Vitória de Trump: Recado para o Brasil
Por Liszt Vieira
Uma análise mais profunda do que fará Trump só será possível depois de três ou seis meses de seu governo. Podemos, entretanto, fazer projeções e apontar tendências diante do que ele disse que faria se eleito fosse.
Do ponto de vista da política externa, o que aparece de imediato é sua promessa de acabar logo com a guerra da Ucrânia. Como se sabe, Trump e Putin são aliados. Entre outras razões, porque ambos querem enfraquecer a Europa (há também quem diga que Trump tem investimentos na Rússia). Se os EUA retirarem o apoio militar à Ucrânia, Zelesnky será obrigado a assinar tratados de paz. Junto com a Europa, Zelensky perdeu.
Já em relação a Israel, Trump disse que vai aumentar o apoio militar para destruir os palestinos, o que já está em curso. Israel é hoje o braço armados dos EUA no Oriente Médio. Os judeus de direita que confundem Governo com Estado, e Estado com Sociedade, perderão apoio na opinião pública e serão pressionados a rever seus dogmas e posições políticas. Mas é bom não esquecer que Trump é imprevisível. Fez acordo com o regime comunista da Coréia do Norte e com o regime talibã do Afeganistão.
Do ponto de vista da política interna, a economia vai bem durante o atual governo Biden. A taxa de desocupação de setembro foi só de 4,1%, Os salários crescem a 3,9% no ano e a renda disponível per capita aumenta todos os meses. O PIB cresceu 2,8% no último trimestre. Mas a percepção popular era outra. O poder de compra não melhorou e, como disse a professora Maria da Conceição Tavares, o povo não come PIB.
Junto com a questão econômica, teve grande peso também a guerra cultural que, nos EUA, passa pelos problemas de comportamento, como aborto e vacina, por exemplo, e também pela questão da imigração e fechamento de fronteiras.
Trump vai apoiar a extrema-direita em toda parte. E negar a crise climática que ameaça a sobrevivência da humanidade no planeta. No Brasil, vai fortalecer o bolsonarismo. Se a Justiça brasileira não prender Bolsonaro antes pelos seus crimes, muito dificilmente prenderá durante o governo Trump que pretende ser um ditador disposto a esvaziar a democracia americana. O Brasil que se cuide, vem chumbo grosso pela frente.
Liszt Vieira é integrante da Coordenação Política e Conselho Editorial do Fórum 21 e do Conselho Consultivo da Associação Alternativa Terrazul. Foi Coordenador do Fórum Global da Conferência Rio 92, secretário de Meio Ambiente do Estado do Rio de Janeiro (2002) e presidente do Jardim Botânico fluminense (2003 a 2013). É sociólogo e professor aposentado pela PUC-RIO.