Crise ambiental na AL reflete um cenário de devastação e violência
O Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) registrou mais de 159 mil focos de incêndio no Brasil desde janeiro deste ano, um aumento de 100% em relação ao mesmo período de 2023. O país sofre com uma seca histórica, agravada pela ação humana, que facilita a propagação dos incêndios, muitos deles de origem criminosa e ligados à expansão agrícola. São Paulo, que na segunda-feira (9) se tornou a cidade mais poluída do mundo, vive dias com níveis críticos de qualidade do ar devido à fumaça dos incêndios. A água do rio Pinheiros, um dos mais poluídos da região, tornou-se verde devido à proliferação de algas, causada pela seca que reduziu significativamente o fluxo dos seus afluentes.
O fogo, que começou em maio, tomou grandes proporções nas últimas semanas, principalmente na Amazônia e no Pantanal. Em menos de três dias, mais de 10 mil hectares foram consumidos, e quase 5 milhões de quilômetros quadrados – o correspondente à quase 60% do território brasileiro – foram afetados pela fumaça.
Para evitar a propagação dos incêndios, equipes de bombeiros federais e estaduais atuam nas diversas áreas afetadas. Desde o último domingo (8), dois aviões foram adicionados aos esforços para controlar a situação, que se agravou devido às altas temperaturas e à baixa umidade. De acordo com as autoridades, muitos desses incêndios foram causados por ações humanas.
A combinação entre a seca prolongada e a falta de chuvas desde 2023, que tornou impossível a recuperação de rios e florestas, criou um cenário de degradação contínua. As capitais do estado de São Paulo e Rio de Janeiro estão entre as mais atingidas pela poluição, com cenários de “chuva negra”, fenômeno em que partículas tóxicas de cinzas e fuligem se misturam às frentes frias, causando precipitações escuras e altamente contaminadas. A situação é particularmente grave em Rondônia, onde a seca é considerada a mais intensa dos últimos 75 anos.
Os incêndios florestais na América do Sul estão causando grandes danos ao meio ambiente, à saúde pública e à economia. O avanço das chamas e a seca extrema são agravados pelo contexto das mudanças climáticas, criando desafios cada vez maiores para as autoridades e a população.
Na Bolívia, mais de 4 milhões de hectares foram destruídos, especialmente em Santa Cruz e Beni, áreas próximas ao Brasil. A fumaça e os ventos fortes têm espalhado o fogo, forçando evacuações e destruindo áreas protegidas e rebanhos. O governo boliviano declarou emergência nacional e mobilizou 5 mil bombeiros voluntários com ajuda internacional.
Na Colômbia, os incêndios afetam dez departamentos, incluindo Bogotá. Cerca de mil hectares foram queimados e várias áreas estão em alerta vermelho, com o governo declarando calamidade pública em alguns locais. As altas temperaturas e a seca dificultam o controle do fogo.
No Paraguai, a situação também é preocupante. O fogo proveniente da Bolívia ameaça o departamento de Alto Paraguai, na região do Chaco, já tendo destruído 84 mil hectares de florestas nativas. As autoridades locais estão em estado de alerta enquanto tentam conter o avanço das chamas.
Uruguai e Argentina também enfrentam a chegada da fumaça densa vinda dos incêndios no Brasil, Bolívia e Paraguai, com relatos de aumento nos problemas respiratórios em várias regiões. As autoridades locais monitoram de perto a qualidade do ar e emitem alertas para a população sobre os riscos de exposição prolongada (La Nación, ElDiarioAR, Prensa Latina, Associated Press).
A situação ganha uma nova dimensão de urgência com as informações do relatório da ONG Global Witness*, que aponta a América Latina como a região mais perigosa do mundo para aqueles que lutam pela proteção dos ecossistemas contra a mineração e o desmatamento. Em 2023, foram registrados pelo menos 196 assassinatos de defensores ambientais na região. Entre as vítimas, 43% eram membros de comunidades indígenas e quase 90% eram homens.
O relatório revela que a mineração foi o principal fator por trás desses homicídios, com 25 assassinatos diretamente relacionados à indústria. Laura Furones, principal autora do estudo, ressaltou que a violência contra defensores ambientais cresce à medida que a crise climática se intensifica. A dificuldade em identificar os responsáveis e a impunidade são desafios persistentes que contribuem para a alta taxa de mortes.
Na Colômbia, que tem uma das maiores taxas de homicídios de defensores ambientais, a violência permanece intensa, especialmente no sudoeste do país, onde as comunidades sofrem com o narcotráfico e o cultivo de coca. Apesar das promessas do presidente Gustavo Petro de enfrentar a violência, os resultados ainda são insuficientes para resolver a crise.
No Brasil, os homicídios de defensores ambientais diminuíram de 34 para 25 em comparação com o ano anterior, com mais da metade das vítimas sendo indígenas. As mortes chegaram a um pico durante o governo de Jair Bolsonaro. Na Ásia, as Filipinas, a Índia e a Indonésia foram os países mais letais, com 17, cinco e três assassinatos, respectivamente.
Além dos homicídios, o relatório destaca a prevalência de desaparecimentos e sequestros de defensores ambientais e a crescente criminalização de ativistas em todo o mundo. Nonhle Mbuthuma, vencedora do Prêmio Ambiental Goldman da África do Sul, afirmou que aqueles que revelam os impactos devastadores das indústrias extrativas enfrentam violência e intimidação, sendo os povos indígenas especialmente visados.
A Global Witness solicita que a Colômbia priorize a proteção dos defensores ambientais na Cúpula de Biodiversidade Cop16, que ocorrerá em Cali, em outubro (Guardian).
DO BRASIL PARA PORTUGAL
O Semear Digital, programa da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) criado para evitar o êxodo rural e capacitar agricultores com tecnologia digital, está sendo expandido para Portugal. A iniciativa envolve a Associação Mobilizar com Valores (MCV), o Instituto de Engenharia de Sistemas e Computadores, Tecnologia e Ciência (INESC-TEC) e a Casa Escola Agrícola Campo Verde (CEACV). O objetivo é apoiar pequenos agricultores na transição para a agricultura digital, ajudando-os a competir no mercado e garantir sustentabilidade. O programa inclui o uso de inteligência artificial, automação e monitoramento agrícola, com benefícios para a economia e o meio ambiente (Público).
O 1º ROUND
Considerado crucial para a eleição nos EUA, com o pleito se aproximando e cerca de 8% dos eleitores ainda indecisos, o primeiro debate presidencial entre a democrata Kamala Harris e o republicano Donald Trump acontece nesta terça-feira (10), às 21 horas (20h, no horário de Brasília), no National Constitution Center, na Filadélfia. Trata-se do primeiro encontro entre os candidatos desde que Kamala assumiu a candidatura democrata no lugar de Joe Biden.
Tendo a economia como foco principal, os candidatos têm a missão apresentar propostas convincentes para atrair o eleitorado indeciso, em um momento em que as pesquisas apontam para um empate técnico, com pequenas variações a depender do instituto. Espera-se que a audiência do debate supere a do discurso de aceitação de Harris na convenção democrata, que contou com cerca de 30 milhões de espectadores (El País).
*A Global Witness investiga como a exploração de recursos naturais contribui para conflitos, pobreza, corrupção e abusos de direitos humanos.
**Imagem em destaque: Divulgação/Corpo de Bombeiros RJ