Queda na vacinação aumenta surtos de doenças no mundo

Queda na vacinação aumenta surtos de doenças no mundo

Por Correspondente da IPS

GENEBRA – Os esforços de imunização em todo o mundo estão ameaçados por crises humanitárias, desinformação, crescimento demográfico e cortes de financiamento, o que favorece novos surtos de doenças, alertaram em comunicado nesta quinta-feira (24) várias agências das Nações Unidas.

“Os surtos de doenças que podem ser prevenidas por vacinas estão aumentando em todo o mundo, colocando vidas em risco e expondo os países a custos maiores no tratamento de doenças e na resposta aos surtos”, afirmou Tedros Adhanom Ghebreyesus, diretor-geral da Organização Mundial da Saúde (OMS).

Tedros lembrou que “as vacinas salvaram mais de 150 milhões de vidas nas últimas cinco décadas” e destacou que “os cortes no financiamento da saúde global colocaram em risco essas conquistas, alcançadas com tanto esforço”.

Surtos de doenças evitáveis por vacinas, como sarampo, meningite e febre amarela aumentam globalmente, e doenças como a difteria, mantidas sob controle por muito tempo ou que praticamente desapareceram em muitos países, correm o risco de ressurgir, diz o relatório.

O comunicado, divulgado no início da Semana Mundial da Imunização, que ocorre de 24 a 30 de abril, foi elaborado pela OMS junto ao Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e a aliança mundial para vacinas Gavi, da qual também participam a Fundação Gates e o Banco Mundial.

Os organismos pedem atenção política urgente e sustentada, além de investimentos para fortalecer os programas de imunização e proteger os importantes avanços conquistados na redução da mortalidade infantil nos últimos 50 anos.

Alertam que o sarampo está ressurgindo de forma especialmente perigosa, pois o número de casos tem aumentado ano após ano desde 2021, em consonância com as reduções na cobertura vacinal ocorridas durante e após a pandemia de covid-19 em muitas comunidades.

Estima-se que os casos de sarampo atingiram 10,3 milhões em 2023, um aumento de 20% em comparação com 2022.

As agências advertem que essa tendência de alta provavelmente continuará em 2024 e 2025, à medida que os surtos se intensificaram em todo o mundo. Nos últimos 12 meses, 138 países reportaram casos de sarampo, e 61 enfrentaram surtos extensos ou disruptivos.

Os casos de meningite na África também aumentaram drasticamente em 2024, e a tendência de alta se manteve em 2025. Apenas no primeiro trimestre deste ano, foram registrados mais de 5.500 casos suspeitos e quase 300 mortes em 22 países.

Isso se soma aos aproximadamente 26.000 casos e quase 1.400 mortes do ano passado em 24 países.

Os casos de febre amarela na região africana também estão aumentando, com 124 casos confirmados reportados em 12 países em 2024.

Isso ocorre após uma drástica diminuição da doença durante a última década, graças às reservas mundiais de vacinas e ao uso da vacina contra a febre amarela nos programas de imunização sistemática.

Na América, foram confirmados surtos de febre amarela desde o início deste ano, com um total de 131 casos em 4 países: Bolívia, Brasil, Colômbia e Peru.

Um levantamento rápido em 108 escritórios da OMS – principalmente em países de baixa e média-baixa renda – mostrou que quase metade desses países enfrenta interrupções nas campanhas de vacinação, na imunização sistemática e no acesso a suprimentos devido à redução do financiamento dos doadores.

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A vigilância de doenças, incluindo as preveníveis por vacinação, também é afetada em mais da metade dos países pesquisados.

Ao mesmo tempo, o número de crianças que não recebem suas vacinas de rotina aumentou nos últimos anos, mesmo enquanto os países se esforçam para recuperar as crianças que não foram vacinadas durante a pandemia.

Em 2023, estima-se que 14,5 milhões de crianças não receberam nenhuma de suas doses de vacinas de rotina, em comparação com 13,9 milhões em 2022 e 12,9 milhões em 2019.

Mais da metade dessas crianças vivem em países em conflito, fragilidade ou instabilidade, onde o acesso aos serviços básicos de saúde costuma ser interrompido.

Catherine Russell, diretora executiva do Unicef, afirmou que “a crise mundial de financiamento está limitando gravemente nossa capacidade de vacinar contra o sarampo mais de 15 milhões de crianças vulneráveis em países frágeis e afetados por conflitos”.

“Os serviços de imunização, a vigilância de doenças e a resposta aos surtos em quase 50 países já estão sendo afetados, com retrocessos semelhantes aos que vimos durante a covid-19. Não podemos nos dar ao luxo de perder terreno na luta contra as doenças evitáveis”, ressaltou Russell.

OMS, Unicef e Gavi afirmam ter ajudado os países a ampliar o acesso às vacinas e fortalecer os sistemas de imunização por meio da atenção primária à saúde, mesmo diante dos crescentes desafios.

A cada ano, destacaram, as vacinas salvam quase 4,2 milhões de vidas contra 14 doenças, e quase metade dessas vidas são salvas na região africana.

Dessa forma, as campanhas de vacinação levaram à eliminação da meningite A no cinturão da meningite da África, enquanto uma nova vacina que protege contra cinco cepas de meningite promete oferecer uma proteção mais ampla, com esforços para ampliar seu uso na resposta e prevenção.

Também foram alcançados avanços na redução de casos e mortes por febre amarela mediante o aumento da cobertura de vacinação sistemática e as reservas de vacinas de emergência.

No entanto, os surtos recentes na África e na América destacam os riscos em áreas onde não haviam sido reportados casos no passado, a baixa cobertura de vacinação sistemática e as deficiências nas campanhas preventivas.

Outro marco é a introdução subnacional de vacinas contra a malária em quase 20 países africanos, estabelecendo as bases para salvar meio milhão de vidas adicionais até 2035, à medida que mais países adotem as vacinas e se acelere a ampliação como parte das ferramentas para combater a malária.

“O aumento dos surtos de doenças altamente infecciosas preocupa todo mundo. A boa notícia é que podemos combatê-los, através da ampliação dos investimentos nas reservas mundiais de vacinas e do uso da vacinação preventiva”, resumiu Sania Nishtar, diretora executiva da Gavi.

*Imagem em destaque: Uma menina recebe uma vacina contra o vírus do papiloma humano em um centro de saúde no estado de Katsina, no norte da Nigéria. Foto: Unicef

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service

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