Acordo Mercosul-UE é tema de conversa de Lula com presidente da Comissão Europeia
Durante a celebração do dia da Consciência Negra, o governo brasileiro anunciou um pacote de 13 medidas em favor das comunidades quilombolas, que historicamente resistiram à escravidão. Com um investimento de aproximadamente 20 milhões de reais, o pacote inclui a titulação de terras para 1.800 comunidades quilombolas, buscando reparar uma dívida histórica com essas comunidades. Lula destacou o objetivo de restaurar a realidade de uma sociedade democrática, reconhecendo as injustiças causadas pela supremacia branca ao longo da história do Brasil. “O que nós fizemos aqui hoje é o pagamento de uma dívida histórica que a supremacia branca construiu neste país desde que esse país foi descoberto e que nós queremos apenas recompor aquilo que é uma realidade de uma sociedade democrática”, disse o presidente.
O evento, que ocorreu no Palácio do Planalto, contou com a presença da ministra da Igualdade Racial, Anielle Franco, e de líderes de movimentos negros e quilombolas. De acordo com a venezuelana Telesur, entre as medidas estão a entrega de títulos garantindo posse a cerca de 300 famílias quilombolas e um aporte de 8 milhões de reais para um programa de qualificação profissional em atendimento psicossocial a famílias de vítimas de violência na Bahia e no Rio de Janeiro. As ações, divididas em quatro eixos, visam abordar direitos à vida, dignidade, educação, terra, memória e reparação.
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Lula e Ursula von der Leyen, presidente da Comissão Europeia, conversaram por telefone nesta segunda-feira (20), e falaram sobre o andamento das negociações do acordo entre o Mercosul e a União Europeia (UE). O presidente brasileiro expressou sua preocupação, considerando as exigências ambientais adicionais apresentadas pela UE como uma ‘ameaça’. A reunião aconteceu horas após a eleição, na Argentina, do ultradireitista Javier Milei – crítico ferrenho do Mercosul –, levantando incertezas sobre o destino do acordo.
O uruguaio El Observador relata que Lula será o anfitrião em 7 de dezembro de uma nova cúpula do Mercosul, no Rio de Janeiro, onde passará a presidência rotativa do bloco para o Paraguai. O presidente paraguaio, por sua vez, ameaçou suspender as negociações se não houver acordo antes de assumir a presidência. O contexto político na Argentina e a posse iminente de Milei aumentam as incertezas sobre o futuro do acordo, enquanto Lula busca avançar antes de passar a liderança do Mercosul.
A eleição de Milei gerou preocupações na UE, pois sua retórica anti-multilateralismo pode afetar as relações. Eurodeputados expressaram receios sobre a possível ameaça ao acordo UE-Mercosul. O contexto político na Argentina e a posse iminente de Milei aumentam as incertezas sobre o futuro do acordo, enquanto Lula busca avanços antes de passar a liderança do Mercosul.
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O La Nación apresenta reportagem sobre as reações dos líderes da América Latina à eleição de Javier Milei, relatando que “alguns chefes de Estado comemoraram a notícia, enquanto outros demonstraram sinais de preocupação e questionaram sua participação na cerimônia de posse”.
Luis Lacalle Pou, presidente uruguaio, recebeu a noticia com otimismo devido à possível aproximação nas relações bilaterais entre os países e, principalmente, pelas aspirações da administração libertária no âmbito regional e internacional. Em suas redes sociais, Lacalle Pou escreveu: “Cumprimento o presidente eleito Javier Milei. Temos muito a fazer em conjunto e para aprimorar nossas relações bilaterais”.
A vitória de Milei gerou expectativas no Paraguai, especialmente no contexto do conflito sobre os pedágios hidroviários. A Argentina cobra 1,47 dólares por tonelada de registro líquido desde janeiro, medida considerada discriminatória pelos países vizinhos. “Saúdo, em nome do povo paraguaio, o povo irmão argentino por uma jornada eleitoral exemplar. Parabenizo Javier Milei por sua vitória e estendo a mão cordial e fraterna do Paraguai para fortalecer as relações entre nossos países. Ao grande povo argentino, saúde!”, escreveu Santiago Peña, presidente paraguaio.
O presidente Lula elogiou nesta terça-feira (21), durante o programa Conversa com o Presidente, a capacidade de diálogo do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, com países que não compartilham a mesma orientação política do Brasil, e ressaltou: “Só espero que ele não vá atrás dessa nova experiência [econômica] que surgiu por aqui pelo continente”. Logo após a confirmação da vitória de Milei, no domingo (19), Lula escreveu em suas redes sociais: “A democracia é a voz do povo, e ela deve ser sempre respeitada. Meus parabéns às instituições argentinas pela condução do processo eleitoral e ao povo argentino que participou da jornada eleitoral de forma ordeira e pacífica. Desejo boa sorte e êxito ao novo governo. A Argentina é um grande país e merece todo o nosso respeito. O Brasil sempre estará à disposição para trabalhar junto com nossos irmãos argentinos”.
Já o presidente chileno Gabriel Boric teve nesta terça-feira (21) uma ‘conversa franca’ com Javier Milei, na qual “o bem-estar de ambos os povos foi colocado em primeiro plano”, informou a Presidência Chilena, sem divulgar mais detalhes, apenas que a chamada durou cerda de dez minutos. “Hoje, o povo argentino teve um dia democrático para eleger seu presidente pelos próximos quatro anos. Saúdo Javier Milei por sua vitória e Sergio Massa por seu digno reconhecimento da derrota. Desejo o melhor ao povo argentino e que saibam que sempre terão nosso respeito e apoio. Como presidente do Chile, trabalharei incansavelmente para manter nossas nações irmãs unidas e colaborando para o bem-estar de todos”, escreveu Boric no X, antigo Twitter, após a confirmação da vitória de Milei, no domingo (19).
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, referiu-se de forma contundente à vitória de Milei. Em um de seus tradicionais discursos televisionados, o líder chavista rotulou o presidente eleito como “neonazista”. “A extrema-direita neonazista venceu na Argentina. Dizemos aos argentinos: vocês escolheram, mas nós não vamos nos calar, porque a chegada de um extremista de direita com um projeto colonial, absolutamente colonial, submisso ao imperialismo norte-americano, é uma tremenda ameaça”, opinou. Além disso, enfatizou: “É uma direita que traz um projeto colonial para a Argentina, mas que pretende liderar um projeto colonial em toda a América Latina e no Caribe”. Durante seu programa semanal na televisão estatal, acrescentou: “Pretende acabar com o Estado”.
Andrés Manuel López Obrador, presidente mexicano, reagiu à vitória de Milei qualificando-a como um “gol contra” do povo argentino. “Com todo o respeito, foi um gol contra. Já é público e notório que não concordamos com aqueles que sustentam uma política autoritária, privatizadora, racista, classista”, indicou López Obrador, ao mencionar os falecidos ditadores Francisco Franco da Espanha, o chileno Augusto Pinochet e o argentino Jorge Videla, mas descartou compará-los com Milei.
“Venceu a extrema-direita na Argentina; é a decisão de sua sociedade. Triste para a América Latina, e logo veremos… O neoliberalismo já não tem uma proposta para a sociedade, não consegue responder aos problemas atuais da humanidade”, escreveu Gustavo Petro, presidente da Colômbia.
“Nosso governo parabeniza o povo da Argentina pelo segundo turno das eleições presidenciais realizadas em 19 de novembro, para escolher o novo mandatário, sendo eleito Javier Milei. Continuaremos fortalecendo as relações entre ambos os países”, diz o comunicado publicado pelo governo de El Salvador.
Luis Arce, presidente da Bolívia, saudou a decisão da Argentina, desejou sucesso a Milei, e garantiu que trabalhará por “relações sólidas” entre os países. No X, Arce escreveu: “O Estado Plurinacional da Bolívia será sempre respeitoso com a vontade democrática de nossos povos. Desejamos prosperidade ao povo irmão da Argentina e sucesso ao seu presidente eleito, Javier Milei. Trabalharemos para que as relações entre nossos povos permaneçam sólidas como até agora, com base na fraternidade, complementaridade e respeito mútuo”.