sofrer e ser criticado, mas que há dias que recompensam pelo esforço do cargo. “Servir ao governo do presidente Lula é sempre uma coisa interessante. Por mais que você sofra, o tanto que você é criticado, que você é isso, é aquilo, tem o dia de hoje para apagar todo o sofrimento e a gente celebrar a vida de vocês”, completou o ministro em evento do MST.
Haddad já tentou reduzir o valor das emendas parlamentares ou mesmo retirar a totalidade ou parte dos incentivos fiscais a empresas – sem sucesso. Nesta segunda-feira, Haddad acenou com a divulgação de uma solução para terça-feira. “Se houver qualquer calibragem [do IOF], vai ser no âmbito de uma expansão da correção dos desequilíbrios existentes hoje nos tributos que dizem respeito às finanças”, afirmou o ministro, deixando no ar incógnitas –podendo ser redução de subsídios ou de benefícios sociais.
Pressionado pela direita da Câmara dos Deputados, Lula não se intimidou. No domingo, durante a convenção do PSB, pediu mais diálogo com o Congresso e um esforço maior dos partidos de esquerda para eleger parlamentares nas eleições de 2026, durante a participação dele na convenção nacional do PSB, em Brasília. E ainda fez um aceno ao presidente da Câmara, Hugo Motta, que também participou do evento.
O IOF não impacta diretamente a população, mas sim o andar de cima. Mesmo assim, atinge a imagem do governo que anuncia, volta atrás e não consegue convencer os congressistas da necessidade de elevar um imposto para fechar as contas.
O economista e colaborador do Fórum21, Paulo Kliass, trata do tema do IOF em seu artigo de 27 de maio “O Teatro Farsesco do Austericídio” – “O recuo daquele que nem tinha ido”.
PESQUISA DE AVALIAÇÃO DO GOVERNO
Na quarta-feira (04/05), a Quaest divulga nova pesquisa de avaliação do governo Lula em cenário pouco lisonjeiro ao Executivo e amplamente explorado pela mídia conservadora: elevação da Selic, escândalo no INSS e a rejeição ao IOF. A Quaest vai às ruas para ouvir 2.004 pessoas em todo o país.
PROJETO DA DEVASTAÇÃO OU A BOIADA DO SÉCULO
Outra ameaça que paira na Câmara: o projeto que desmonta a política ambiental brasileira e tem o nome cínico de Lei Geral do Licenciamento Ambiental. Aprovado pelo Senado, retornou aos deputados e pode ser votado a qualquer momento –apesar da repercussão negativa na opinião pública e das entidades que defendem a preservação do meio ambiente. Inúmeras organizações e movimentos sociais e ambientais realizaram no domingo manifestações em diversas cidades do país em protesto contra o projeto. Em São Paulo, o ato realizado na Avenida Paulista foi apoiado por 80 organizações.Os manifestantes foram às ruas de oito capitais também para apoiar a ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, alvo de ataques no Senado.
CPI do INSS
O fato mais recente da CPI do INSS: o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Luiz Fux pediu informações à Câmara dos Deputados sobre a instauração de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as fraudes no INSS. O pedido acata uma solicitação do depurado federal Nikolas Ferreira (PL-MG), que apresentou um mandado de segurança na corte na tentativa de obrigar a Casa a investigar os desvios através de descontos de aposentadorias e pensões. O órgão tem dez dias para responder a solicitação do magistrado.
A oposição reuniu o número necessário de assinaturas para abrir a investigação Câmara, que não instalou. Na sequência, deputados e senadores da direita se uniram para uma CPI mista a ser instalada pelo presidente do Senado, Davi Alcolumbre, que programou a abertura para este mês de junho, fixando o dia 17. A ver.
STF: TESTEMUNAS DO GOLPE
A Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) deve encerrar nesta segunda-feira (02/05) a tomada de depoimentos de testemunhas de acusação e defesa do chamado núcleo crucial da trama golpista. Concluída esta etapa, a ação penal contra o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete aliados avança, deixando mais próximos os interrogatórios dos réus.
Bolsonaro é acusado de liderar uma organização criminosa que teria atuado para manter de forma ilegal o ex-presidente no poder mesmo após derrota nas urnas. O grupo responde por cinco crimes, como golpe de estado, organização criminosa armada e tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito. Até agora, a Primeira Turma tomou o depoimento de 51 testemunhas.
Na audiência desta segunda, será ouvida a última testemunha: o senador Rogério Marinho (PL-RN), que foi indicado pela defesa de Bolsonaro e do general Walter Braga Netto.
Na avaliação de investigadores ouvidos pela mídia de forma reservada, os depoimentos dos ex-comandantes do Exército e da Aeronáutica deram mais detalhes de como se desenvolveram as tratativas para a tentativa de golpe. E ganham ainda mais peso porque as testemunhas têm proximidade com os fatos.
AMSUR
O Diálogo AMSUR desta segunda-feira (02/06) às 20h trata do tema “A COP30 e a Amazônia”. Realização: Instituto Sulamericano para a Cooperação e a Gestão Estratégica de Políticas Públicas. Parceria: Fórum 21 e Rede Estação Democracia.
ID: 886 4220 0511
Senha: 662799
Participam: Marilene Corrêa, professora do Programa de Pós-Graduação em Sociedade e Cultura da Amazônia da Universidade Federal do Amazonas, participante da diretoria da SPBC, Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, ex-Secretária de Estado de Ciência e Tecnologia do Amazonas e ex-Reitora da Universidade do Estado do Amazonas; e João Cláudio Arroyo, professor da Universidade da Amazônia (UNAMA) e pró-Reitor de Extensão, onde coordena Projeto em Economia Solidária, sendo também coordenador do Programa de Pós graduação em Gestão do Conhecimento para o Desenvolvimento Socioambiental. Foi Secretário de Planejamento e Gestão da Prefeitura de Belém.
PSB RENOVADO
João Campos (PSB), prefeito do Recife (PE), assumiu, no domingo (01/06), a presidência nacional do Partido Socialista Brasileiro (PSB), eleito por aclamação durante o 16º Congresso Nacional da legenda. E já em seu primeiro discurso defendeu a manutenção da chapa Lula/Alckmin na disputa pela reeleição em 2026.
Como tudo que se refere à família Campos de Pernambuco, a presidência renovada do PSB deve repercutir nos próximos dias. Com 31 anos, João Campos, filho do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, está no segundo mandato como prefeito do Recife. Em outubro passado, foi reeleito em primeiro turno, com 78,11% dos votos. O prefeito da capital pernambucana pode disputar, em 2026, o governo do estado contra a atual governadora, Raquel Lyra (PSD).
BRICS PARLAMENTAR
O Congresso Nacional sedia, de 3 a 5 de junho, da 11ª edição do Fórum Parlamentar do Brics. Até o momento, 15 países já confirmaram presença no evento, que deve reunir cerca de 150 parlamentares. “Composto por 11 países, o Brics atua como fórum de articulação político-diplomática e de cooperação do chamado “sul global”. O encontro do grupo deve marcar um avanço significativo na consolidação da cooperação interparlamentar entre os países membros, reafirmando o compromisso dos Poderes Legislativos com o fortalecimento do diálogo político, o intercâmbio de boas práticas e a construção de uma agenda comum voltada para o desenvolvimento sustentável, a justiça social e a governança multilateral”, informa o site do Senado. Não se deve esperar muito deste evento de perfil burocrático.
Na imagem, o presidente Lula ladeado por Carlos Siqueira (esq) e João Campos na convenção do PSB no domingo / Cláudio Reis

Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.