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Porque a extrema-direita cresce na Europa

Porque a extrema-direita cresce na Europa

A crise econômica de 2008 criou um ambiente propício ao surgimento de movimentos e partidos que prometiam soluções simples e autoritárias para problemas complexos, culpando grupos específicos da sociedade ou imigrantes.

Por CELSO JAPIASSU

O crescimento da extrema-direita na Europa tem aumentado desde a crise econômica de 2008 e a crise dos refugiados em 2015. A insatisfação da população levou ao aumento do apoio a partidos e movimentos que defendem soluções nacionalistas, anti-imigrantes e protecionistas da economia. Esses partidos e movimentos, como a Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Irmãos da Itália, têm sido capazes de se adaptar às mudanças estruturais do pós-guerra e têm aumentado significativamente sua representação em eleições nacionais e europeias, como acaba de acontecer em 9 de junho nas eleições para o Parlamento Europeu.

 A vitória do Brexit e a eleição de Donald Trump também contribuíram para o crescimento da extrema-direita, pois foram vistos como uma vitória sobre o “comunismo” e um reforço do nacionalismo racial. A extrema-direita na Europa é caracterizada por uma visão de mundo baseada no que os estudiosos chamam de organicismo, rejeitando o universalismo em favor da autofilia e da alterofobia. É uma visão defendida por partidos que se apresentam como uma elite natural, sã e alternativa, com a missão redentora de salvar a sociedade da sua prometida desgraça. Essa visão é também marcada pela idealização de uma “comunidade redentora” e uma rejeição às instituições e valores da ordem geopolítica global.

A crise

A crise econômica de 2008 levou a uma recessão generalizada, aumento do desemprego e redução nos padrões de vida, provocando insatisfação e frustração. Criou um ambiente propício para o surgimento de movimentos e partidos que prometiam soluções simples e autoritárias para problemas complexos, culpando grupos específicos da sociedade ou imigrantes.

A crise também contribuiu para o aumento da desconfiança na classe política e nos governos, levando muitos a buscar alternativas que prometiam mudanças radicais. Isso permitiu que partidos de extrema-direita, como o Alternativa para a Alemanha (AfD) e o Irmãos da Itália, crescessem em popularidade e influência, especialmente entre os jovens e os desempregados.

Além disso, a crise econômica também levou a uma reação nacionalista e protecionista, com muitos países buscando proteger suas economias e culturas de supostos perigos externos, como a imigração. Essa reação nacionalista foi importante para o crescimento da extrema-direita, pois permitiu que partidos e movimentos anti-imigrantes e eurocéticos ganhassem apoio popular.

A crise econômica de 2008 foi, em resumo, um fator crucial para o crescimento da extrema-direita ao criar um ambiente de insatisfação e frustração que permitiu que partidos e movimentos autoritários e nacionalistas ganhassem apoio popular.

Europa e EUA

As principais diferenças entre a extrema-direita na Europa e nos EUA:

  1. Ideologia: A extrema-direita na Europa é caracterizada por uma visão nacionalista, eurocética e anti-imigrante, enquanto a extrema-direita nos EUA é mais frequentemente associada a uma visão conservadora e religiosa.
  2. Estrutura Partidária: A extrema-direita na Europa é mais fragmentada, com partidos como Alternativa para a Alemanha (AfD), Irmãos da Itália eo espanhol Vox, que são mais próximos da visão nacionalista e eurocética. Já nos EUA, a extrema-direita é representada por movimentos e indivíduos que se identificam com a ideologia conservadora e religiosa, como o Tea Party e Donald Trump.
  3. Política Externa: A extrema-direita na Europa é mais crítica à União Europeia e às políticas de integração, enquanto a extrema-direita nos EUA é mais crítica às políticas internacionais e ao papel dos EUA no mundo, especialmente em relação à China e à Rússia.
  4. Estratégias Eleitorais: A extrema-direita na Europa tem se adaptado às mudanças estruturais do pós-guerra e tem aumentado significativamente sua representação em eleições nacionais e europeias. Já nos EUA, a extrema-direita tem se concentrado em movimentos e indivíduos que se identificam com a ideologia conservadora e religiosa, e que frequentemente se opõem às políticas liberais e progressistas.
  5. Influência: A extrema-direita na Europa tem tido um impacto significativo na política do continente, especialmente com a vitória do Brexit e a eleição de líderes eurocéticos em alguns países. Já nos EUA, a extrema-direita tem tido um impacto mais limitado, embora tenha influenciado a política nacional e internacional.
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A extrema-direita na Europa propõe algumas soluções para a crise econômica, a maioria delas simplista como nacionalismo econômico e protecionismo e não abordam as causas estruturais do problema. Partidos de extrema-direita defendem medidas protecionistas para a economia nacional da concorrência externa, como altos impostos sobre importações e restrições à imigração. Eles apregoam que isso protegerá empregos e salários dos cidadãos nativos.

Muitos partidos de extrema-direita culpam os imigrantes pela escassez de empregos e recursos, e prometem reduzir drasticamente a imigração, afirmando que isso vai garantir mais empregos e recursos.

Os partidos eurocéticos de extrema-direita culpam as políticas da UE pela crise econômica e propõem o enfraquecimento ou saída do bloco. Isso permitiria que os países tivessem mais controle sobre suas políticas econômicas. Alguns desses partidos defendem medidas de austeridade, como cortes em gastos públicos e programas sociais. Dizem que isso reduzirá a dívida pública e permitirá impostos mais baixos.

Essas soluções simplistas não abordam as causas mais profundas da crise econômica, como a desigualdade, a financeirização da economia e a mudança tecnológica. Além disso, medidas protecionistas e de austeridade podem piorar a situação econômica. A extrema-direita culpa grupos vulneráveis pela crise, mas não propõe soluções construtivas.


Foto em destaque: Lideranças do partido “Irmãos da Itália”, Giorgia Meloni e Guido Crosetto (Foto: José Antonio/Wikipedia). E as do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), Konrad Adam, Frauke Petry e Bernd Lucke (Foto: Mathesar/Wikipedia).

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