Candidato apoiado por Mujica tem chance de levar Presidência do Uruguai no 1.o turno
Por Carmen Munari
O candidato Yamandú Orsi, da Frente Ampla, tradicional coalizão de esquerda, , está consolidando sua posição de favorito para as eleições presidenciais de 27 de outubro no Uruguai –mesmo dia das eleições municipais no Brasil. Pesquisas publicadas na última semana indicam sua possível vitória no primeiro. A esquerda uruguaia está convencida de que conseguirá evitar um segundo turno e prevê que a diferença será maior do que as pesquisas sugerem. Orsi, que tem o apoio do ex-presidente José Pepe Mujica, concorre com Álvaro Delgado, do Partido Nacional, candidato de direita apoiado pelo atual presidente uruguaio, Luis Lacalle Pou.
A pesquisa de intenção de voto da empresa de consultoria Nómade, divulgada na terça-feira (15/10), indica o cenário mais favorável para a Frente Ampla e seu candidato, Yamandú Orsi. Quando perguntados em qual partido político os eleitores votariam, 47% indicaram a Frente Ampla; 22,7% o Partido Nacional; e 13,5% o Partido Colorado, de Andrés Ojeda. Há ainda outros candidatos que receberam no máximo 1% das intenções cada um.
Em um eventual segundo turno entre Orsi e Álvaro Delgado, o candidato da Frente Ampla teria 49,4% dos votos, enquanto o oponente do Partido Nacional aparece com 35,5% dos votos.
O candidato do presidente uruguaio Lacalle Pou ainda está apostando em uma suposta maioria silenciosa (11,4% de indecisos na pesquisa da Nómade) para repetir os resultados de cinco anos atrás, que deram origem à aliança governista liderada pelo presidente.
Outra pesquisa recente, publicada pelo Âmbito Financeiro, dá a Orsi 46% contra 20,2% de Delgado. Com a projeção de eleitores indecisos, o líder da Frente Ampla sobe para 48,1%, a menos de dois pontos da vitória no primeiro turno.
E a Factum é um pouco mais benevolente com relação ao governo uruguaio. Yamandú Orsi tem 44% dos votos, mas o total combinado do Partido Nacional, Colorado, Cabildo Abierto e Partido Independiente é de 48%.
O Partido Nacional considera que Lacalle Pou “está jogando para perder” para retornar em cinco anos e o censura por não ter feito esforços suficientes para transferir sua imagem positiva, que permanece acima dos 50 pontos. Nessa medição, a soma de todos os candidatos pró-governo mal ultrapassa os 40 pontos, o que confirma que o cenário de segundo turno não é auspicioso para Lacalle Pou.
Se nenhum candidato à Presidência receber mais de 50% dos votos em 27 de outubro, um segundo turno será realizado em 19 de novembro. Além do Executivo, 30 senadores e 99 deputados serão eleitos.
COMÍCIO COM DISCURSO DE DESPEDIDA DE PEPE
Na noite de sábado (19/10), Yamandu realizou um amplo comício de encerramento da campanha, em uma Praça 1º de Maio, em Montevidéu, lotada, com a presença de Pepe Mujica. Em discurso comovente, Pepe emocionou o público. Com voz firme, Mujica iniciou seu discurso lembrando que esta é a primeira vez em 40 anos que não participa de uma campanha eleitoral, justificando sua ausência pela batalha que trava contra a morte. “Estou no final da partida, absolutamente convencido e consciente”, afirmou, reconhecendo que seu ciclo na política está perto do fim.
“Estou feliz. Sei que quando meus braços parem de se mover, haverá milhares de outros braços me substituindo na luta. Estará Yamandú, estará o Pacha (candidata a vice), haverá milhares e outros mais, braços jovens para seguir na luta contínua por um mundo melhor, luta à qual dediquei minha juventude”, afirmou Mujica em discurso transmitido nas redes sociais.
Aos 89 anos, recentemente revelou enfrentar um tumor no esôfago. “Sou um velho que está muito perto de onde não se volta, mas sou feliz porque vocês estão aqui”, disse. “[Eu] lhes deixo com um até sempre. [Eu] lhes deixo com o meu coração. Obrigado, tenho que agradecer à vida. Obrigado por existirem, até sempre”, concluiu.
PERFIL DE YAMANDÚ ORSI
Yamandú Orsi é professor, tem 57 anos e é ex-prefeito do município de Canelones. Ele é um dos herdeiros políticos de Pepe Mujica, um dos ícones da esquerda do país, ex-guerrilheiro dos Tupamaros, ex-presidiário por 11 anos no tempo da ditadura. Uma possível vitória de Orsi marcaria o retorno da Frente Ampla ao poder. A coalizão de esquerda governou o país durante toda a década passada, com o governo de Mujica (2010-2015) e de Tabaré Vázquez (2015-2020 e seu primeiro mandato presidencial foi entre 2005-2010).
A Frente Ampla, fundada em 1971, une democratas, anti-oligárquicos, anti-imperialistas, antirracistas, trotskistas, comunistas e leninistas. Tem espaço para todas as tendências, inclusive para os ex-guerrilheiros tupamaros, legalizados em 1985, o mais combativo grupo na luta contra a ditadura uruguaia nos anos 70 e 80. Derrotada nas eleições de 2019 para Lacalle Pou, a Frente Ampla poderá retornar ao poder nestas eleições.
Na imagem, comício realizado no sábado (19/10) em Montevidéu. O candidato à Presidência, Yamandú Orsi, está ao centro. À sua direita, Pepe Mujica, e à esquerda, Lucía Topolansky, esposa de Mujica, / Reprodução
(Com informações de La Politica Online, Montevideo Portal e Brasil de Fato)
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.