Cúpula dos Brics se encerra com “expansão histórica”, celebra Xi Jinping

Cúpula dos Brics se encerra com “expansão histórica”, celebra Xi Jinping

15ª Cúpula do BRICS surpreende e convida seis países a ingressarem no bloco: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Anúncio aconteceu nesta quinta-feira, encerrando o encontro em Joanesburgo, na África do Sul, entre 22 a 24 de agosto.

POR TATIANA CARLOTTI

A 15ª Cúpula do BRICS surpreende ao convidar seis países a ingressarem no bloco: Argentina, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita e Emirados Árabes. Anúncio aconteceu nesta quinta-feira, encerrando o encontro em Johanesburgo, na África do Sul, entre 22 a 24 de agosto.

“Esta expansão do número de membros é histórica”, disse o presidente chinês, Xi Jinping. “Isso mostra a determinação dos países do BRICS na unidade e cooperação com os países em desenvolvimento mais amplos”, reporta a Reuters. O líder chinês tinha sido o principal defensor da admissão de novos membros e de “um Brics alargado como uma forma de o Sul Global ter uma voz mais forte nos assuntos mundiais”, destaca reportagem do britânico The Guardian. Na avaliação do jornal, a expansão torna o bloco ainda mais díspar, “uma mistura de autocracias poderosas com democracias de rendimento médio e em desenvolvimento”.

“Para a China e a Rússia, esta [expansão] é uma vitória. Eles têm pressionado por isso há mais de cinco anos. Para a China, permite-lhes continuar a construir o que esperam ser uma ordem centrada em Pequim. Para a Rússia, que a acolherá no próximo ano, vê isto como uma tremenda oportunidade no seu atual momento de isolamento significativo. Se você é o Brasil, ou se você é a Índia, você está menos entusiasmado com a expansão, mesmo que eles estejam retoricamente comprometidos com ela, porque isso dilui o poder de sua participação em uma organização que inclui poder global como a China”, sintetiza Ryan Berg, chefe do programa para as Américas do Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais.

O presidente Lula se manifestou logo após o anúncio da expansão do bloco nas redes sociais. “Brics continuará sendo força motriz de uma ordem mundial mais justa e ator indispensável na promoção da paz, do multilateralismo e na defesa do direito internacional. Promoveremos a superação de todas as formas de desigualdade e discriminação. O Brics dá as boas-vindas aos novos membros neste importante compromisso”.

No argentino Página 12, reportagem traz as declarações de Lula sobre a Argentina e resposta afirmativa do presidente Alberto Fernandez, que fez um pronunciamento na tevê, explicando ao povo argentino o que significa a entrada do país no bloco. “Fazer parte do Brics nos fortalece e abre um novo cenário para a Argentina. Vamos ser protagonistas de um destino comum num bloco que representa mais de 40% da população mundial. Continuamos a fortalecer relações fecundas, autônomas e diversificadas com outros países do mundo”, disse.

Segundo La Nacion, a decisão surpreendeu o governo argentino, que nem havia enviado representantes para a cúpula dos Brics, e aponta o papel central de Lula para o ingresso do país no bloco. “A intervenção do presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva, interessado em sustentar a sua liderança regional, foi fundamental para destravar as negociações, segundo diferentes terminais da gestão oficial em termos de relações internacionais”, afirma o texto.

O primeiro-ministro da Etiópia, Abiy Ahmed também se manifestou. A aceitação do pedido da Etiópia para aderir ao grupo BRICS de economias mundiais marca um marco significativo para o país da África Oriental. “Um grande momento para a Etiópia, uma vez que os líderes do BRICS endossam a nossa entrada neste grupo hoje”, afirmou à agência russa RT.

A expansão foi analisada nos jornais internacionais. La Nacion aponta que os países do Brics “têm em comum a exigência de um equilíbrio econômico e político mundial multipolar, especialmente face à influência dos Estados Unidos e da União Europeia. Mas entre os candidatos à adesão, muitos países são tradicionalmente não alinhados, como a Indonésia e a Etiópia, enquanto outros são abertamente hostis aos Estados Unidos e aos seus aliados, como o Irã, Cuba e Venezuela. Por seu lado, os Estados Unidos declararam na terça-feira que não veem futuros rivais geopolíticos nos Brics”. Há também uma reportagem sobre o bloco e os países que o compõem.

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A Reuters avalia que “a expansão provavelmente significará mais divergências num clube que já luta para tomar decisões devido à necessidade de consenso”. Em outra reportagem, a Reuters ouve Tom Lodge, professor de estudos sobre paz e conflitos na Universidade de Limerick para quem “grande parte do entusiasmo sobre os BRICS é aspiracional. (Se) eles querem um reequilíbrio do poder econômico e das instituições de crédito não controladas pelos países ocidentais, os BRICS alcançaram francamente muito pouco em direção a esse objetivo”.

No Politico.eu, de Bruxelas, a avaliação é de que a expansão “reflete a falta de progresso no aprofundamento da atual aliança BRICS, que apesar de representar um terço do PIB global tem interesses divergentes – que vão desde a ascensão da China como uma superpotência global, ao não alinhamento da Índia, ao estatuto do Brasil como exportador agrícola”. A reportagem também salienta que “alguns dos novos membros, nomeadamente a Arábia Saudita e o Irã, tem um histórico de relações conturbadas, oferecendo poucas perspectivas de ação coerente para além do reforço da representação do Médio Oriente e de África no bloco”.

Também trouxeram reportagens sobre a ampliação do bloco o Financial Times, o espanhol El Diario, o chinês The Chosunnilbo, o francês L´Humanité.

Por fim, a agência EPBR, especializada em energia, informa que com a entrada dos três países da Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep): Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Irã, o Brics passa a somar uma produção conjunta de 42 milhões de boe/dia. É o correspondente a pouco menos da metade da produção mundial de cerca de 100 milhões de boe/dia, aponta o texto.

NDB

“O BRICS está ganhando popularidade porque oferece alternativas ao sistema dominado pelo Ocidente”, disse o deputado Nkosi Zwelivelile Mandela, referindo-se ao Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), credor internacional que financia projetos de infra-estruturas em países em desenvolvimento, aponta a agência RT

Nesta quinta-feira, a presidenta da instituição financeira, Dilma Rousseff, deu uma entrevista ao Âmbito, comemorando o ingresso dos novos membros. Ela também conversou com a agência russa RT sobre os investimentos do NDB na África, garantindo que o banco fornecerá às nações africanas uma ajuda financeira valiosa para enfrentar as suas necessidades mais urgentes. Ela também garantiu o financiamento de projetos relacionados à infraestrutura física e digital, bem como à educação.

Já o francês Le Monde, na reportagem As ambições frustradas do banco BRICS destaca que o NDB vem se colocando como alternativa às instituições de Washington, porém continua dependente de empréstimos em dólares e tem lutado para se financiar desde o início da guerra na Ucrânia.

ECONOMIA

Le Monde também traz uma reportagem sobre o setor automotivo brasileiro, destacando a saída da Ford em janeiro de 2021, a suspensão de contratos de 1.200 trabalhadores pela Mercedes-Benz em maio de 2023, a interrupção da produção da Volkswagen em junho deste ano, alegando”estagnação do mercado”. “Embora o país tenha capacidade para produzir 4,5 milhões de veículos por ano, o Brasil planeja fabricar apenas metade desse número em 2023, o que ameaça mais de 1,2 milhão de empregos, afirma a reportagem.

CPLP

No português Público, a saudação do secretário de Estado dos Negócios Estrangeiros e da Cooperação português, Lusa Francisco André, que saudou o regresso de Lula e do Brasil ao Conselho de Ministros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), com cúpula marcada para daqui a dois dias, na capital são-tomense. É uma “grande satisfação pelo regresso do Brasil à participação ao mais alto nível nestas cimeiras”, afirmou. Já o angolano O Guardião, por ocasião da cúpula, conversa com o diplomata brasileiro Juliano Féres Nascimento, sobre a força da CPLP.

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