Sidônio Palmeira, novo chefe da Secom, diz que a comunicação é guardiã da democracia e vê ‘faroeste digital’ na Meta

O publicitário Sidônio Palmeira assumiu nesta terça-feira a Secretaria de Comunicação Social (Secom) do governo Lula. No discurso de posse, reconheceu que a população desconhece as iniciativas do governo, criticou as fake news alardeadas pela extrema-direita e ressaltou o papel da comunicação na democracia.
“Encaro também a missão da comunicação como guardiã da democracia, sobretudo no combate à desinformação”, disse Sidônio a uma plateia lotada no salão nobre do Palácio do Planalto. Ministros e assessores estavam presentes, como Fernando Haddad (Fazenda), Camilo Santana (Educação), Ricardo Lewandowski (Justiça), além de Gleisi Hoffmann, presidente do PT.
“Não serei o porta-voz do governo. Lutarei pelas vozes do governo e a sua voz maior, a do presidente da República”, em tom conciliador com os inúmeros representantes da administração Lula. Sidônio atuou como marqueteiro na campanha vitoriosa de Lula à Presidência da República em 2022.
Ressaltou aquilo que vem sendo alerdado nos dois anos da atual administração – as iniciativas do governo não chegam ao conhecimento da população brasileira. “Temos um presidente que recebeu um país destruído e desmoralizado para governar. Em apenas dois anos, o seu governo arrumou a casa, melhorou os indicadores econômicos, de justiça social e combate à pobreza. Fez renascer ministérios e programas sociais importantes, reduziu a mortalidade infantil e está retirando milhões de brasileiros e brasileiras do mapa da fome. O nosso país voltou a ser respeitado pelo mundo. Mas esse trabalho não está sendo percebido por parte da população. A informação dos serviços não chega na ponta, a população não consegue ver o governo em suas virtudes”, disse.
Criticou as fake news, as mentiras contra o governo e a cultura de ódio das redes sociais disseminadas pela extrema direita, que chamou de “movimento macabro”. “A mentira nos ambientes digitais, fomentada pela extrema direita, cria uma cortina de fumaça da vida real, manipula pessoas inocentes e ameaça a humanidade. Esse movimento aprofunda o negacionismo, a xenofobia e as violências raciais e de gênero. Promove um revisionismo histórico sob regência do charlatanismo político, que promete prosperidade imediata e pavimenta a cultura do ódio, do cancelamento e do individualismo”, afirmou.
As recentes medidas anunciadas pela Meta, que encerrou seu programa de checagem de fatos, para ele “afrontam os direitos fundamentais e a soberania nacional, promovendo um faroeste digital. Buscaremos incentivar os processos regulatórios e garantir que a população tenha acesso às informações” e defendeu o papel da ONU no combate à fake news. “A verdade, por mais lenta que pareça, é o único antídoto contra a velocidade da mentira”.
Paulo Pimenta, em seu discurso de despedida da Secom, disse que se considera “petista raiz” e reforçou a lealdade a Lula. O presidente não discursou na cerimônia.
Íntegra do discurso de Sidônio Palmeira:
Nunca esteve nos meus planos estar aqui. Embora
considere a política e a gestão pública como as únicas
vias para a construção de uma sociedade mais justa, não
sou da política partidária, não tenho, nunca tive, nem
pretendia ter cargo público, mandato ou uma carreira na
política institucional.
O que me traz aqui é a mesma força que me fez contribuir
para as eleições de 2022, as mais importantes da história
do país; a força de estar do lado certo da história.
Também assumo este desafio guiado pelo meu
sentimento de justiça. Temos um presidente que recebeu
um país destruído e desmoralizado para governar. Em
apenas dois anos, o seu governo arrumou a casa,
melhorou os indicadores econômicos, de justiça social e
combate à pobreza. Fez renascer ministérios e programas
sociais importantes, reduziu a mortalidade infantil e está
retirando milhões de brasileiros e brasileiras do mapa da
fome. O nosso país voltou a ser respeitado no mundo.
Mas esse trabalho não está sendo percebido por parte da
população. A informação dos serviços não chega na
ponta, a população não consegue ver o governo em suas
virtudes. A mentira nos ambientes digitais, fomentada pela
extrema direita, cria uma cortina de fumaça da vida real,
manipula pessoas inocentes e ameaça a humanidade.
Esse movimento aprofunda o negacionismo, a xenofobia
e as violências raciais e de gênero. Promove um
revisionismo histórico sob regência do charlatanismo
político, que promete prosperidade imediata e pavimenta
a cultura do ódio, do cancelamento e do individualismo.
Para fazer frente a esse movimento macabro, não basta
apenas chamar um marketeiro, como vocês dizem.
Precisamos ampliar a nossa concepção do papel da
comunicação nesse novo mundo. A comunicação está no
centro dos grandes desafios mundiais e o nosso trabalho
é compreendê-la em sua complexidade e convocar a
todos, uma vez que o desafio não é exclusivo da Secom.
Ao invés de reclamar, teorizar e levar a comunicação para
o divã, vamos fazer parte dela. Comunicação é tornar
comum. Não só compreendida por todos, a comunicação
deve ser compartilhada por todos.
E o nosso novo modelo de sociedade requer uma
comunicação cada vez mais alinhada com as novas
demandas, sobretudo com a prosperidade das famílias. O
trabalho não é mais o mesmo, os sonhos das pessoas
não são iguais e uma comunicação eficaz é capaz de
dialogar com os múltiplos países dentro do nosso país.
Como profissional de marketing, ex-presidente do
sindicato, da ABAP, trago também uma outra visão da
publicidade, como prestadora de serviços, que informa e
contribui para melhorar a vida das pessoas. As mães e
pais precisam saber que chegou vacina no posto. O
garoto que está na escola precisa saber que existe o pé
de meia. A jovem precisa saber que o governo fornece
absorvente para proteger a dignidade dela.
Não serei o porta-voz do governo. Lutarei pelas vozes do
governo e a sua voz maior, a do Presidente da República.
Vejo que o papel da comunicação deve se concentrar em
ser a enzima que liga a política e a gestão, tornando a
política mais integrada com uma gestão mais eficiente.
Encaro o desafio também com um olhar para a
participação da comunicação na elaboração dos
programas e políticas públicas, com base na escuta da
população.
Encaro também a missão da comunicação como guardiã
da democracia, sobretudo no combate à desinformação.
Medidas como as anunciadas recentemente pela Meta
são ruins porque afrontam os direitos fundamentais e a
soberania nacional, promovendo um faroeste digital.
Buscaremos incentivar os processos regulatórios e
garantir que a população tenha acesso às informações.
Defendemos a liberdade de expressão. Lamentamos que
o extremismo esteja desvirtuando seus conceitos para
viabilizar a liberdade de manipulação e agressão.
A defesa da integridade da informação é hoje condição de
sobrevivência das democracias de todo o mundo. Por isso
a relevância de reforçar as ações em diálogo com
organismos internacionais e com outros governos para
promover o combate à desinformação e o discurso de
ódio.
O Governo fará frente aos seus desafios de
comunicação? Sim! Não nos faltará empenho,
criatividade, assim como sei que não falta a esse Governo
feitos importantes. Mas precisamos do envolvimento de
todos e todas.
A ONU reconhece o combate às Fake News como uma
questão de Direitos Humanos. Essa não é apenas uma
questão de governo, é uma questão da nação, é uma
questão do mundo. Seguiremos firmes. Estou aqui porque
nada mais importa nesse momento do que essa missão.
A verdade, por mais lenta que pareça, é o único antídoto
contra a velocidade da mentira.
Muito obrigado.
Na imagem, o presidente Lula e Sidônio Palmeira / Marcelo Camargo/Agência Brasil

Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.