A falência dos sociais democratas
Eles têm sido sempre uma alternativa de poder porque sensibilizam o eleitor que busca o equilíbrio no panorama político de cada país. Mas na maioria das vezes sua prática é a de somar forças à direita e, dessa forma, contribuir para reforçar a ação reacionária do populismo de extrema direita.
Com o crescimento da extrema direita na Europa, a recente vitória neonazifascista na Suécia e na Itália, ficou no ar a questão do papel que deveria ser desempenhado pelos sociais democratas, autodenominados o centro do espectro político.
Eles surgiram como alternativa aos partidos de esquerda, principalmente para fazer frente ao movimento comunista que liderava a causa operária e significava uma poderosa força depois da Segunda Guerra. A ponto de Stalin ter declarado que a social-democracia é a pata esquerda do fascismo. Desde que se organizaram em fins do século XIX nos países da Europa, os sociais-democratas têm sofrido altos e baixos e, nos últimos anos, experimentado derrotas expressivas enquanto fornecem eleitores para o populismo conservador.
Apresentam-se como uma força de centro ou de centro esquerda e procuram ser o fiel da balança entre os radicalismos políticos. Às vezes torna-se difícil identifica-los à primeira vista quando eles se denominam socialistas ou trabalhistas, principalmente. Têm sido sempre uma alternativa de poder por contar com o eleitor que busca o equilíbrio no panorama político de cada país. Mas na maioria das vezes sua prática é a de somar forças à direita e, dessa forma, contribuir para reforçar a ação reacionária da extrema direita.
É neles, quer se situem no centro, centro-esquerda ou centro-direita, que se abriga a maioria silenciosa. Fiéis às suas origens históricas, têm representado uma comporta de contenção aos movimentos de esquerda e apresentam a tendência de apoiar prioritariamente candidatos conservadores.
França e Alemanha
Na França, abrigam-se na sigla do Partido Socialista que, sob a liderança de François Miterrand, conheceu nos anos 1980/1990 os seus melhores momentos no passado recente. Em 2012 teve nova vitória com François Hollande mas, a partir daí, começou sua decadência em direção ao ocaso. Em 2017 Hollande desistiu de concorrer a um segundo mandato. O socialista Benoît Hamond teve pouco mais de 6 por cento dos votos e ficou em quinto lugar entre os candidatos numas eleições que conheceram o crescimento da extrema direita comandada por Marine Le Pen. Atualmente está ocupando um exíguo espaço entre o A República em Marcha, do presidente Emmanuel Macron e a extrema direita representada pelo Reunião Nacional de Le Pen.
O PS francês tem tradição de alinhamento à esquerda. Seu congênere alemão SPD-Partido Social-Democrata da Alemanha tem uma história pendular. É um dos partidos mais antigos do país, sofreu dura perseguição do nazismo e foi obrigado a fazer uma fusão com o partido comunista durante o controle soviético. Historicamente o seu maior rival é o CDU, os democratas-cristãos que conduziram os mandatos de Angela Merkel. Embora seja parte da coalizão que governa a Alemanha, o SPD está em crise desde o seu fracasso nas eleições para o Parlamento Europeu.
O SPD venceu as últimas eleições, confirmando as previsões e as pesquisas, levando ao poder Olaf Scholz como o Chanceler que substituiu Angela Merkel.
Suécia e Áustria
Na Suécia foram bem sucedidos nas eleições desde os primeiros anos do Século 20 até a recente derrota para o conservadorismo da direita. Depois da Segunda Guerra Mundial criaram no país um sistema de bem estar social tido como modelo, o que lhes garantiu força junto aos eleitores. A partir dos anos 1990, este sistema passou a sofrer cortes sob alegação de que ficara caro demais. Os sociais-democratas começaram a perder votos para os populistas de direita que fazem oposição à política migratória liberal do país e que acabaram por conquistar o poder nas mais recentes eleições. No país de Greta Thunberg, os verdes também têm perdido apoio para a extrema direita do SD-Democratas Suecos.
O Partido Social-Democrata da Áustria (SPÖ) conheceu grandes sucessos eleitorais até os anos 1990 mas hoje se vê acossado pelos populistas de direita do Partido da Liberdade (FPÖ). Sua história política é marcada pelas coalizões com as forças conservadoras, embora nem sempre em maioria. Esse comportamento faz os sociais democratas austríacos perguntarem-se sobre a força da sua imagem, se ela não estaria diluída diante do eleitorado por causa de tantas coalizões que podem levar o eleitor a pensar no SPÖ como um simples partido caudatário de outros atores políticos.
Reino Unido, Espanha e Portugal
No Reino Unido o tradicional Partido Trabalhista foi renovado nos anos 1990 por Tony Blair mas sua participação na invasão do Iraque sob a falsa alegação da existência de armas de destruição em massa provocou forte perda de prestígio. Já há muitos anos na oposição, os trabalhistas são hoje liderados por Jeremy Corbyn, que defende maior presença do estado, mais impostos para os ricos e a saída do Reino Unido da OTAN. O partido tem experimentado crescimento no eleitorado mais jovem. Depois do errático governo de Boris Johnson, assumiu Liz Truss, líder do Partido Conservador e que pretende espelhar-se em
Margareth Tatcher, de triste memória.
Na Espanha o PSOE venceu as eleições com Pedro Sanchez, com posterior dificuldade para conseguir aprovação do parlamento, ao contrário dos socialistas de Portugal que venceram com alguma folga reelegendo Antônio Costa ao cargo de Primeiro Ministro conseguindo a maioria absoluta que desejavam.
Junto com os democratas-cristãos, os sociais-democratas formam o PPE-Partido Popular Europeu, com 265 membros e posições de centro-direita. É o maior bloco político que atua no Parlamento Europeu.
Ocupam atualmente a presidência do Conselho Europeu e da Comissão Europeia. A plataforma política que define a ideologia do PPE ressalta valores conservadores como respeito à tradição, economia social de mercado e promoção da família. Mas defende também a liberdade como direito humano fundamental, melhoria da educação e da saúde e a integração dos imigrantes.
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).