Ministro cobra desculpas de Milei a Lula
O presidente eleito da Argentina, Javier Milei, ofendeu o líder brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva e precisa se desculpar antes do início das negociações entre eles, disse um assessor próximo do líder esquerdista brasileiro nesta segunda-feira, lançando dúvidas sobre o futuro relacionamento entre os países, segundo a Reuters. O libertário de extrema direita Milei criticou Lula várias vezes, rotulando-o de “comunista raivoso” e “socialista com vocação totalitária”. “(Milei) ofendeu livremente o presidente Lula”, disse o ministro das Comunicações Sociais, Paulo Pimenta, a repórteres. “Cabe a Milei, como presidente eleito, ligar e pedir desculpas. Depois disso, eu consideraria a possibilidade de novas conversas.”
O argentino La Nación informa que o presidente Lula não comparecerá à cerimônia de posse, no dia 10 de dezembro, de Javier Milei, que venceu o segundo turno das eleições presidenciais de ontem contra o ministro da Economia, Sergio Massa, disse à AFP uma fonte do Palácio do Planalto. O assessor de política externa de Lula, Celso Amorim, disse anteriormente ao jornal O Globo que Lula não compareceria à cerimônia de posse do presidente eleito do La Libertad Avanza (LLA). “Pelo que conheço do presidente Lula, acho difícil que ele vá, porque se sentiu pessoalmente ofendido. Mas o Estado brasileiro estará representado”, disse ele. Posteriormente, consultada pela mesma agência de notícias, a fonte do Palácio do Planalto confirmou a ausência do líder brasileiro, sem justificar o motivo.
No La Nación, o governo de Lula terá que lidar com um líder que o critica abertamente, Javier Milei. As relações entre os dois países correm um grande risco de se deteriorar. Para Joe Biden, a Argentina é de pouca relevância, mas a comparação de Milei com Donald Trump será inevitável um ano antes da eleição presidencial dos EUA. Muitos comparam a vitória de Milei com a do republicano em 2016 e com a de Jair Bolsonaro no Brasil dois anos depois. Como ambos, Milei surpreendeu o establishment e os partidos tradicionais. Ele também alcançou enorme conectividade com seus seguidores em um populismo de direita.
A ironia da vitória de Milei é que ela se baseou em slogans usados pelo inimigo. “A esperança vence o medo” foi o slogan de Lula durante a campanha que o levou à presidência em 2003, e “la casta” foi o cavalo de batalha do esquerdista do Podemos na Espanha. Comunistas do mundo, unam-se – e abasteçam seu inimigo com ideias, diz o La Nación.
Jair Bolsonaro e Nayib Bukele (presidente e El Salvador) foram os dois primeiros convidados para a cerimônia de posse de Javier Milei, em 10 de dezembro. Eles são duas referências com as quais o libertário se sente identificado em termos de modelos. No caso do ex-presidente brasileiro, Milei construiu laços estreitos, especialmente com seu filho mais novo, Eduardo, que é responsável pelas relações internacionais, informou o site argentino La Política Online.
Donald Trump e Jair Bolsonaro lideraram a alegria depois que seu aliado argentino derrotou seu rival, o ministro da Fazenda peronista Sergio Massa, por quase 3 milhões de votos na eleição presidencial de domingo. O ex-presidente dos EUA previu que Milei “realmente tornaria a Argentina grande novamente”, enquanto o ex-presidente do Brasil aplaudiu a vitória da “honestidade, progresso e liberdade”. Os ativistas bolsonaristas e mileístas previram que a vitória de Milei seria a primeira de um trio de conquistas da direita que veria Trump e Bolsonaro recuperarem o poder em 2024 e 2026, diz o The Guardian.
Na Reuters: A vitória do libertário de extrema-direita Javier Milei nas eleições presidenciais da Argentina não prejudicará o acordo comercial UE-Mercosul e poderá acelerar a conclusão das negociações antes de ele assumir o cargo em 10 de dezembro, disseram diplomatas e especialistas em comércio na segunda-feira. Com a vitória garantida, espera-se que Milei diminua o tom de suas críticas de campanha ao mercado comum sul-americano e ao presidente esquerdista do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva, sem previsão de interrupção no comércio do Mercosul, disseram eles. Os ataques de Milei levantaram dúvidas sobre o futuro do Mercosul. “Lula provavelmente estará ainda mais ansioso para concluir o acordo agora”, disse um diplomata europeu.
O Financial Times traz reportagem sobre os quilombolas. Informa que pela primeira vez, um censo registrou o número de cidadãos que pertencem a esses grupos socioétnicos. Os quilombolas, como são chamados, somavam 1,3 milhão em 2022, de acordo com o IBGE. Com 0,7% da população total, eles não ficam muito atrás do 1,7 milhão de indígenas brasileiros. “Antes não tínhamos essa identificação de nossa etnia ou cultura”, diz Dorinha Calvacanti, chefe de uma associação de moradores em Muquém. “Foi um marco muito importante.”
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.