BAHIA: Governo presente cuida da gente

Lula em Paris: “Não foram os povos africanos ou latino-americanos que poluíram o mundo”

Lula em Paris: “Não foram os povos africanos ou latino-americanos que poluíram o mundo”

“Quem poluiu o planeta nos últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a Revolução Industrial e, por isso, têm que pagar a dívida histórica”, complementou o presidente brasileiro ao discursar sobre o meio ambiente no show “Power Our Planet: Live in Paris” nesta quinta-feira (22). (Foto: Ricardo Stuckert/PR)

“Não foi o povo africano que poluiu o mundo, não foram os latino-americanos que poluíram o mundo. Na verdade, quem poluiu o planeta nesses últimos 200 anos foram aqueles que fizeram a revolução industrial e por isso tem que pagar a dívida histórica que têm com o planeta terra”, afirmou o presidente Lula, em seu discurso sobre o meio ambiente, no show “Power Our Planet: Live in Paris”, que aconteceu nesta quinta-feira (22), na capital francesa.

Durante o evento, organizado pela ONG Global Citizen, Lula também refirmou seu compromisso de zerar o desmatamento na Amazônia até 2030, e convidou a todos para a COP30, que acontecerá em 2025, em Belém. “A Amazônia é um território soberano do Brasil e, ao mesmo tempo, pertence a toda a humanidade. Faremos todo e qualquer esforço para manter a floresta em pé. Que [vocês] possam compartilhar com o povo brasileiro da preservação das nossas florestas e responsabilizar os países ricos para financiar os países em desenvolvimentos que têm reservas florestais”, frisou.

DE ROMA À PARIS

Nesta quinta-feira (22), o presidente acordou em Roma, onde concedeu uma entrevista coletiva (confira a íntegra) manifestando profundo descontentamento com a proposta enviada pela União Europeia aos países do Mercosul. Classificando-a de “neocolonial”, qualificou de “inaceitáveis” as exigências europeias e criticou as medidas protecionistas, em particular no tocante à agricultura. “A França é muito dura na defesa de seus interesses agrícolas, e é importante que eles entendam que os outros também tenham o direito de defender suas agriculturas”, afirmou.

Como destaca a Reuters, a UE e o bloco do Mercosul concluíram as negociações em 2019, mas o acordo está suspenso devido a preocupações com o desmatamento da Amazônia e o compromisso do Brasil com a ação contra as mudanças climáticas. “A carta adicional que a UE enviou ao Mercosul é inaceitável porque pune qualquer país que não cumpra o Acordo de Paris”, sendo que “nem eles (UE) cumpriram o Acordo de Paris”, lembrou Lula nesta manhã, ao dizer que o Mercosul está preparando sua resposta e pedir aos países da UE que sejam mais “sensíveis e humildes”.

Segundo a RFI, recentemente, o parlamento francês aprovou uma resolução pedindo ao governo Macron para se posicionar contra o acordo, alegando assimetrias e falta de reciprocidade no cumprimento das regras ambientais e sanitárias vigentes na Europa. A controvérsia será tema do encontro entre Lula e o presidente francês Emmanuel Macron nesta sexta-feira (23).

Após dois dias em Roma (ITA) , Lula desembarcou em Paris, por volta do meio-dia (7h em Brasília), onde almoçou com a presidenta do Banco dos Brics, Dilma Rousseff; e se encontrou com presidentes da África do Sul, Cyrill Ramaphosa (veja cobertura da Reuters); e de Cuba, Miguel Díaz-Canel Bermúdez. Ele também se encontrou com o primeiro-ministro do Haiti, Ariel Henry; e com o presidente da COP28 nos Emirados Árabes Unidos, Sultan Ahmed Al-Jaber. 

Agora a noite, após o show Power Our Planet: Live in Paris, ele e a primeira-dama Janja da Silva participam de um jantar oferecido pelo presidente da França, Emmanuel Macron e sua esposa Brigitte Macron.

NOVO PACTO GLOBAL DE FINANCIAMENTO

Lula participa em Paris da Cúpula para o Novo Pacto Global de Financiamento que contará com seis mesas redondas e a presença de representantes de 100 países, além dos controladores das principais instituições financeiras mundiais. O evento, inclusive, começou com o anúncio do FMI de um aporte de US$ 100 bi para os países pobres enfrentarem a pobreza e as mudanças climáticas, além de promoverem o desenvolvimento destaca a RFI.  Do encontro, além de Lula, participam os líderes latino-americanos Miguel Díaz-Canel (Cuba) e Gustavo Petro (Colombia), conforme destaca o Nodal.  

Junto com Macron, Biden e outros dez líderes mundiais, o presidente brasileiro é signatário de um documento em que se compromete a “avançar com medidas concretas” para uma “transição ecológica justa e inclusiva”. A carta foi publicada nesta quarta-feira no Le Monde e outros jornais mundiais, veja a íntegra na FSP.  

A presença de Lula em Paris é tema em vários jornais franceses. No Le Monde, artigo de Bruno Meyerfeld traz as dificuldades dos primeiros meses de governo Lula (Lula, uma imagem manchada no Brasil). No Le Parisien, Henri Vernet destaca o chefe de Estado brasileiro como a estrela da cúpula em Paris, observando que nenhuma reunião foi planejada com a esquerda francesa. No L´Humanité, Lina Sankari, em Como Lula conta com a social-democracia para governar observa que “depois de quatro anos de destruição metódica de instituições sob Jair Bolsonaro, retrocessos sociais e uma tentativa final de golpe de ativistas de extrema-direita em janeiro, o presidente Lula tem a pesada missão de dar novo fôlego a uma democracia sem sangue”.

ZANIN NO STF

A sabatina do Senado e consequente aprovação de Cristiano Zanin como ministro da Suprema Corte, por 58 votos a favor ante 18 contra, foi notícia internacional nesta quinta-feira. A Página 12 traz um perfil do “advogado de Lula que derrotou a Lava Jato”. Formado pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC), Zanin ocupará a décima primeira cadeira do Supremo Tribunal Federal, substituindo o ministro aposentado Ricardo Lewandowski. Zanin “se especializou no arcabouço teórico e prático do “lawfare”, o uso da máquina pública do Judiciário e do Ministério Público para instaurar na opinião pública a perseguição política dos acusados ​​de crimes”, ressalta a matéria. Ele também foi notícia no Público e em La Nación.

INTENTONA GOLPISTA

Com direito à chamada ao vivo da AFP, o início do julgamento no TSE que poderá tornar Bolsonaro inelegível até 2030, afastando-o do pleito de 2026, foi destaque nos principais veículos internacionais.

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Duas extensas reportagens sobre o tema foram publicadas no Financial Times. A primeira de ontem (21), intitulada “A discreta campanha dos EUA para defender a eleição do Brasil”, destaca o papel norte-americano, ou como ressalta o texto, o “discreto apoio norte-americano” à democracia brasileira. Segundo o FT, “o fato de a eleição não ter sido seriamente contestada é uma prova da força das instituições brasileiras. Mas também foi em parte o resultado de uma campanha de pressão silenciosa de um ano do governo dos EUA para instar os líderes políticos e militares do país a respeitar e salvaguardar a democracia, o que não foi amplamente divulgado. O objetivo era enfatizar duas mensagens consistentes para generais inquietos no Brasil e aliados próximos de Bolsonaro: Washington foi neutro no resultado da eleição, mas não toleraria qualquer tentativa de questionar o processo de votação ou o resultado.”

Nesta quinta, em outra reportagem, “Bolsonaro enfrenta proibição da política no início do julgamento eleitoral no Brasil”, FT aponta que “o processo no Tribunal Superior Eleitoral é o primeiro de vários processos judiciais contra o populista de direita a chegar à Justiça. Bolsonaro foi marginalizado do mainstream político desde que seus apoiadores invadiram e vandalizaram o congresso, a suprema corte e o palácio presidencial do Brasil em janeiro”. As duas reportagens estão com conteúdo aberto aos leitores (clique nas manchetes e acesse).

AINDA BOLSONARO

A condenação iminente de Bolsonaro também é tema em The Washington Post. Em Tribunal pode proibir Bolsonaro de concorrer ao cargo, o veículo destaca que esta é a primeira tentativa do Brasil de responsabilizar Bolsonaro, lembrando que “o julgamento mostra os diferentes caminhos que Brasil e Estados Unidos estão traçando após sofrerem insurreições semelhantes. Nos Estados Unidos, o ex-presidente Donald Trump, lutando contra acusações criminais por manipulação indevida de materiais classificados e falsificação de registros comerciais, está concorrendo para recuperar a Casa Branca”.

O julgamento do TSE também foi matéria no britânico Independent, ao destacar que “Bolsonaro abusou de seu poder ao usar os canais de comunicação do governo para promover sua campanha e lançar dúvidas infundadas sobre o sistema de votação eletrônica do país”, trazendo outras denúncias contra ele. Já o espanhol El Diário aponta que após a primeira sessão desta quinta-feira e as seguintes, marcadas para os dias 27 e 29 de junho, sete desembargadores “tomarão uma decisão que mudará a política brasileira”. No L´Humanité, a reportagem de Lina Sankari, Brasil: Bolsonaro usará seu julgamento para se tornar um “mártir da democracia”? pondera que o “veredicto esperado que poderia fortalecer sua aura política com seus apoiadores’.

O julgamento foi adiado depois que os advogados de Bolsonaro e do Partido Trabalhista Democrático, de centro-esquerda, que o processou por abuso de poder, fizeram seus comentários iniciais”, informou a Reuters, ao destacar que no centro do julgamento no TSE, está a tentativa de Bolsonaro, ocorrida a três meses do primeiro turno, de desacreditar o sistema eleitoral brasileiro e o próprio Tribunal, a partir de uma série de mentiras, durante reunião convocada com embaixadores a três meses do pleito em 2018.

O caso de Justiça também foi destaque na BBC, “Bolsonaro: começa o julgamento que pode afastar ex-líder do Brasil”; Reuters Bolsonaro fights for political future in Brazil electoral court; NPR Bolsonaro vai a julgamento por acusações de fraude eleitoral que poderiam impedi-lo de concorrer às eleições e em vários outros jornais, como os franceses La Croix, CNews, Sud-Ouest e Télégramme, entre outros…

DENÚNCIAS

Em meio as discussões ambientais, o Le Monde desta quinta traz uma reportagem imperdível sobre a Bunge, a principal importadora de soja da Europa, acusada de contribuir para o desmatamento no Brasil. Um relatório da ONG Mighty Earth, em parceria com o coletivo Repórter Brasil e a ONG Instituto Centro de Vida (ICV), apela aos fabricantes europeus, e em particular aos franceses, para pressionarem este poderoso comerciante de matérias-primas para mudar as suas práticas. O documento acusa a gigante Bunge de desempenhar um papel fundamental no desmatamento do cerrado brasileiro e insiste na urgência de mudanças na legislação europeia para proteger essa região, destacando a responsabilidade dos distribuidores e fabricantes europeus no fenômeno.

No Le Parisien, por sua vez, o destaque é a pesca ilegal no Brasil e a apreensão de 28 toneladas de barbatanas de tubarão. Segundo a reportagem, as barbatanas de cerca de 10.000 tubarões seriam enviadas para a Ásia, onde este prato tão apreciado é comercializado a 1.000 euros o quilo. “Esta é provavelmente a maior captura desse tipo de produto na história”, disse Jair Schmitt, diretor do Ibama. A mercadoria ilegal estava para ser exportada do aeroporto de São Paulo.

Já a Pátria Latina republicou denúncia de A Pública sobre a recusa de entrega pelos militares de cestas básicas aos povos yanomami. Segundo a reportagem, “a ajuda militar é solicitada desde março pela presidente da Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas), Joenia Wapichana, sem sucesso (…) Entregas pontuais têm sido feitas pela Funai com apoio aéreo, mas as cestas que deveriam ir por meio fluvial com o apoio militar não chegaram”, afirma a reportagem.

PESQUISA

Por fim, e não menos importante, a pesquisa da consultoria Genial Research/Quest foi destacada na edição argentina de La Política. Ela revela que Lula cresceu 8 pontos entre eleitores de Bolsonaro e que a aprovação do governo passou de 51 para 56%, graças a uma percepção positiva da economia. Entre os bolsonaristas, subiu de 14% para 22%. Segundo Felipe Nunes, diretor da pesquisa, “embora o índice positivo tenha se mantido estável, o índice regular aumentou de 29% para 32%. Ou seja, a melhora na aprovação veio de um público que considera regulamentar o governo”.

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