BAHIA: Governo presente cuida da gente

A vida é um interminável combate

A vida é um interminável combate

Série de Silvio Tendler, diz a Empresa Brasileira de Comunicação, rememora lutas de movimentos populares e libertários com o tema de igualdade e justiça em diversas fases da História do Brasil e do mundo

Esta semana, batalhando para as águas da foz do rio Amazonas continuarem limpas e intocáveis, a Ministra Marina Silva disparou, com toda razão: “Estamos vivendo a Era das Contradições”. O que parece ser uma das inúmeras contradições atuais, os títulos dos dois mais recentes documentários do cineasta Silvio Tendler contestam a afirmação. Depois de fazer o doc Sonhos Interrompidos rastreando a luta e a frustração do povo brasileiro no decorrer da nossa história recente, Tendler afirmou que (enfim) O Futuro É Nosso (resenha aqui) no seu filme que estreou este ano.

Sonhos Interrompidos viu a luz depois de sete anos engavetado pela censura dos dois governos anteriores recentes que tentaram destruir de vez o país de 2016 para cá. Para satisfação geral, a EBC, Empresa Brasil de Comunicação, (ênfase em empresa pública), ou seja, ‘empresa de todos nós’ – acaba de disponibilizar a obra de Tendler, no formato série e no formato cinema (clique para assistir).

A TVT também apresenta a Mostra Silvio Tendler e dentro dela o filme de pouco mais de uma hora onde se retrata movimentos populares que “germinaram outras sementes e delas brotaram novas utopias”, como diz a apresentação da EBC, e onde os entrevistados são Vladimir Palmeira, Heloisa Buarque de Hollanda, Sérgio Ricardo, José Carlos Dias, Alberto Costa e Silva, Alberto Dines, Almino Afonso, Ana Bursztyn, Aparecida Costa, Cacá Diegues, Carlos Heitor Cony, Carlos Lessa, Carlos Lyra, Cecília Boal, Chacal, Clarice Herzog, Crimeia de Almeida, Dulce Pandolfi, Eliana Paiva, Fernanda Montenegro, Flavio Tavares, Heloísa Starling, Jaguar, Jards Macalé, João Batista de Andrade, Zé Celso Martinez e Theotonio dos Santos, entre outros companheiros.

A obra de Tendler, diz a Empresa Brasileira de Comunicação, rememora lutas de movimentos populares e libertários com o tema de igualdade e justiça em diversas fases da História do Brasil e do mundo relacionadas com projetos de várias gerações pela partilha da terra, da educação e da saúde para todos. Passa pela revolução haitiana, a Comuna de Paris, a Revolução Russa, a luta das resistências francesas, italianas e gregas durante a Segunda Guerra Mundial, a criação do conceito de Terceiro Mundo, a revolução cubana e as lutas por independência da África dos anos 60.

A vida é um interminável combate

No primeiro episódio da série, continua a EBC, revemos processos históricos que pautaram a geração que queria mudar o mundo nos anos 1950 e 1960. Traumatizada com o ciclo de guerras da primeira metade do século XX, a geração testemunhou as potências do Eixo derrotadas na sangrenta Batalha de Stalingrado que determinou, graças aos exércitos soviéticos, a libertação da Europa frente à fúria do nazismo. No auge das tensões da Guerra Fria, essa geração acompanhou a polarização entre capitalistas e comunistas e viu nascer o conceito de Terceiro Mundo e a disputa pelos países não alinhados. Foi assombrada por sucessivos testes nucleares e assistiu a corrida espacial. E viu o primeiro sonho socialista implantado com sucesso, a Revolução Russa de 1917, tornar-se pesadelo com a revelação dos crimes cometidos por Stalin. Era o tempo de a China tornar-se comunista, a península da Coréia permanecer dividida e o Vietnam converter-se em mais um teatro da Guerra Fria. O episódio tem 51 minutos.

O crime não está em agitar, mas em permanecer imóvel

No segundo episódio, o foco são os anos 1950 e 1960, em que nasce uma capital moderna para interiorizar o desenvolvimento. Os jovens têm como trilha sonora novos ritmos musicais e são sujeitos políticos. Pensadores seminais discutem o país e inspiram toda uma geração. Darcy Ribeiro, Paulo Freire, Anísio Teixeira, Caio Prado Jr., Gilberto Freire, Florestan Fernandes, Francisco Julião, Josué de Castro e Guerreiro Ramos estão entre as referências apresentadas. O Brasil começa a acordar para temas como fome, divisão de terras, desigualdade social, reforma urbana, analfabetismo e artistas se engajam nas questões sociais (o episódio tem 51 minutos).

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Sonhos que se desfazem de manhã como se fossem pura bruma

Centenas de opositores do regime se organizam em grupos armados de várias tendências, a grande maioria bem jovem. Neste terceiro episódio, o período pós-golpe civil-militar. “Onde foram parar tantos sonhos?” diz a apresentação da série. Logo após a troca de comando do país, políticos e sindicalistas são duramente reprimidos enquanto intelectuais ainda gozam de certa liberdade. Teatro e cinema são válvulas de escape dos primeiros anos de ditadura: o Opinião, Cinema Novo, Teatro de Arena e Grupo Oficina. Com o AI-5, em dezembro de 1968, a repressão recrudesce. A censura sufoca as artes e a imprensa. Músicos são proibidos de se apresentar, espetáculos são cancelados, canções são mutiladas. Censores permaneciam dentro das redações e quando saíram deixaram a marca da autocensura. Todas as formas de luta legal estão proibidas. Parlamentares cassados buscam o exílio. A resistência se divide entre luta partidária ou luta armada (51 minutos).

Não posso continuar humano se faço desaparecer em mim a esperança

Neste episódio, vemos como a América Latina é marcada por avanços e retrocessos nos anos 1960 e 1970. Países da América Latina vão se tornando ditaduras e há um mergulho no período pós-golpe civil-militar (51 minutos).

Não existe neutralidade possível: o intelectual deve optar entre o compromisso com os exploradores ou com os explorados

No quinto episódio da série, as transformações no Brasil e no mundo a partir dos anos 1980 até hoje. O mundo bipolar é repensado com o esfacelamento da União Soviética e o fim do socialismo real. Cai o Muro de Berlim, ganha espaço a doutrina neoliberal. Blocos organizam o livre comércio enquanto restrições ao trânsito de pessoas e o radicalismo ganham força. Fronteiras são redesenhadas. Há o avanço crescente de migrações pautadas por intolerância e radicalismo religioso. No Brasil atual, (re)discutimos com energia os anos 60: distribuição de terra, reforma urbana, educação de qualidade para todos. O povo volta para as ruas a partir de 2013 em várias capitais, e o caleidoscópio da história gira mais uma vez em 2016, observa por fim a sinopse da EBC apresentando Sonhos Interrompidos (51 minutos).

Na sua fala sobre o histórico encontro desta semana de vários setores do audiovisual com o Ministro Aloizio Mercadante e diversos ministros de estado do governo atual, no BNDES, e durante o qual foi registrada a importância dos filmes documentários no país, Silvio Tendler acentuou o rumo do seu trabalho: “Quero fazer cinema para denunciar as mazelas da fome, a destruição do sistema educacional para manter o povo em permanente estado de letargia que facilite o roubo do trabalho alheio e a concentração de riquezas em mãos de alguns poucos”.

O sonho continua. Mas desta vez, no presente, um futuro melhor parece estar se materializando.

*A série de episódios de Sonhos Interrompidos está disponível no Youtube (clique aqui).

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