Independência e seus conflitos

As minorias que habitam as nações do mundo reivindicam autonomia e independência muitas vezes com violência, guerrilhas ou organizando a guerra civil. Só na Espanha existem dois fortes movimentos a dar dores de cabeça ao governo, o Movimento Basco e o Movimento Catalão. São inúmeras, no entanto, as lutas de independência. Na África, Ásia, Europa e até no Brasil há inquietações independentistas, como “O Sul É o Meu País”, o “Movimento Amazônia Independente” (MAI), “Nordeste Independente” (NEI) e o “Movimento pela Independência de São Paulo”.
O que mobiliza esses movimentos brasileiros vai da insatisfação com a falta de autonomia, impostos que consideram altos e alguns fatores específicos como a imigração europeia que sinaliza um vago sentimento de identidade relativa.
O impacto mais forte sobre os movimentos separatistas que vieram depois dela, no caso do Brasil, foi a Revolução Farroupilha de 1835 a 1845, que deixou mais de 3 mil mortos, reivindicava autonomia regional e um regime federalista. Dez anos de luta demonstraram a possibilidade de uma resistência prolongada contra o governo, tornaram-se o mito fundador da identidade gaúcha e, embora não tenha sido bem-sucedida em seus objetivos imediatos, a Guerra dos Farrapos deixou um legado simbólico de resistência contra a centralização do poder que foi apropriado por movimentos separatistas posteriores.
Bascos e Catalães
O movimento separatista do País Basco iniciou-se no século 19, mas veio a ganhar força no século 20. A ditadura franquista desenvolveu uma violenta repressão política que fortaleceu os movimentos separatistas na Espanha. Em 1959 surgiu o ETA (Euskadi Ta Askatasuna), um grupo armado que optou pela ação violenta para alcançar a independência. O País Basco, no norte da Espanha e sul da França, tem uma identidade cultural e linguística próprias. A língua basca (euskara) é o elemento central dessa identidade.
O ETA foi responsável por numerosos ataques que resultaram na morte de mais de 800 pessoas. A violência e a repressão associadas ao conflito polarizaram a sociedade espanhola e também a sociedade basca. Em 2011, o ETA anunciou um cessar-fogo definitivo, e em 2018 declarou sua própria dissolução. Esse processo foi acompanhado por esforços de reconciliação e diálogo político. Atualmente, a maioria dos partidos bascos abdicou da luta armada, mas continua a defender com ênfase sua autonomia dentro da Espanha.
Um dos principais movimentos separatistas da Europa que remonta à Idade Média, a luta pela independência da Catalunha refere-se a uma região com sua própria identidade cultural, linguística e histórica. Durante a ditadura de Franco, a autonomia catalã foi violentamente reprimida. A língua catalã foi proibida. Com a transição para a democracia na década de 1970, a Catalunha recuperou parte de sua autonomia e estabeleceu um governo regional.
Nos últimos anos, o movimento de independência catalã ganhou força. Um referendo não oficial em 2014 e um referendo oficial em 2017 foram considerados ilegais pelo governo espanhol. Muitos líderes do movimento se exilaram ou foram presos e a questão da independência catalã continua sem solução.
Escócia e Irlanda do Norte
O movimento de independência escocês tem raízes históricas que remontam às Guerras de Independência da Escócia nos séculos XIII e XIV. O sentimento nacionalista escocês ganhou força com a descoberta de petróleo no Mar do Norte, o desejo de maior autonomia em relação a Londres e a crescente insatisfação com o governo britânico. Em 2014, foi realizado um referendo sobre a independência, no qual 55% dos votantes optaram por permanecer no Reino Unido e 45% votaram pela independência. O movimento de independência continuou ativo e, nos anos recentes, ganhou novo impulso com o Brexit. Os escoceses não concordaram inteiramente com a saída da União Europeia e pedem um novo referendo popular.
O conflito na Irlanda do Norte, conhecido como “The Troubles”, teve origem político-religiosa e durou décadas. Envolveu republicanos, que desejavam a unificação da Irlanda, e unionistas leais ao Reino Unido.
As raízes de “The Troubles” encontram-se na divisão da Irlanda, em 1921, que criou a República da Irlanda, independente, e a Irlanda do Norte, que permaneceu sob domínio britânico. Os republicanos irlandeses, em sua maioria católicos, defendem a reunificação da ilha, enquanto os unionistas, em sua maioria protestantes, desejam manter os laços com o Reino Unido.
O conflito foi marcado pela violência, com ataques classificados como terroristas de ambos os lados e a intervenção do Exército Britânico. O Acordo de Belfast, assinado em 1998, foi um marco no processo de paz, estabelecendo um governo de partilha de poder entre republicanos e unionistas. Mas o legado do conflito e as tensões entre as comunidades continuam a existir na sociedade norte-irlandesa.
Outros movimentos
Ainda na Europa, a Córsega e a Bretanha querem se libertar da França, e a região de Flandres, na Bélgica, reivindica independência. Na América do Norte, Quebec quer se livrar do Canadá e tanto a Califórnia quanto o Havaí e o Texas prefeririam a independência a ser parte dos Estados Unidos.
Na Ásia, um dos mais notáveis movimentos é o do Curdistão, que abrange partes da Turquia, Iraque, Irã, Armênia e Azerbaijão. Tibete e Xinjiang querem se livrar da China, e a Caxemira encontra-se no fogo cruzado entre Índia, Paquistão e a China.
Na África, lutam pela independência o Camarões do Sul, Cabinda, em Angola, e Somalilândia, na Somália, enquanto na América Latina destacam-se Santa Cruz, na Bolívia, e o já mencionado “O Sul É o Meu País”, no Brasil. Este último defende a independência da região Sul, composta pelos estados do Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Os principais argumentos são a cultura própria, um elevado índice de desenvolvimento humano e a falta de representatividade no governo federal. Embora não possua apoio político, o “Sul É o Meu País” realizou, em 2020, um plebiscito simbólico, que contou com a participação de cerca de 100 mil pessoas. A maioria votou a favor da separação.
*Imagem em destaque: Reprodução/kof.ethz.ch

Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).