Bolsonaro fez 12 declarações falsas no debate
A plataforma de checagem de fatos e combate à desinformação, Aos Fatos, apontou 12 declarações falsas do presidente e candidato à reeleição Jair Bolsonaro no debate realizado pela Rede Globo, na noite de ontem (28). Dentre elas, ao contrário do que afirmou: o presidente defendeu medicamentos abortivos no plenário da Câmara; a violência contra a mulher aumentou entre 2018 e 2021; há integrantes e ex-integrantes de seu governo Bolsonaro sendo investigados por corrupção e outros delitos ligados à administração pública; a transferência de Marcola para presídio de segurança máxima não teve sua interferência e a prisão de Roberto Jefferson não foi determinada por ele.
O ex-presidente Lula, por outro lado, teve quatro de suas declarações classificadas como falsas. Lula não participou de todas as reuniões do G8, ele não criou o G20, a usina de eólica de Osório não foi a primeira do país e o brasileiro estava em primeiro lugar em felicidade futura em pesquisa da FGV e não da ONU.
Para que se permita a comparação do número e relevância das afirmações falsas ou distorcidas feitas no debate, elas são apresentadas a seguir, com as informações consideradas corretas por Aos Fatos e suas respectivas fontes.
1 Jair Bolsonaro diz que beneficiário do Bolsa Família perdia o benefício se conseguisse um emprego
“FALSO – O beneficiário do Bolsa Família que conseguisse emprego com carteira assinada não necessariamente perdia o direito ao auxílio. O principal critério para a manutenção dos pagamentos era a renda mensal familiar por pessoa, valor obtido pela divisão da renda total do domicílio pelo número de integrantes da família. Caso essa renda fosse maior que o valor estipulado anualmente pelo governo federal, mas não superior a meio salário mínimo, o beneficiário poderia manter os pagamentos por mais dois anos. O Auxílio Brasil, criado no governo Bolsonaro para substituir o Bolsa Família, possui regra semelhante. Segundo o Ministério da Cidadania, as famílias que tiverem uma renda mensal per capita que ultrapasse a linha da pobreza (atualmente em R$ 210), recebem o benefício por mais dois anos. O pagamento é suspenso caso os valores superem essa linha em duas vezes e meia (ou seja, R$ 525).”
Fonte da informação: Ministério da Cidadania
2 Jair Bolsonaro pergunta o motivo da bancada do PT ter votado contra o Auxílio Brasil
“FALSO – Não é verdade que os deputados do PT votaram contra a criação do Auxílio Brasil. A Medida Provisória 1.061/2021, que criou o benefício com o valor de R$ 400 mensais, foi aprovada em novembro do ano passado na Câmara dos Deputados por unanimidade.”
Fontes das informações: Câmara dos Deputados e Aos Fatos
3 Jair Bolsonaro diz Belo Horizonte não tem metrô
“FALSO – De acordo com a CBTU (Companhia Brasileira de Trens Urbanos), Belo Horizonte possui uma linha de metrô de superfície com 19 estações e 28,1 km de extensão.”
Fonte da informação: CBTU
4 Jair Bolsonaro diz que Lula deixou uma dívida de 900 bilhões de reais na Petrobras
“FALSO – O endividamento da Petrobras não foi de R$ 900 bilhões em governos petistas, como afirma Bolsonaro. Em 2003, os resultados divulgados pela petrolífera à Bovespa (Bolsa de Valores de São Paulo), atual B3, indicavam endividamento total de R$ 63,791 bilhões. Corrigido pelo IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo), o montante foi de R$ 176 bilhões.
Já em 2015, último ano completo do PT no poder, a dívida era de R$ 492,8 bilhões — com a atualização da inflação, R$ 705,5 bilhões. A diferença, portanto, é de R$ 407,2 bilhões em valores nominais e de R$ 505,4 bilhões se corrigido pela inflação, montante muito menor que o citado por Bolsonaro.”
Fontes da informação: Petrobras Bovespa
5 Jair Bolsonaro compara a linha de pobreza, 10 reais por dia, com o Auxílio Brasil, 20 reais por dia
“FALSO – O cálculo citado por Bolsonaro só corresponde a pessoas que recebem o Auxílio Brasil
sozinhas, sem família. Em uma família com pais e três crianças, por exemplo, é necessário dividir os R$ 600 mensais por cinco pessoas — o que chega a R$ 120 por mês, ou R$ 4 por dia por pessoa, segundo o economista Pedro Fernando Nery, em texto publicado no jornal O Estado de S. Paulo.
Esse valor fica abaixo dos US$ 1,90 citados pelo Banco Mundial como limite da extrema pobreza, medida ajustada por poder de compra com base em levantamentos que comparam o custo de vida entre países. Ajustado para reais, esse valor chega a R$ 160 mensais por pessoa, ou cerca de R$ 5,30 por dia — não R$ 10, como disse Bolsonaro — de acordo com o Boletim da Desigualdade nas Metrópoles, elaborado pela PUC-RS em parceria com outras entidades.
De acordo com dados do Ministério da Cidadania, há cerca de 1,8 milhão de famílias com cinco, seis ou sete integrantes que recebem o benefício. Não há dados sobre famílias com mais de sete integrantes.”
Fontes da informação: PUC-RS e Estadão
6 Jair Bolsonaro diz que não defendeu pílulas abortivas
“FALSO – Questionado sobre um discurso sobre controle de natalidade feito no plenário da Câmara dos Deputados em 1992, durante seu primeiro mandato como deputado federal, Bolsonaro diz não ter defendido o uso de medicamentos abortivos, mas de pílulas contraceptivas, o que é FALSO.
No dia 4 de abril daquele ano, o então deputado pelo PDC subiu à tribuna para ler uma reportagem da Folha de S.Paulo intitulada “China começa a usar pílula de aborto”, que era destinada a mulheres com menos de 35 anos que estavam grávidas há menos de 49 dias. A reportagem foi publicada no dia 5 de dezembro de 1991, e dizia que “o temor de uma nova explosão de crescimento populacional fez o governo da China decidir que vai começar a distribuir as controvertidas ‘pílulas de aborto’ em janeiro de 1992”.
Em seu discurso, Bolsonaro defendeu métodos de controle de natalidade e afirmou que “de nada adianta à Nação ter uma multidão de brasileiros subnutridos, sem condições de servir ao seu país”. O deputado também pediu que a temática fosse tratada “sem demagogia, sem interesse partidário ou eleitoreiro, porque de nada adiantam nossas convicções religiosas, políticas ou filosóficas, quando se está em jogo, sem dúvida, uma questão bem mais grave e que, de fato, interessa à segurança nacional”.
Ao fim do discurso, Bolsonaro pediu à presidência que a reportagem fosse transcrita nos anais da casa. Não há, ao longo da transcrição do discurso, qualquer menção ao uso de pílula contraceptiva de emergência, ou pílula do dia seguinte.”
Fontes da informação: Câmara e Folha de S.Paulo
7 Jair Bolsonaro diz que transferiu Marcola para uma presídio de segurança máxima
“FALSO – A transferência de Marco Willians Herbas Camacho, conhecido como Marcola, para um presídio federal não teve participação de Bolsonaro, como ele afirma. O pedido foi feito pelo promotor do MP-SP (Ministério Público de São Paulo) Lincoln Gakiya.
Em entrevista ao Conjur em 2020, Gakiya diz que planejou e realizou o pedido, que foi deferido pelo juiz estadual responsável: “O juiz federal que recebe esse preso nem pode analisar o mérito do pedido. Só analisa se o pedido está formalmente em ordem. Não houve nenhuma participação seja do governo federal, seja do ex-ministro [Sergio] Moro, do presidente Bolsonaro ou de qualquer outra pessoa”, explicou.”
Fonte da informação: Conjur
8 Jair Bolsonaro diz que determinou que Roberto Jefferson fosse, imediatamente, preso
“FALSO – A declaração de Bolsonaro contém uma série de inverdades. Não cabe ao presidente da República determinar prisões; essa competência é privativa do Poder Judiciário. A prisão de Roberto Jefferson (PTB) foi determinada pelo ministro do STF (Supremo Tribunal Federal) Alexandre de Moraes em meio ao inquérito das milícias digitais após o ex-parlamentar, que já cumpria prisão domiciliar, ter desrespeitado repetidas vezes as medidas restritivas estabelecidas pela Justiça.
A prisão de Jefferson também não ocorreu “imediatamente”, como aponta Bolsonaro. Ao chegar à residência do petebista para cumprir o mandado de prisão, a PF (Polícia Federal) foi recebida com tiros e granadas que feriram dois agentes. Diante dos ataques, o ministro Alexandre de Moraes expediu outro pedido de prisão, agora em flagrante, e a rendição foi negociada ao longo de oito horas.
O presidente Jair Bolsonaro chegou a anunciar que o ministro da Justiça, Anderson Torres, iria à residência do ex-parlamentar para participar das negociações. Torres, no entanto, foi apenas até a delegacia da PF em Juiz de Fora (MG), a 50 km de onde residia Jefferson, onde gravou um vídeo para afirmar que estava acompanhando o trabalho da polícia.”
Fonte da informação: G1
9 Jair Bolsonaro diz que violência contra a mulher diminuiu em seu governo e que diminuiu o feminicídio
“FALSO – A declaração de Bolsonaro é falsa, pois o Anuário Brasileiro de Segurança Pública, último dado público disponível, mostra que os crimes de lesão corporal, feminicídio (homicídio cometido por fatores como misoginia e discriminação de gênero) e ameaças contra mulheres aumentaram entre 2018 e 2021. O índice de feminicídios, que era de 1,1 para cada 100 mil mulheres em 2018, último ano do governo Temer, passou para 1,2 a cada 100 mil em 2021.
A taxa de violência doméstica (lesão corporal dolosa) quase dobrou entre 2018 e 2021 – de 126,2 incidentes a cada 100 mil mulheres para 221,4. Também cresceu a taxa de ameaças: de 489,1 a cada 100 mil mulheres para 548. Por outro lado, caiu o número de homicídios de mulheres nesse período. A taxa passou de 3,9 para 100 mil em 2018 para 3,6 em 2021. O indicador com queda mais acentuada foi o crime de estupro: a taxa passou de 53,4 para cada 100 mil mulheres em 2018 para 13,3 em 2021.
Fonte da informação: Fórum Brasileiro de Segurança Pública
10 Jair Bolsonaro diz que não há corrupção em seu governo
“FALSO – Integrantes e ex-integrantes do governo Bolsonaro são alvos de investigações e denúncias de corrupção e outros delitos ligados à administração pública. Em junho de 2022, a PF (Polícia Federal) prendeu preventivamente o ex-ministro da Educação Milton Ribeiro por suposto envolvimento em um esquema de liberação de verbas na pasta. Ele é investigado por prevaricação, advocacia administrativa e tráfico de influência e foi liberado por habeas corpus.
Atuais e antigos integrantes do governo também são investigados pela PF ou pelo Ministério Público por suspeita de corrupção, como o ministro-chefe da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP); Ricardo Salles (PL), ex-titular do Meio Ambiente; o deputado federal Marcelo Álvaro Antônio (PL), que comandou o Turismo; e Fabio Wajngarten, que chefiou a Secom (Secretaria Especial de Comunicação Social).
Além disso, relatório de junho deste ano da Americas Society/Council of the Americas afirma que as tentativas do presidente de controlar órgãos de investigação e os cortes orçamentários de agências independentes seriam sinais de recuo no combate à corrupção no Brasil. Desde o início de seu mandato, Bolsonaro já repetiu essa alegação enganosa 237 vezes, de acordo com o contador de declarações do Aos Fatos.”
Fontes da informação: American Society/Council of the Americas e UOL
11 Jair Bolsonaro diz que seu governo anistiou 99% das dívidas do FIES
“FALSO – A declaração de Bolsonaro é falsa, pois a parcela de devedores que terão direito a perdão de 99% do saldo devedor no Fies (Fundo de Financiamento Estudantil) corresponde a apenas 17% do total de 1 milhão de inadimplentes, segundo o Ministério da Educação — antes, esse percentual era de 92%, mas foi ampliado para 99% após lei sancionada em junho deste ano.
O percentual é previsto apenas para quem tem parcelas atrasadas há mais de 360 dias e recebe benefícios sociais do governo. Já o percentual mínimo de desconto é de 12% e há cerca de 111 mil contratos que se enquadram nessa modalidade, com atrasos no pagamento de até 90 dias. O prazo para que estudantes com débitos em aberto procurem os agentes financeiros para pedir a renegociação vai de 1º de setembro a 31 de dezembro deste ano.”
Fontes da informação: Aos Fatos e Senado
12 Jair Bolsonaro diz área queimada na Amazônia foi menor em seu governo do que no governo Lula
“FALSO – Dados do Inpe (Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais) mostram que a média anual de queimadas no bioma Amazônia foi de 115.931 km² durante o governo Lula, de 2003 a 2010, e não 430 mil km², como afirmou Bolsonaro.
Já os números citados do atual governo são próximos à soma da área queimada entre 2019 e 2021, de 195.431 km². A média nesses três anos é de 65.143 km². De janeiro a agosto de 2022, 35 mil km² do bioma Amazônia foram queimados, segundo o Inpe, uma área 33% maior em relação ao mesmo período do ano passado (26,8 mil km²).”
Fonte da informação: Inpe