Venezuela: Fraude ou não, não é só a questão 

Venezuela: Fraude ou não, não é só a questão 

Como era esperado, tanto o governo quanto a oposição ganharam a eleição na Venezuela. Nenhum dos lados aceitaria a derrota, já se sabia antes. Pelo resultado oficial, o atual presidente Maduro ganhou com 51% dos votos. Isso é perfeitamente possível, assim como o contrário também seria possível. Como todo candidato perdedor, diz que venceu e que houve fraude, isso tem de ser provado. Vide os exemplos de Trump nos EUA e Bolsonaro no Brasil.

A Venezuela é um regime militar com fachada civil. Eu chamo de democracia autoritária. Não chamo de ditadura porque nunca ficou provado que houve fraude na eleição presidencial. E existe oposição. Mas há denúncias de tortura, censura e perseguição política.

Na Venezuela, com todo o autoritarismo, existe oposição de direita, reprimida, mas continua existindo. A líder da oposição, Maria Corina Machado, é de extrema direita. Sua candidatura foi barrada, mas ela não foi presa sem provas, como ocorreu com Lula na democracia brasileira. Segundo li, ela assinou a Carta de Madri, que reuniu fascistas da Europa e América Latina. Ela é da turma do Bolsonaro e Milei. A presença dela na política venezuelana seria comparável a imaginar Marighela candidato da oposição a Presidente durante a ditadura militar. Na ditadura brasileira, a esquerda não era tolerada, pra dizer o mínimo. Na Venezuela, embora reprimida, a oposição de direita é tolerada e concorre à eleição presidencial.

O curioso é que a Venezuela é considerada de esquerda porque os militares não quiseram entregar o petróleo às empresas americanas. Mas a política econômica é neoliberal, existe uma enorme desigualdade social e, para sobreviver, cerca de 20% da população emigrou para outros países.

Nas eleições parlamentares de 2015, a oposição venceu com 7,7 milhões de votos, enquanto os governistas tiveram 5,6 milhões. Os resultados foram reconhecidos e ninguém falou em fraude. Como os exilados em outros países, em grande número, não puderam votar, isso favoreceu o candidato Maduro. Não sei se houve fraude, mas isso tem de ser provado. Eu não botaria a mão no fogo, seja em favor do governo ou da oposição. As alegações de violação de direitos humanos, como tortura, também precisam ser provadas.

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O assessor internacional do presidente Lula, o embaixador Celso Amorim, pressionou o presidente Maduro a divulgar as atas eleitorais. O Brasil ainda não reconheceu oficialmente a vitória de Maduro na eleição presidencial. Enquanto isso, foi anunciado que a Venezuela decidiu expulsar diplomatas de países que contestaram a vitória de Maduro e vai retirar o pessoal diplomático da Argentina, Chile, Costa Rica, Panamá, Peru, República Dominicana e Uruguai.

Mas há também uma questão geopolítica. O governo da Venezuela foi sancionado pelo governo americano, pelo Tesouro e Departamento de Estado. E sofre um cerco dos EUA. É verdade que, depois de 11 anos no poder, Maduro enfrenta um desgaste, mais por “fadiga de material” devido ao fracasso econômico do que por motivos ideológicos. Como ocorre em toda parte, a maioria do eleitorado não vota por razões ideológicas. Ao vencer, se é que venceu mesmo, Maduro mostra que, com todo o barulho da oposição na mídia, o Governo tem maioria. Só a divulgação das atas eleitorais pode esclarecer se houve ou não fraude e romper o atual isolamento internacional do governo venezuelano.

Talvez nunca fique esclarecido se houve ou não fraude. Mas existe uma maneira de resolver isso definitivamente. Se por acaso os militares venezuelanos decidirem fazer acordos com empresas americanas de petróleo, a Venezuela passaria imediatamente a ser um exemplo de democracia e nunca mais ninguém iria questionar o resultado da eleição. Vide o caso da Arábia Saudita, a ditadura mais sanguinária do mundo e tratada como democracia pela mídia em geral.

Assim, voltaríamos a ter na Venezuela a “pax americana” e ficaria tudo resolvido. Amém!

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