Brasil inicia três semanas de eventos com foco na cúpula climática COP30

O Brasil inicia nesta segunda-feira três semanas de eventos relacionados à cúpula climática COP30, com a esperança de mostrar ao mundo o combate ao aquecimento global, com a dificuldade em um ano marcado por turbulências econômicas e pelo cancelamento dos compromissos dos Estados Unidos.
Líderes empresariais reunidos em São Paulo estão pressionando por políticas mais fortes para financiar a transição energética, com uma carta aberta enviada nesta segunda-feira pedindo aos governos incentivos “urgentes” para adotar energia renovável em vez de combustíveis fósseis.
“É um reconhecimento por parte dos grupos empresariais da importância do multilateralismo e da importância de aumentar a ambição”, afirmou a CEO Maria Mendiluce, da We Mean Business Coalition, que coordenou a carta de 35 grupos representando 100 mil empresas.
Na segunda-feira, no Rio de Janeiro, prefeitos, governadores e outros líderes participarão de uma cúpula de líderes locais, que corre o risco de ser ofuscada pelos protestos contra a sangrenta repressão ao crime na cidade uma semana antes.
Separadamente, o príncipe William da Grã-Bretanha presidirá uma cerimônia no Rio para seu prêmio anual Earthshot, que reconhece as contribuições ao ambientalismo ao longo do último ano.
Ao participar da cúpula anual da COP, os líderes geralmente têm como objetivo confirmar o compromisso de seus países e responsabilizar uns aos outros. Mas a COP30 provavelmente terá a menor participação de líderes mundiais desde 2019, quando cerca de 50 chefes de Estado foram a Madri para a COP25.
Para a cúpula de líderes que acontecerá nos dias 6 e 7 de novembro na cidade amazônica de Belém, “menos de 60” líderes haviam confirmado presença à presidência brasileira até sábado. Mais de 80 participaram da COP29 do ano passado em Baku, após mais de 100 nas três cúpulas anteriores em Dubai, Sharm el-Sheikh, no Egito, e Glasgow. (Reuters)
AMAZÔNIA NO CENTRO DAS DISCUSSÕES
Quando o presidente Lula escolheu Belém, uma cidade costeira próxima à foz do rio Amazonas, para sediar a conferência climática da ONU COP30, ele o fez para garantir que a maior floresta tropical do mundo estivesse, simbolicamente e literalmente, no centro das discussões. O foco não poderia ser mais oportuno: o mundo perdeu uma média de quase 11 milhões de hectares — uma área do tamanho da Islândia — de floresta por ano na última década, de acordo com a recente Avaliação Global dos Recursos Florestais da ONU, enquanto outro relatório recente descobriu que o mundo está muito aquém de cumprir a promessa assinada por mais de 100 países na COP26 em 2021 de deter ou reverter o desmatamento até 2030. A situação se tornou tão grave na Amazônia que partes da floresta tropical se tornaram uma fonte líquida de carbono, em vez de um sumidouro de carbono nos últimos anos, devido ao volume de carbono produzido pelo desmatamento, pela pecuária e pela agricultura, que supera o carbono absorvido pelas árvores. (Independent)
LULA: OBRAS EM BELÉM
O presidente Lula participou no sábado do evento de entrega das obras de ampliação do Porto de Belém, onde atracarão os hotéis flutuantes que hospedarão as delegações da COP30. As obras do porto de Outeiro, avaliadas em aproximadamente 233 milhões de reais (43 milhões de dólares), começaram em meados de abril deste ano e incluíram a ampliação do cais, de 261 metros para 716 metros, com capacidade para movimentar 80 mil toneladas, o dobro da capacidade anterior. Os hotéis flutuantes no porto — localizado a aproximadamente vinte quilômetros do centro de convenções Parque da Cidade, o espaço que sediará a cúpula — foram uma das respostas do governo nacional à limitada capacidade hoteleira da cidade amazônica de Belém, estimada em cerca de vinte mil leitos. “Aos poucos, estamos mostrando ao mundo que o Brasil não é apenas o sul do país. Não é apenas o Rio de Janeiro, que é muito bonito, ou São Paulo, que é muito industrializada. É importante que as pessoas conheçam outras regiões do Brasil”, disse Lula em um vídeo divulgado em suas redes sociais.
Apesar dos problemas com hospedagem, que geraram reclamações de muitos países, o Brasil insistiu em realizar a COP30 nesta cidade amazônica e, até o momento, 170 delegações nacionais já se inscreveram para participar, excedendo o quorum necessário para a tomada de decisões. (Página12)
GLO
O presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, assinou hoje um decreto que autoriza o uso das Forças Armadas em operações de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) durante a COP30. Estabelecida de 2 a 23 de novembro, a medida responde a um pedido do governador do estado do Pará, Helder Barbalho, e segue o procedimento adotado nas cúpulas do G20, grupo das 19 principais economias do mundo e das uniões Europeia e Africana, e do Brics, bloco originalmente formado por Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul. (Prensa Latina)
PRÍNCIPE NO RIO
“Príncipe William deixa para trás o escândalo envolvendo Andrew para viajar ao Brasil”, diz o título da Reuters. O príncipe William viajou ao Brasil esta semana para a cerimônia de entrega de seu prêmio ambiental multimilionário, na esperança de desviar a atenção do escândalo envolvendo seu tio Andrew e voltar o foco para as causas defendidas pela realeza. William visitará alguns dos pontos turísticos mais famosos do Rio de Janeiro nesta que será a primeira viagem do herdeiro britânico à América Latina. Durante sua viagem de três dias, William buscará se concentrar em sua principal causa filantrópica ambiental, que visa encontrar inovações para combater as mudanças climáticas e premia cinco vencedores com 1 milhão de libras (US$ 1,3 milhão) cada um para impulsionar seus projetos. Sua esposa Kate, que está em remissão após tratamento contra o câncer, não o acompanhará. (Reuters)
$ CHINA
Apesar das repetidas promessas de apoio, a China ainda não se comprometeu com uma contribuição financeira específica para o fundo de investimento na proteção das florestas tropicais com o qual o presidente Lula está contando, enquanto a COP30 começa esta semana em Belém, no norte do Brasil. O Fundo Florestas Tropicais para Sempre (TFFF) é um mecanismo multilateral liderado pelo Brasil, projetado para recompensar os países tropicais por manterem as florestas em pé, em vez de desmatá-las. Operando como um fundo permanente, ele combinará investimentos soberanos e privados para gerar retornos que financiem pagamentos anuais aos países florestais, transformando a conservação em uma classe de ativos, em vez de uma causa beneficente. (South China Morning Post)
MASSACRE NO RIO
A Polícia do Rio de Janeiro afirmou que 95% das pessoas mortas durante a Operação Contenção realizada pela polícia carioca “têm ligações” com o Comando Vermelho (CV). A operação, iniciada na madrugada de terça-feira, 28 de outubro, deixou entre 121 e 132 mortos, já que, até o momento, o número de mortos não está claro. A força divulgou um relatório com dados sobre 115 dos 117 civis mortos oficialmente reconhecidos, sem contar os quatro agentes que morreram durante a ação. Segundo eles, dos 115 mortos que foram identificados, “mais de 95%” tinham uma “ligação comprovada” com a organização criminosa, enquanto as outras duas provas periciais deram resultados “inconclusivos”. (Ámbito)
O silêncio da madrugada da última terça-feira foi quebrado por rajadas de tiros e explosões. Entre barricadas, carros em chamas e ruas tomadas pela fumaça, grupos de policiais desciam pela mata carregando colegas feridos, enquanto câmeras corporais registravam cada segundo de tensão. Ao mesmo tempo, drones sobrevoavam os complexos Alemao e Penha, em um cenário que o próprio governo do Rio de Janeiro definiu como “de guerra”: narcoterroristas armados com fuzis de uso militar enfrentando 2.500 agentes em uma operação que acabou sendo a mais letal do estado, com mais de 120 mortos. (La Nación)
GARIMPO
A polícia brasileira, com o apoio da Interpol, destruiu centenas de dragas utilizadas na mineração ilegal de ouro ao longo do rio Madeira, em uma das maiores operações coordenadas já realizadas contra redes criminosas que atuam na Bacia Amazônica. A agência policial internacional informou que os policiais desmantelaram 277 jangadas flutuantes de mineração, avaliadas em US$ 6,8 milhões. Levando em consideração o ouro perdido, os equipamentos e os danos ambientais, as autoridades estimaram o prejuízo financeiro total para os grupos do crime organizado em cerca de US$ 193 milhões. O rio Madeira, um dos maiores afluentes do Amazonas, nasce nos Andes, atravessa a Bolívia e chega ao norte do Brasil antes de se juntar ao rio Amazonas — uma área há muito tempo assolada pela mineração ilegal e crimes ambientais. (Independent)

Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.
