Festival do Rio 2022: o Brasil mostra sua cara 

A grande festa carioca do cinema se aproxima do segundo fim de semana quando será o seu término, neste ano em que comemora a volta dos filmes exibidos novamente nas telonas. Uma das grandes atrações do Festival do Rio 2022 está programada para acontecer ao ar livre, entre amanhã, dia 14 e dia 16, na…

A grande festa carioca do cinema se aproxima do segundo fim de semana quando será o seu término, neste ano em que comemora a volta dos filmes exibidos novamente nas telonas. Uma das grandes atrações do Festival do Rio 2022 está programada para acontecer ao ar livre, entre amanhã, dia 14 e dia 16, na Praia de Copacabana, defronte da Praça do Lido, com entrada franca, em sessões às 18.30 e às 20 horas.

Assim, a retomada cultural no Rio, cidade onde em grande parte do tempo a vida transcorre mais ao ar livre do que em espaços fechados, continua ativa e voltando aos espaços públicos. Na próxima sexta-feira a festa será mais ainda vibrante com a exibição do filme Dois Filhos de Francisco, do diretor Breno Silveira, falecido este ano, cuja trilha musical é de Caetano Veloso e Guto Graça Mello.

Um recorte do festival com a Mostra Première Brasil surpreende pelo vigor da produção de filmes nacionais, muitos deles com a exibição represada nos dois últimos anos, mas também com o número de pequenas e médias empresas independentes de produção e distribuição de audiovisual – filmes, séries, streaming, plataformas. 

O volume de documentários também chama a atenção. Nesse gênero cinematográfico que veio sendo redescoberto pelas novas gerações e pela indústria do cinema nacional há algumas décadas, são inúmeros os filmes/perfis de ícones da  nossa cultura, em particular da nossa música. Outros docs retratam as rupturas sociais, políticas e culturais e a violência de um país que está mudando a cara em função da crescente desigualdade de classes, da consolidação da extrema direita autocrática e neofascista, da apropriação política escandalosa e pervertida da religião e da existência desregulada do universo da Tecnologia da Informação, a TI. 

”A Première Brasil foi criada para ser uma grande janela para o cinema brasileiro”, diz Ilda Santiago, diretora executiva e de programação na sua apresentação do festival. ”Nos interessa, mais que tudo, tornar nossos filmes acessíveis e conhecidos dentro do Brasil e para todos os públicos”. Ela lembra que ”o Festival do Rio também se consolidou como uma importante plataforma para o cinema brasileiro no exterior, projetando nosso prestígio e talento internacionalmente”.

Na seção de docs do festival deste ano há filmes que nos chamam a atenção até aqui, em seleção relâmpago aleatória. Um deles, Fé e Fúria, retrata as  vítimas da intolerância e massacre de minorias, as reações violentas que entrelaçam religião, poder, racismo, política, fascismo, Bíblia e Deus e são ”utilizadas para justificar atos injustificáveis”, diz o seu diretor, Marcelo Pimentel. 

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O filme aborda também a conduta dos “donos dos morros”,  no Rio de Janeiro, traficantes evangélicos e ex-traficantes convertidos, que discorrem sobre suas experiências.

Tempo da ascensão dos evangélicos ao poder, e casos que vieram à tona trazidos pela mídia, acrescenta Pimentel: ”Como o episódio da menina Kayllane que levou uma pedrada no meio da rua por estar vestida com trajes de candomblé; e outras pessoas cujas agressões não se tornaram notícia”.

Fé e Fúria teve estréia mundial no respeitado IDFA – International Documentary Film Festival de Amsterdam, em 2019.

Outro doc, Exu e o Universo, traz como protagonista o nigeriano Bàbálórìsà Adesiná Síkírù Sàlámì, mais conhecido como Prof. King. Filme de Thiago Zanato, terá sua première mundial amanhã, sexta-feira, 14, no Estação Net Gávea. No dia seguinte, sábado, dia 15, haverá debate sobre ele no ex-Cinema Odeon, hoje Centro Cultural Luiz Severiano Ribeiro, na Cinelândia, às 10h30. 

Produzido ao longo de cinco anos, o filme enfoca o carismático professor nigeriano que imigrou para o Brasil nos anos 80. Intelectual e estudioso, ele luta para mudar a percepção da cultura e religião africana no Brasil e no mundo. O seu projeto em fase de produção é um dicionário iorubá no qual trabalha há cerca de 20 anos.

Outro filme, Não é a Primeira Vez que Lutamos Pelo Nosso Amor, de Luis Carlos Alencar, que trabalha com documentários desde 2004, é dedicado à memória de Priscila, Laysa Fortuna e Kharoline, pessoas trans assassinadas às vésperas das eleições presidenciais de 2018 em diferentes cidades brasileiras, por homens que gritavam o nome de Jair Bolsonaro. 

”Este documentário,” diz Alencar, ” conta as histórias de perseguição e violência com que a ditadura civil-militar brasileira atuou contra a população LGBTQIA+ e como esse grupo constituiu suas resistências transformando-se em sujeitos fundamentais do processo de redemocratização”. 

Sua obra enfoca processos políticos e movimentos sociais, e registra lutas populares e pensamentos dissidentes e seus filmes vêm participando de festivais e mostras nacionais e internacionais nos quais recebeu mais de 20 prêmios.

O Festival do Rio termina dia 16, domingo, em vários cinemas da cidade. A programação completa está no site Festival do Rio 2022.

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