Imagem 1

O G7 deve aos pobres 13 bilhões de dólares e enquanto isso…

O G7 deve aos pobres 13 bilhões de dólares e enquanto isso…

Os países pobres enfrentam US$ 13 trilhões devidos pelo Grupo dos Sete (G7) de seus compromissos de ajuda e fundos climáticos, enquanto estão presos a obrigações de dívida com grandes credores. O resultado é falta de renda para financiar saúde, educação, paridade de gênero, proteção social e choques climáticos. Imagem: Jeffrey Moyo/IPS

Por BAHER KAMAL

ROMA – Dois fatos chocantes acabam de ser revelados: os países do G7 devem aos países de baixa e média renda US$ 13,3 trilhões em ajuda não paga e fundos de ação climática, e em um momento em que um bilhão de pessoas correm o risco de cólera, justamente por causa da espantosa redução e do até não pagamento dessa ajuda prometida.

Enquanto isso, o Grupo dos Sete (G7), formado pelas maiores potências industriais e representantes de apenas 10% da população mundial, continua a exigir do Sul Global o pagamento de 232 milhões de dólares por dia em reembolso de dívida até 2028, conforme revela um novo estudo da Oxfam.

A análise foi publicada no último dia 17 pela Organização internacional voltada ao combate à injustiça social e à pobreza; e no contexto da 49ª cúpula anual do G7, que aconteceu na cidade japonesa de Hiroshima, entre sexta-feira (19) e domingo (21).

A quantia exorbitante corresponde aos juros e ao pagamento da dívida que os países de baixa e média renda – incluindo os 46 Países Menos Desenvolvidos (PMD) – têm que continuar transferindo, todos os dias, pelos 10 trilhões (milhões de milhões) de dólares que foram forçados a tomar de empréstimo dos países ricos, de bancos privados e de corporações financeiras.

Conclusões

Os países do Grupo dos Sete (G7) devem aos países de baixa e média renda US$ 13,3 trilhões em ajuda não paga e financiamento para ações climáticas, conforme a análise publicada antes do início da cúpula do G7, composto pela Alemanha, Canadá, Estados Unidos, França, Japão, Itália e Reino Unido.

Este dinheiro poderia ser usado para saúde, educação, igualdade de gênero e proteção social, bem como para fazer frente aos efeitos das mudanças climáticas, acrescenta o movimento global constituído por milhares de organizações sociais e aliadas que operam em 70 países.

Enquanto isso, a cólera ameaça um bilhão de seres humanos

Essa enorme dívida dos países do G7 para com o Sul Global em suas promessas de ajuda não cumpridas seria vitalmente necessária para salvar a vida de até 1 bilhão de pessoas em 43 países que agora enfrentam o risco de cólera, em meio ao cenário desoladora, segundo informe da Organização Mundial da Saúde (OMS) e do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef), de 19 de maio de 2023.

Em seu novo alerta, as duas agências especializadas da ONU apontam que cada vez mais países enfrentam surtos, um número maior de casos está sendo registrado e com efeitos ainda piores dos que os registrados 10 anos.

Depois de anos de declínio constante, a cólera está “fazendo um retorno devastador, afetando as comunidades mais vulneráveis do mundo”.

Matar os pobres diante de todos

“A pandemia está matando os pobres bem debaixo do nosso nariz”, declarou Jörme pfaffmann Zambruni, chefe da Unidade de Emergências em Saúde Pública do Unicef.

Você pode ler a versão em inglês deste artigo aqui.

“Ecoando o panorama sombrio, os dados da OMS indicam que em maio de 2022, 15 países haviam relatado casos, porém me meados de maio de 2023 “já temos 24 países relatando casos e prevemos que haverá mais com a mudança sazonal nos casos de cólera”, disse Henry Gray, diretor de incidentes da OMS para a resposta global ao cólera.

Aumento de casos de cólera

“Apesar dos avanços no controle da doença conquistados nas décadas anteriores, corremos o risco de retroceder”, afirmou.

Veja Também:  Novos confrontos intensificam conflito no leste da República Democrática do Congo

A OMS estima que 1 bilhão de pessoas em 43 países sofre o risco de contrair cólera, sendo as crianças menores de cinco anos as mais vulneráveis. A taxa de mortalidade extraordinariamente alta pela doença também é alarmante. O sudeste da África é especialmente atingido, com infecções se espalhando para Malawi, Moçambique, África do Sul, Tanzânia, Zâmbia e Zimbábue, conforme as Nações Unidas.

Combinação mortal

Uma combinação letal de mudança climática, falta de investimento em água, saneamento e serviços de higiene – e em alguns casos conflitos armados – levou à propagação da doença, disseram as duas agências da ONU.

Apesar dessas e de muitas outras ameaças enfrentadas pelos países mais vulneráveis, os países ricos do G7 continuam a reduzir sua ajuda prometida, enquanto infligem os maiores impactos em seu vício altamente lucrativo em combustíveis fósseis, uma das principais causas da atual emergência climática.

Riqueza “construída sobre o colonialismo e a escravidão”

Os países ricos do G7 gostam de se apresentar como salvadores, mas o que eles estão fazendo é aplicar um duplo padrão mortal: eles jogam por algumas regras enquanto suas ex-colônias são forçadas a jogar por outras”, disse o diretor-executivo interino da Oxfam International, Amitabh Behar.

É o mundo rico que deve ao Sul Global. A ajuda que prometeram décadas atrás e nunca entregaram. Os enormes custos dos danos climáticos causados pela queima imprudente de combustíveis fósseis. A imensa riqueza construída sobre o colonialismo e a escravidão.

De facto, já em 2020, os países do G7 representavam mais de 50% da riqueza líquida mundial, estimada em mais de 200 bilhões de dólares. “Todos os dias, o Sul Global paga centenas de milhões de dólares ao G7 e seus ricos banqueiros. Isso tem que parar. É hora de denunciar a hipocrisia do G7 pelo que é: uma tentativa de fugir de responsabilidades e manter o status quo neocolonial”, disse Behar.

“Esse dinheiro poderia ter sido transformador”, disse Behar. Poderia ter sido usado para levar as crianças à escola, hospitais e remédios vitais, melhorar o acesso à água, melhorar estradas, agricultura e segurança alimentar e muito mais. O G7 deve pagar o que lhe corresponde.

Bilhões de pobres… e famintos

Os líderes do G7 estão se reunindo em um momento em que bilhões de trabalhadores enfrentam cortes salariais reais e aumentos impossíveis de preços de produtos básicos como alimentos, aponta a Oxfam.

A fome mundial aumentou pelo quinto ano consecutivo, enquanto a riqueza extrema e a pobreza extrema aumentaram simultaneamente pela primeira vez em 25 anos, complementa.

Apesar do compromisso do G7 no mês passado de eliminar gradualmente os combustíveis fósseis, a Alemanha agora está pressionando os líderes do bloco a apoiar o investimento público em gás.

O G7 deve US$ 9 trilhões aos pobres por sua devastação

“Estima-se que o G7 deva US$ 8,7 trilhões aos países de baixa e média renda pelas perdas e danos devastadores causados por suas emissões excessivas de carbono, especialmente no Sul Global”, afirma a Oxfam.

Os governos do G7 também estão renegando coletivamente uma promessa de longa data dos países ricos de fornecer US$ 100 bilhões por ano entre 2020 e 2025 para ajudar os países mais pobres a enfrentar as mudanças climáticas, acrescenta.

Enquanto isso, “em 1970, os países ricos concordaram em destinar 0,7% de sua renda nacional bruta à ajuda. Desde então, os países do G7 deixaram de pagar um total de US$ 4,49 trilhões aos países mais pobres do mundo, mais da metade do que foi prometido.

Esses 10% da população mundial cumprirão seus compromissos com 90% dos seres humanos na Terra? O que você acha disso?

Artigo publicado originalmente na IPS

Tagged: , , ,

Leave comment