Manifestantes conquistam av. Paulista em protesto contra tarifaço de Trump e por taxação de super-ricos

Ato reuniu 15 mil pessoas unidas em defesa da isenção do IR, fim da escala 6×1 e pela soberania nacional
Por Carmen Munari
A repulsa a Donald Trump foi alvo da manifestação realizada na avenida Paulista na quinta-feira à noite. O tarifaço do americano imposto na véspera, taxando em 50% os produtos nacionais, deu um gás ao ato organizado pela Frente Brasil Popular e Povo Sem Medo, pelo Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), centrais sindicais e diretório municipal do PT-SP.
Claro que os motes programados se mantiveram firmes em frente ao Masp. A mobilização veio no rastro do slogan “Taxação BBB” em um movimento nacional pela justiça tributária. As palavras de ordem do protesto incluíram o fim dos privilégios dos super-ricos, a aprovação da proposta do governo Lula para isentar de Imposto de Renda quem recebe salário de até R$ 5 mil e o fim da escala de trabalho 6×1, com redução de jornada sem corte nos salários — bandeiras que enfrentam forte resistência de setores ligados ao grande capital e de deputados e senadores que agem em nome deles. Outro foco é a indignação com a maioria do Congresso Nacional, que está querendo governar no lugar do presidente Lula.
A manifestação popular levou 15 mil pessoas à Paulista, às 19h30, horário de pico, segundo cálculo do grupo de pesquisa “Monitor do debate político” do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), da Universidade de São Paulo (USP), e pela ONG More in Common. “Foi a primeira vez, em período próximo, que uma manifestação da esquerda superou uma manifestação da direita. No último dia 29 de junho, em manifestação pró-Bolsonaro na av. Paulista, calculamos 12,4 mil pessoas”, diz o comunicado do grupo.
A ameaça fascista de Trump não se restringia ao aumento do imposto de importação. Veio junto com a defesa do golpista Bolsonaro, para quem o julgamento do ex-presidente de extrema-direita não passa de “caça às bruxas” –resultado: a temperatura subiu (15 graus celsius) e a imagem do americano foi queimada na avenida.
Os cartazes traziam mensagens como “Congresso inimigo do povo”, “Brasil com ‘s’ de soberano” e pelo fim da escala 6×1.
Entre os discursos no carro de som, um dos mais contundentes, e que recebeu aplausos calorosos foi realizado por Erika Hilton. A deputada federal pelo PSOL por São Paulo fez críticas ao Congresso Nacional, à família Bolsonaro e à desigualdade tributária no país. “Ninguém vai tirar o Brasil da mão do povo brasileiro. Nós estamos ocupando as ruas esta noite porque nós vimos uma pesquisa que mostra que 70% dos deputados são contra a redução da jornada de trabalho. Nós estamos aqui para dizer que nós vamos lutar pelo fim da escala 6×1, vamos lutar pela taxação das grandes fortunas. Nós queremos que os milionários paguem essa conta. Essa conta não é do povo, da classe trabalhadora, das mulheres, da comunidade LGBTQIA+. Essa conta é dos milionários”, afirmou a deputada.
Bolsonaro e seu filho Eduardo Bolsonaro vão ter que prestar contas à justiça brasileira. “O Brasil não será uma ‘República e Bananas’, viu, bananinha” A deputada apresentou petição ao Supremo Tribunal Federal (STF) e uma queixa-crime à Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Ela pede a responsabilização do parlamentar por articular com o governo dos EUA a imposição do tarifaço.
Além de Trump e da família Bolsonaro, o governador de SP, Tarcísio de Frentes, apoiador de ambos, também foi alvo da manifestação e muito xingado durante o ato. A possibilidade de anistia aos golpistas de 2022/23 foi outro mote.
“Aqui estão, hoje, os verdadeiros patriotas do país. Não quem é traidor da pátria, não quem usa símbolo nacional para conspirar contra o país. Hoje, aqui na Paulista, também é uma resposta àqueles que não querem deixar o presidente Lula governar, àqueles que dão chilique quando falam em super-rico pagar a conta”, disse o deputado federal Guilherme Boulos (PSOL-SP), um dos organizadores do evento.

Também participaram do ato outros políticos como Eduardo Suplicy, Rui Falcão, Nabil Bonduki, Ivan Valente e Orlando Silva. Houve manifestação ainda em Brasília, Belo Horizonte, Salvador, Rio de Janeiro, Fortaleza e outras capitais.
Nas imagens, ato na av. Paulista em 10 de julho / Adônis Guerra (foto no alto) e Roberto Parizotti (abaixo)

Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.
