Lei da potência da física e espiral crescente da riqueza digital

Lei da potência da física e espiral crescente da riqueza digital

Uso a Lei da Potência da Física e a Espiral Crescente como metáforas ou analogias para a ilustração figurativa da abordagem da circulação de moeda digitalizada. Ambas apresentam diferentes aspectos dessa racionalidade.

A Lei da Potência (Power Law) é um princípio matemático observado em vários fenômenos físicos, sociais e econômicos, onde a relação entre duas quantidades se dá por uma função do tipo y = kxn, onde n é um expoente e k é uma constante. Em sistemas complexos, como a economia, ela descreve distribuições de riqueza, fluxos de capital e redes de transações financeiras.

No contexto da circulação de moeda digitalizada, a Lei da Potência, interpretada como uma forma de racionalidade do sistema, ilustra a distribuição assimétrica. O dinheiro digital tende a seguir um padrão onde uma pequena proporção dos agentes econômicos acumula uma grande parte da riqueza (como grandes investidores institucionais), enquanto a maioria detém parcelas menores.

Esse comportamento assimétrico reflete uma distribuição de poder econômico. Ele é comum em sistemas baseados em redes descentralizadas, como o dinheiro digital e criptomoedas.

A circulação de moeda digitalizada é vista como um fluxo capaz de seguir uma lógica de otimização e eficiência, onde agentes mais influentes (ou com maior acúmulo de capital) atraem mais fluxos de capital. Isso é uma forma de racionalidade emergente no sistema econômico-financeiro, onde capital adicional é alocado onde seja mais produtivo ou mais seguro, criando uma relação de desigualdade estrutural, mas também de eficiência na alocação de recursos.

A Lei da Potência, portanto, revela uma racionalidade subjacente na economia digital. Mostra, à medida que o capital circula, ele se distribui de maneira desigual, mas de acordo com um padrão previsível, onde agentes de maior capitalização atraem mais fluxos de capital, ampliando a diferença de estoque de riqueza.

Uso a espiral crescente para ilustrar o crescimento exponencial e os ciclos de retroalimentação positiva do capital financeiro digitalizado. Ocorrem no processo de acumulação de riqueza e circulação de moeda digitalizada.

A espiral crescente é uma forma visual de expressar o processo de crescimento contínuo. De maneira dinâmica, variando ao longo do tempo, se acelera caso novos ciclos de acumulação de capital sejam alcançados.

No contexto de circulação de moeda digitalizada, a espiral crescente representa os juros compostos. O processo de acumulação de riqueza por meio deles é um exemplo de sua aplicação. Quando o capital digital é investido e cresce a taxas compostas, o crescimento da riqueza se dá de forma acelerada ao longo do tempo, formando uma curva assemelhada a uma espiral.

A espiral crescente ilustra a retroalimentação positiva entre fluxo e estoque. Quando o capital circula e retorna ao sistema com lucros (via juros ou investimentos), ele aumenta o estoque de riqueza e alimenta novos fluxos de capital em ciclos subsequentes. Cada novo ciclo gera um aumento no estoque, e o processo se acelera progressivamente.

Uso essa metáfora também para ilustrar como as inovações tecnológicas no setor financeiro (blockchain, contratos inteligentes, novas plataformas de pagamento digital etc.) aumentam a capacidade de circulação de moeda digital, ampliando os fluxos econômicos. Esse processo de inovação cria um crescimento econômico sustentado, ilustrado pela espiral, onde a base monetária digital expande continuamente com o tempo.

 Comparando as duas metáforas, a Lei da Potência foca na distribuição assimétrica e na racionalidade estrutural da economia digital, onde fluxos de capital seguem padrões de otimização e acumulação desigual. Explica as diferenças de poder econômico e a lógica emergente da centralização de fluxos em torno de grandes players, isto é, investidores institucionais e acionistas estrangeiros.

Já Espiral Crescente foca no crescimento contínuo e nos ciclos de retroalimentação positiva ocorridos na acumulação de riqueza. Ela ilustra o processo de expansão contínua do capital, mostrando como o capital investido cresce de forma exponencial ao longo do tempo, especialmente, em um ambiente de juros compostos ou inovações tecnológicas.

Ambas as metáforas são úteis para captar diferentes aspectos da economia digital. A primeira enfatiza a racionalidade estrutural dos fluxos, enquanto a segunda revela a dinâmica de crescimento e os ciclos de expansão do capital.

A relação entre fluxo e estoque é revelada de forma clara por meio do conceito de juros compostos, atuantes como um mecanismo de ligação. Quando uma unidade de moeda digital é emprestada ou investida, ela gera um fluxo de retorno na forma desses juros sobre juros, compensadores do custo de oportunidade.

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Esse fluxo é reintegrado ao estoque de riqueza, criando um ciclo contínuo de expansão de capital. No fluxo inicial (empréstimo ou investimento), o investidor ou poupador coloca o seu dinheiro digital em circulação, seja através de um empréstimo ou aplicação em ativos financeiros.

O capital emprestado ou investido gera lucro para quem o utiliza. Esse lucro, quando parte retorna ao investidor, aumenta o fluxo de capital retornado ao ponto de origem, na forma de juros sobre juros até o vencimento.

Esse fluxo de juros é incorporado ao estoque inicial, aumentando o capital acumulado. Esse ciclo de reinvestimento e geração de lucros cria uma relação direta entre o fluxo contínuo de moeda digital e o aumento de estoque de riqueza ao longo do tempo.

Para garantir a consistência entre fluxo e estoque, o uso produtivo do capital é fundamental. Se a moeda digitalizada em circulação é efetivamente utilizada por terceiros para gerar retornos – como em empresas investem em novos produtos ou serviços –, ela mantém o sistema com crescimento sustentado. Os lucros obtidos pela atividade econômica produtiva alimentam a expansão do estoque de capital, sem gerar bolhas (descolamento diante o valor dos fundamentos) ou distorções.

No entanto, se os fluxos de moeda digitalizada forem mal utilizados, por exemplo, através de investimentos especulativos sem fundamento produtivo, cria-se uma inconsistência. Ocorre quando o fluxo de retorno esperado não se materializa, prejudicando a acumulação e a integridade do estoque de riqueza.

Adotando uma abordagem sistêmica e holística, o capital digital e sua circulação são vistos como parte de um sistema complexo e interdependente. A escrituração em tempo real torna os fluxos mais transparentes, e os mecanismos de acumulação, como os juros compostos, fornecem uma estrutura para entender a relação entre fluxo e estoque. A confiança nas instituições financeiras digitais e nos mecanismos de escrituração é crucial para essa relação permanecer consistente e sustentável no longo prazo.

Um problema monetário difícil de se superar é o da dupla assimetria do câmbio, sobrevalorizado de um país e sobredesvalorizado dos outros países, respectivamente, moeda nacional apreciada (facilitadora de importação) diante outra moeda nacional depreciada (incentivadora de exportação) como a da China. Essa dupla assimetria cambial causou graves consequências para a indústria do Brasil sem regime de câmbio fixo e com apreciação de sua moeda.

Segundo trabalho preparado por Cristina Fróes de Borja Reis para o IEDI, a  taxa de câmbio, ‘o preço dos preços’, juntamente com a taxa de juros, são as principais variáveis determinantes de custos e orientadoras dos planos de investimento de curto e longo prazo das empresas industriais.

Por ser uma variável relativa às cotações das moedas dos outros países, uma empresa atuante, ao mesmo tempo, no mercado doméstico e internacional deve considerá-la para elaborar suas estratégias de competitividade e produtividade. Em caso de significativas assimetrias cambiais, apesar das firmas se esforçarem para reduzir custos e promover melhorias de eficiência, dificilmente conseguem gerar aumentos de produtividade capazes de superar as vantagens de preço conferidas por altos diferenciais de câmbio entre as moedas dos países.

Esse é um dos principais problemas da indústria brasileira. Com a abertura comercial e financeira dos anos 90, com cinco anos de regime de câmbio fixo sobrevalorizado, cadeias produtivas industriais foram desmanteladas, centenas de empresas fecharam ou foram adquiridas por grupos maiores de acionistas estrangeiros, houve desnacionalização e, consequentemente, grande redução do emprego e do produto industrial. Lição de casa para críticos da “financeirização”: a defesa da moeda nacional importa, inclusive para evitar a desindustrialização.

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