Um pesadelo intermitente

Um pesadelo intermitente

Itália, Hungria, Finlândia, Suécia, Eslováquia e Croácia já caíram nas mãos da extrema direita e outros partidos neofascistas espreitam o governo prontos para atacar. Além desses, a extrema direita tem ganhado força em outros países europeus, como França, Alemanha, Áustria e Países Baixos. “É o futuro da Europa”, disse Viktor Orbán, da Hungria, referindo-se ao sucesso eleitoral do nazifascismo.

Os movimentos totalitários que agitaram o século XX constituem um dos capítulos mais sombrios da história. Caracterizados por um controle absoluto do Estado sobre todos os aspectos da vida social, política e econômica, deixaram uma marca indelével e um legado de sofrimento e destruição. E agora voltaram a ameaçar a Europa.

O totalitarismo que a extrema direita representa é um sistema político em que o Estado procura estabelecer o controle total sobre a vida dos cidadãos. Seus pilares são o culto à personalidade do líder, uma ideologia única, que reprime qualquer dissidência, e o controle dos meios de comunicação.

O militarismo é exaltado, o Estado mantém um forte aparato repressivo, há um culto às armas e a violência é utilizada como instrumento de controle social. Impõe uma ideologia oficial abrangente que visa controlar todos os aspectos da vida: economia, educação, arte, ciência e valores morais dos cidadãos.

Surgido na Itália com Benito Mussolini, o fascismo exalta a nação, o Estado e o líder. Serviu de inspiração ao nazismo de Adolf Hitler, a forma mais radical e violenta do fascismo. Pregava a superioridade da raça ariana e a perseguição aos judeus, culminando no Holocausto.

Tragédias

Guerras mundiais, genocídios, repressão política e crises econômicas são alguns momentos trágicos da humanidade que tiveram em sua origem a ideologia fascista da extrema direita.

A palavra genocídio, que voltou a ser tão usada atualmente, foi criada em 1944 pelo advogado judeu polonês Raphael Lemkin, combinando a palavra grega “genos”, que significa raça ou grupo, com a raiz latina “cide”, que significa matar. Ele buscava uma palavra que pudesse descrever as políticas nazistas de assassinato sistemático que incluiu a destruição dos judeus europeus. Winston Churchill, três anos antes, havia declarado que o mundo estava a testemunhar o que ele definiu como “um crime sem nome”. Lemkin lhe deu o nome.

O momento histórico que o nazifascismo protagonizou representa um dos períodos mais sombrios da história da humanidade e não se restringe ao passado. Suas ideias estão presentes e, como os vampiros dos contos de terror, despertam nas trevas do momento político.

Em 2024, existem 58 países classificados como tendo regimes de extrema direita a caminhar em direção ao nazifascismo. Todos eles têm restrições à liberdade de imprensa, perseguição política e rigoroso controle social. A Coreia do Norte mantém um controle rígido sobre todos os aspectos da vida dos cidadãos, com forte culto à personalidade e restrições severas às liberdades individuais. No Turquemenistão, há repressão generalizada e censura enquanto a Eritreia convive com forte repressão política e violações dos direitos humanos. A Arábia Saudita apresenta severas restrições às liberdades civis e direitos políticos e na Bielorrússia, governada por Aleksandr Lukashenko, há forte repressão a qualquer oposição política. No Irã, um país de cultura milenar, o regime dos aiatolás exerce forte repressão aos movimentos que possam representar algum sonho de liberdade. A viver neste mesmo clima encontram-se também China e Rússia. E nos EUA Donald Trump representa este mesmo tipo de pensamento.

Veja Também:  Musk está errado. A empatia não é uma fraqueza

A crise econômica poderá provocar o fortalecimento e a instalação de novos regimes autoritários, principalmente nos países em desenvolvimento e com democracias frágeis. Asseguram os observadores que em países com renda per capita abaixo de US$ 1.000, a probabilidade de uma democracia resistir é muito baixa.

As crises

As crises econômicas geram insatisfação e desconfiança na população, criando um terreno fértil para líderes autoritários que oferecem soluções simplistas para problemas complexos. Os líderes autoritários apresentam-se como solucionadores de problemas urgentes e prometem rápidas melhorias econômicas. A pobreza, por seu lado, vai destruindo a confiança nas instituições democráticas.

A crise econômica costuma criar uma crise política que, por sua vez, aprofunda a crise econômica, criando um ciclo vicioso a favorecer regimes autoritários. E nos países pobres as pessoas sofrem o medo de se opor aos regimes autoritários pelo receio de represálias.

Embora crises econômicas facilitem a ascensão de regimes autoritários, o crescimento econômico por si só não garante a transição para a democracia. Países como Taiwan, Espanha e Coreia do Sul ficaram ricos sob ditaduras e não transitaram automaticamente para a democracia.

Os partidos de extrema direita nazifascistas capitalizam o sentimento antiestablishment, aproveitando o sentimento da insatisfação popular com as elites políticas e econômicas tradicionais. Apresentam-se como outsiders em luta contra o “sistema”. Oferecem respostas aparentemente fáceis e diretas para uma população frustrada com a situação econômica.

O discurso populista diz falar em nome do povo contra as “elites corruptas”, e promete uma sociedade melhor e mais justa. Explora a desconfiança nas instituições muitas vezes agravada por escândalos de corrupção. O uso das novas mídias e das redes sociais ampliam o discurso, espalha notícias falsas e mantém constante atenção do público-alvo. Canalizam protestos populares que possam levar à polarização. Exploram o medo econômico e o temor do desemprego, da precarização do trabalho e o aumento da pobreza. Preparam o assalto ao poder pelo controle e manipulação das massas.

*Imagem em destaque: Elke Wetzig via Wikimedia Commons

Tagged: , , , , , ,