“Nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano”, diz Lula em Cabo Verde
Presidente busca estreitar laços com nações africanas em sua passagem por Cabo Verde, marcando um novo capítulo nas relações com o continente, focando na cooperação em setores como educação, indústria e agricultura para impulsionar o desenvolvimento conjunto
Durante seu encontro com o presidente do Cabo Verde José Maria Neves nesta quarta-feira (19), Lula expressou o desejo de fortalecer a cooperação entre o Brasil e a África, e enfatizou o compromisso em estabelecer laços produtivos e reatar relações com os países africanos. A agência cubana Prensa Latina reporta que Lula planeja visitar várias nações africanas nos próximos anos e pretende abrir embaixadas em países sem representação brasileira, buscando promover a cooperação em áreas como educação, indústria e agricultura.
Ele ressaltou a gratidão do Brasil pela cultura africana, destacando que a formação do país é fruto da diversidade da mistura de indígenas, negros e europeus. “Nós, brasileiros, somos formados pelo povo africano. A nossa cultura, a nossa cor, o nosso tamanho é resultado da miscigenação de índios, negros e europeus”, disse.
A busca por uma maior cooperação com a África é uma prioridade estratégica do governo brasileiro, e essa aproximação representa um novo capítulo nas relações internacionais do país. O objetivo é estabelecer parcerias mutuamente benéficas e promover o desenvolvimento conjunto entre o Brasil e o continente africano.
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“Queremos que parem a guerra”, disse Lula em pronunciamento nesta quarta-feira (19), reiterando a necessidade da formação de um grupo de países para convencer Moscou e Kiev a selarem um acordo de paz. A agência AFP ressalta que as declarações do presidente acontecem um dia após o término da Cúpula UE-CELAC, que reuniu países da União Europeia, América Latina e Caribe e que não conseguiu chegar a um acordo em uma declaração responsabilizando a Rússia pela guerra na Ucrânia.
Lula também se opôs aos esforços de imputar exclusivamente a Moscou a culpa pela contenda – informa a RT News –, com o argumento de que tanto o presidente ucraniano Vladimir Zelensky quanto o líder dos EUA, Joe Biden, compartilham igualmente a responsabilidade por não negociarem com o líder russo Vladimir Putin para evitar o embate. O presidente brasileiro ainda fez um alerta acerca da evidente exaustão global diante do conflito: “O mundo está começando a demonstrar cansaço. Os países estão se esgotando”, afirmou.
Durante a cúpula desta semana, líderes europeus buscaram uma declaração condenando as ações russas na Ucrânia, mas alguns países latino-americanos, como Brasil e Nicarágua, se opuseram ao uso de linguagem forte contra a Rússia no documento final. Todos os membros assinaram a declaração, exceto a Nicarágua, que rejeitou qualquer menção ao conflito na Ucrânia. Apesar do compromisso da OTAN com a Ucrânia, alguns oficiais ocidentais preveem um possível enfraquecimento do apoio devido à “fadiga de guerra” resultante do conflito prolongado.
Sobre nas negociações do acordo UE-Mercosul, Lula se mostrou otimista, afirmando que seria positivo concluí-lo durante a presidência espanhola do Conselho da União Europeia e a presidência temporária do Brasil no Mercosul. Segundo o estadunidense Politico, o presidente também criticou as exigências ambientais da UE: “A Europa escreveu uma carta agressiva, em que nos ameaçava com sanções e punições se não cumpríssemos [certas condições]”, disse ele. “Nós dissemos à UE que dois parceiros estratégicos não discutem através de ameaças, mas com propostas”, e acrescentou: “Em duas ou três semanas, apresentaremos nossa contraproposta”.
O colombiano El Tiempo destaca a “critica” de Lula sobre a posição de Gabriel Boric a respeito da guerra na Ucrânia durante a cúpula UE-Mercosul. O presidente chileno considerou “importante” que a América Latina diga “claramente” que o que está acontecendo na Ucrânia “é uma guerra de agressão imperial, inaceitável, na qual o direito internacional é violado”. “Entendo que a declaração conjunta está bloqueada hoje porque alguns não querem dizer que a guerra é contra a Ucrânia. Hoje é a Ucrânia, mas amanhã pode ser qualquer um de nós”, afirmou.
Perguntado sobre o posicionamento de seu companheiro chileno durante uma entrevista coletiva, Lula disse que Boric é um “jovem sequioso e apressado”, e continuou: “Não preciso necessariamente concordar com Boric. Os jovens estão com pressa. Já tive pressa como o Boric. No meu primeiro mandato participei de um G7 e queria que as coisas fossem decididas naquele momento, tem que entender que nem todo mundo tem a mesma pressa”.
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O Brasil teve crescimento econômico negativo em maio, com o monitor do PIB da FGV contraindo 3%, informa o Brazilian Report. A queda é atribuída principalmente ao fim da colheita de soja e às altas taxas de juros que afetaram os setores de serviços e indústria. O consumo das famílias se manteve resiliente, mas o investimento caiu 0,8% devido a resultados negativos em maquinário e equipamentos. Os números refletem a dependência do país no setor agrícola para o crescimento. Os números aumentam a pressão sobre o Banco Central para reduzir as taxas de juros em sua próxima reunião em agosto. Economistas preveem um corte de 0,5 ponto, levando a taxa Selic para 11,75% até o final do ano.
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Também do Brazilian Report chega a informação de que o governo federal propôs um projeto de lei para aumentar a proporção de etanol na gasolina de 18% para 30% e estabelecer metas de emissões para a aviação civil, com o programa “Combustível do Futuro”. A medida busca reduzir as emissões de gases de efeito estufa e promover o uso de combustíveis mais limpos. Caso aprovado, o projeto impulsionará a indústria de etanol no Brasil, que já é um dos maiores produtores do mundo. O programa também incentiva o uso de combustível de aviação sustentável, feito a partir de fontes como óleo de cozinha usado ou biomassa, para reduzir a pegada de carbono da aviação.
*Imagem em destaque: Cabo Verde, 19/07/2023, O presidente Lula, durante encontro com o Presidente do Cabo Verde, José Maria Neves. (Ricardo Stuckert/PR)