O que está por trás do esperneio das elites diante de Pochmann?

Esse é o confronto que Gramsci chamava de disputa pela hegemonia política e cultural. A questão desse frisson na direita não é porque Porchman seja especialmente perigoso ou porque eles dão muito valor ao IBGE. O governo passado fez gato e sapato do órgão
Querem o governo Lula sem força para avançar para além do horizonte mesquinho das elites brasileiras. E estão fazendo a disputa cultural, ideológica.
Impressionante a pressão que estão fazendo sobre Porchman!
Estão descaradamente tentando inviabilizar sua nomeação para o IBGE com argumentos que significam ignorar e desconstruir seu currículo e sua trajetória. Se espremermos os argumentos, o que fica é basicamente porque Porchman tem lado, é de esquerda e filiado ao PT e crítico ao projeto neoliberal e ao capitalismo.
E ainda se pensam democráticos… E, o que é mais paradoxal, que ideológicos são os outros, a esquerda…
A direita é totalitária e patética. Tentam falar como se fossem donos da democracia e acham que os que lhe são críticos e críticos à ordem econômica e política à qual servem são over, por fora, fora da caixinha, inaceitáveis.
Preferem afundar o país ao lado de um presidente tosco e despreparado, mas de direita e subserviente ao capital, e totalmente submetido ao projeto neoliberal, do que trilhar o caminho democrático de construção do desenvolvimento à partir da disputa, do confronto e da pactuação entre os distintos projetos, disputas e pactuações estas que fazem parte da essência política do regime democrático.
De qualquer democracia.
De passagem, tentaram criar futricas entre a ministra Tebet e o governo Lula.
A verdade é que a crise que o país vive trouxe o debate ideológico, de visão de mundo, a disputa de projetos de nação e o debate cultural para o centro da vida política, sobredeterminando a própria disputa política.
Temos que assumir esse debate e equipar a sociedade culturalmente para entender os desafios que o século XXI está nos exigindo respostas.
Esse é o confronto que Gramsci chamava de disputa pela hegemonia política e cultural.
A questão desse frisson na direita não é porque Porchman seja especialmente perigoso ou porque eles dão muito valor ao IBGE.
O governo passado fez gato e sapato do órgão. Quase não fez o Censo.., foi o TSE quem obrigou porque Censo é tratado no âmbito da ONU.
A direita está com um formão e demais ferramentas de carpinteiro na mão tentando limar e formatar o governo e o próprio presidente Lula.
Querendo dar um grau, definir a fisionomia, a consistência e os limites do governo.
Eles morrem de medo de Lula crescer demais sabem que isso é possível e impor transformações que ultrapassem os limites desejados por eles e que o Brasil democrático socialmente justo e sustentável se
torne insuportável para nossas elites mesquinhas e que só pensam na acumulação e no lucro.
Apoiam Lula até certo ponto, mas precisam ficar ridicularizando as falas do presidente quando estas significam afirmação da nossa soberania e a defesa dos interesses nacionais no plano internacional, quando Lula afirma aspectos da visão de esquerda, defende a justiça social e outras necessidades.
Neste caso, estão tentando inviabilizar um quadro da esquerda e com isso, fincar uma estaca definindo a fronteira onde começa o inaceitável.
Querem o governo sem força para avançar para além do horizonte mesquinho das elites brasileiras.
E estão fazendo a disputa cultural, ideológica.
Nós precisamos nos preparar para fazer essa disputa.
O PT cresceria bastante e o governo se beneficiaria se voltassem a ler o Gramsci e manejassem a ideia de disputa de hegemonia política e cultural. Ainda estamos perdidos em meio a este tiroteio cruzado.
*Imagem em destaque: (Elza Fuíza/Agência Brasil)

Sociólogo e político brasileiro, foi Ministro de Estado da Cultura nos governos Lula e Dilma, atualmente responsável pela Economia Criativa do BNDES.