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Veríssimo e sua crônica familiar

Veríssimo e sua crônica familiar

Às vésperas de completar 80 anos, em setembro de 2016, Luis Fernando Veríssimo é o grande personagem do documentário do diretor e roteirista niteroiense Angelo Defanti. Ele conviveu com o emblemático escritor gaúcho e com sua família, em Porto Alegre, durante duas semanas, para fazer esse segundo longa-metragem da sua carreira que estreia agora, dia 2 de maio, nos cinemas.

Antes de Veríssimo, Defanti já tinha realizado O Clube dos Anjos (baseado no livro homônimo do criador de A Velhinha de Taubaté) e os curtas-metragens Feijoada Completa e Maridos, Amantes e Pisantes, ambos a partir dos contos do autor de O Analista de Bagé, uma das pérolas da literatura contemporânea brasileira. Defanti é especialista no universo artístico do filho de Érico Veríssimo, outro paradigma da nossa literatura.

Veríssimo nos chega depois da sua estreia mundial, no início de abril, com a sua participação na Mostra Competitiva do Festival É Tudo Verdade. É a homenagem afetuosa, de extraordinária sensibilidade e traduzida para a linguagem cinematográfica, a um dos maiores cronistas brasileiros, escritor com mais de 80 títulos de livros publicados e cinco milhões de volumes vendidos.

O método usado, de aproximação do tema e do desenvolvimento do personagem, é o cinema direto, sem blocos de narrações em off, sem entrevistas produzidas ou sequências programadas. A câmera segue e acompanha com simplicidade momentos do cotidiano de Luis Fernando. O escritor trabalhando na sua máquina de escrever, rascunhando desenhos que relembram os cartuns que começou a fazer nos anos 70, e Veríssimo assistindo jogos de futebol na TV com o Internacional, seu time do coração. Momentos de refeições à mesa, e rodeado de Lúcia, sua mulher, dos filhos e dos netos, no cenário da acolhedora casa da família, no bairro de Petrópolis, em Porto Alegre, na qual, aliás, viveu seu pai, Érico Veríssimo.

Ao término do documentário e como uma síntese dele, depois de registrar duas sequências externas em noites de autógrafos em livrarias, e de homenagens em programas de entrevistas no Rio e em São Paulo, e após varar a grande noite da festa do aniversário dos 80 anos do escritor e cronista, pode ser dito que seu principal atrativo vem do célebre jeito monossilábico de Veríssimo. É muito bem documentado o seu jeito de emérito lacônico, mas que nem por isso repele os admiradores. Ao contrário, sua gentileza nata e seu pronto acolhimento são permanentes.

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A grande delicadeza e o cuidado para com o outro estão onipresentes, com parentes, amigos e leitores, até daqueles mais insistentes que chegam a pedir o seu número de telefone além do autógrafo em livro novo. Nas festas, com os garçons que o servem, com seu fisioterapeuta, com funcionários diversos, com todos, a palavra mais usada pelo escritor, vê-se no filme, é um natural “muito obrigado“.

Em Veríssimo, o que fascina é sua afamada personalidade reservada, uma ode aos espécimes dos introvertidos, aqueles mais atentos à algaravia da extroversão humana, e finos observadores do que ocorre no seu entorno.

“Ele é quase um anti-personagem”, diz Defanti. “O desafio foi transformar a inação em algo luminoso. A estratégia foi oscilar entre uma observação muito próxima e uma investigação ampliada ao seu redor. É um filme calmo e tranquilo”. E acrescenta: “Uma pessoa pode ser resultado de seu ambiente tanto quanto pode influenciar nele. E a família Veríssimo constitui um ambiente adorável”.

Este ano, Veríssimo completa 88 anos e se recupera de um acidente vascular cerebral sofrido há três anos. Nesse filme em sua homenagem, tão bem engendrado com seus silêncios oportunos, significativos, e ritmo absorvente, apenas falta um detalhe. A presença do jazz, que é uma paixão do escritor, como trilha musical. E uma amostra, de imagem de arquivo, dele tocando Charlie Parker e Dizzy Gillespie, seus prediletos, no saxofone.

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