Inflação no teto e crescimento mundial em baixa

Inflação no teto e crescimento mundial em baixa

Na seleção de estudos e pesquisas da semana: as baixas expectativas de crescimento do FMI; o alerta das Nações Unidas contra as políticas de austeridade; a volta do Brasil à Celac e as principais demandas da Declaração de Buenos Aires, assinada por 33 países da América Latina e do Caribe.

Conter a alta dos preços dos alimentos vem sendo a preocupação da maioria das economias mundiais. A inflação chegou ao topo e tenderá a cair, mas num cenário de baixo crescimento global, prevê o Fundo Monetário Internacional (FMI) em informe divulgado na última terça-feira (31.01), sob o título World Economic Outlook Update: inflation peaking amid Low Growth (Atualização do Panorama Econômico Mundial: pico de inflação em meio a baixo crescimento) (28p.).

O documento revê as expectativas de crescimento para a economia global, e prevê uma queda mais rápida da inflação – de 8,8% (2022) para 6,6% (2023) e para 4,3% (2024) –, mas em um cenário de baixo crescimento global. “Na maioria das economias, em meio à crise do custo de vida, a prioridade continua sendo a desinflação sustentada”, mas “com condições monetárias mais restritivas e menor crescimento potencialmente afetando a estabilidade financeira e da dívida”, afirma o documento.

Conforme sintetiza reportagem publicada na IPS, a previsão para o crescimento mundial é de queda de 3,4% em 2022 para 2,9% em 2023, seguida de uma elevação em 2024, para 3,1%. Um aumento ainda inferior à média pré-pandêmica de 3,8%.  

Se consideramos os anos de 2023 e 2024, a previsão de crescimento para os Estados Unidos e a zona do Euro é de 1,2% em 2023 a 1,4%, em 2024. Para a China, de 5,2% para 4,5%. Para a Índia, de 6,1% a 6,8%. E para a África, de 3,8 neste ano a 4,1% em 2024.

Para a América Latina e o Caribe, o FMI prevê um crescimento econômico de 1,8% em 2023, chegando a 2,1% em 2024, com previsões “ainda mais modestas”, destaca a reportagem, em suas maiores economias: o Brasil (1,7% em 2023 a 1,5% em 2024) e o México (1,7% a 1,6%).

Não é momento de limitar o gasto público, alerta Nações Unidas

Na semana anterior à divulgação do relatório do FMI, o Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais (DESA) das Nações Unidas lançou outro documento, The World Economic Situation and Prospects 2023 (178p.), apontando que a redução do gasto público “sufocaria o crescimento e afetaria desproporcionalmente os grupos mais vulneráveis, além de prejudicar o progresso na igualdade de gênero e as perspectivas de desenvolvimento por gerações”.

“Não é o momento de se pensar em curto prazo, nem em austeridade fiscal ou em medidas que aprofundem a desigualdade, aumentem o sofrimento e afastem, ainda mais, os países dos Objetivos do Desenvolvimento Sustentável (ODS)” afirmou Antonio Guterres, Secretário Geral da ONU, durante o lançamento do estudo.  Guterres e os demais economistas da DESA apontam que agora é o momento de “realocar e repensar as prioridades do gasto público, com intervenções diretas que gerem empregos e dinamizem o crescimento”.

O documento denuncia, inclusive, que “mais de 85% dos bancos centrais em todo o mundo apertaram a política monetária e subiram as taxas de juros que estavam em rápida ascensão desde o final de 2021, para lidar com as pressões inflacionárias e evitar uma recessão”. Enquanto isso, “a maioria dos países em desenvolvimento viu uma recuperação mais lenta do emprego em 2022 e continua enfrentando declínios significativos nesse campo”.

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Mais baixa previsão de crescimento em décadas…

A previsão da DESA para 2023 é de desaceleração da produção mundial para 1,9%, “uma das taxas de crescimento mais baixas em décadas, além da registrada durante a crise financeira de 2007 – 2008, e no auge da pandemia de Covid-19”, conforme o documento. Para 2024, a expectativa é de retomada, mas moderada, em torno de 2,7%.

Reportagem sobre o documento, publicada na IPS, comenta, também, a baixa previsão de crescimento do PIB dos Estados Unidos, 0,4% em 2023, e os impactos disso na economia global. Para a América Latina e o Caribe, o DESA estima um PIB de 1,4%, em 2023. “As maiores economias da região estão preparadas para uma desaceleração generalizada”, aponta.

Entre elas, o Brasil. “O PIB brasileiro “está projetado para desacelerar acentuadamente para apenas 0,9% em 2023, em meio a uma inflação ainda elevada, taxas de juros mais altas e crescimento mais lentos das exportações. As pressões de consolidação fiscal, incluindo o aumento dos custos do serviço da dívida, limitará a expansão de gastos sociais e investimentos públicos”.

Outro tema de impacto do documento é a questão da carestia e seus impactos na região. Em 2022, a inflação bateu recordes na Argentina, Chile, Colômbia e México e saltou de forma considerável na América Central e no Caribe.

Retorno à Celac

Chefes de Estado membros da CELAC em Buenos Aires, 24.01.2023. Foto: Ricardo Stuckert / PR

Em meio a esse complexo cenário, os representantes da Celac, a Comunidade dos Estados Latino-americanos e do Caribe, que agrega 33 países latino-americanos e caribenhos, reuniram-se em Buenos Aires, em 24 de janeiro. Desde 2021, por oportunismo ideológico do governo Bolsonaro, o Brasil havia suspendido suas atividades na entidade. Com a volta de Lula, o país resgata o protagonismo e articulação de ações e políticas integradas para o crescimento e o combate às desigualdades da região.

É o que se lê na Declaração de Buenos Aires, um documento de 28 páginas que aponta os principios e caminhos comuns aos 33 países membros do bloco. O texto traz uma contundente defesa dos direitos humanos e da democracia, celebra as “eleições livres, periódicas, transparentes” como “expressão da soberania dos povos”.

Em reportagem sobre o encontro, a IPS também destaca uma das demandas da Celac, diante do aumento da  dívida externa de muitos países do bloco. Às instituições financeiras internacionais, o documento exige condições mínimas de negociação que os permitam recuperar suas economias. Também é destaca a necessidade de os países da região garantirem a segurança alimentar de suas populações.

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