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O colapso da civilização

O colapso da civilização

A ONU declara que as alterações climáticas representam uma emergência sem precedentes. Nunca a destruição foi tão rápida e a comunidade internacional está falhando no combate a essa crise. Imagem: Pieter Bruegel, o Velho, ‘Dulle Griet’, 1563.

Na segunda-feira 5 de junho passado, como acontece nessa data todos os anos desde 1972, foi comemorado o Dia Mundial do Meio Ambiente. É a data escolhida pela ONU para conscientizar as populações do mundo da importância de preservar os recursos naturais. Só assim pode-se garantir a sobrevivência da vida no planeta Terra. Dois dias depois, cientistas de três países – Coréia do Sul, Canadá e Alemanha – anunciaram que o oceano Ártico não terá mais gelo em sua superfície dentro de poucos anos. A partir de 2039, para ser mais preciso.

Embora tenha acrescentado ao seu mostrador um toque de otimismo, com a exibição do percentual de energia renovável que o mundo passa a utilizar a cada dia, o ameaçador relógio do clima de Nova Iorque tem pouco a comemorar. O sombrio artefato da Union Square mostra o tempo que resta ao planeta. Se forem mantidas as emissões de carbono nos níveis de hoje, dentro em pouco a temperatura vai subir 1,5 graus Celsius e tornará insustentável a vida na Terra.

A ONU declara que as alterações climáticas representam uma emergência sem precedentes. Nunca a destruição foi tão rápida e a comunidade internacional está falhando no combate a essa crise. Os últimos cinco anos foram os mais quentes de toda a lembrança humana e a temperatura média aumentou quase 1 por cento. A Organização Mundial de Meteorologia – OMM – acredita que, na trajetória atual, o mundo caminha para um aumento de temperatura de 3 a 5 graus Celsius até o final do século. E a humanidade terá de procurar outro planeta para onde se mudar.

Em artigo recente, Liszt Vieira lembrou que a situação é tão grave que já se fala na possibilidade de colapso da atual civilização. A Terra já foi palco de cinco extinções em massa antes dessa que agora nos ameaça, assinala Liszt Vieira. Há 450 milhões de anos, 86% de todas as espécies foram mortas. 70 milhões de anos depois, 75%. 100 milhões de anos depois, 96%. 50 milhões de anos depois, 80%. 150 milhões de anos depois, 75% de novo. Com exceção da extinção dos dinossauros, todas envolveram mudanças climáticas.

Os tribunais

A nova frente de luta dos defensores da vida na Terra são os tribunais. Em vários países têm sido impetradas ações judiciais em nome do clima e contra os Estados, aqueles que definiram eles próprios as metas no Acordo de Paris e que não as cumprem. Algumas vitórias foram obtidas e são consideradas históricas, como aconteceu nos Países Baixos. Depois de várias vitórias da causa nas instâncias inferiores, o Supremo Tribunal determinou que o Governo da Holanda tomasse providências para uma redução de emissão de gases com efeito de estufa de pelo menos 25% em relação aos percentuais de 1990. Quem patrocinou a ação foi a Fundação Urgenda (https://www.urgenda.nl/en/home-en/), uma organização sem fins lucrativos da Holanda que visa ajudar a fazer cumprir os tratados ambientais nacionais, europeus e internacionais. Foi o primeiro caso e assim estimula outras ações judiciais contra o poder executivo em nome da luta pela sobrevivência do planeta. O advogado da Urgenda, Dennis van Berkel, disse que é inevitável o surgimento de novos casos porque a crise climática é demasiado séria para ser deixada em paz.

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No período em que foi Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Michelle Bachelet, ex-presidente do Chile, estimulou outros grupos em outros países a seguirem o mesmo caminho.

As ações que obrigam os governos a cumprirem os compromissos assumidos ganhou um reforço com a resolução do Conselho dos Direitos Humanos da ONU reconhecendo como um direito universal o acesso a um meio ambiente saudável e sustentável. A Assembleia Geral da ONU confirmou essa resolução.

Enquanto durou o famigerado Governo Bolsonaro, o Brasil andou na contramão. Bolsonaro, ao contrário de outros chefes de estado, não compareceu a nenhuma reunião de chefes de estado para tratar dos destinos do planeta. Na COP-25, realizada em fins de 2019 em Madrid, o Brasil deu vexame. A delegação chefiada por Ricardo Sales, o atabalhoado e mal-intencionado Ministro do Meio Ambiente na época, hoje deputado, tentou de todas as formas bloquear as resoluções da conferência. Só aderiu ao documento no final, depois de fortes pressões dos outros países.

Mais de cem mil pessoas fizeram uma marcha de protesto em Glasgow junto com várias outras pelo mundo assinalando um Dia Global pela Justiça Climática. Indígenas do Amazonas e do Quebec, cientistas e estudantes participaram defendendo a desobediência civil como o único meio de lutar contra as alterações climáticas. Não há mais confiança nas lideranças mundiais.

Os negacionistas que se recusam a acreditar nas ameaças do clima são aqueles mesmos que disseram que a terra é plana, são contra vacinas e alinham-se à extrema direita política.

Em sua última expedição, o quebra-gelo alemão Polar Stern constatou com surpresa que faltava gelo no Polo Norte. A placa de gelo polar tem hoje metade da espessura que tinha há 40 anos.

O tempo se esgota rapidamente para a possibilidade de vida na Terra, como nos lembra a cada segundo a contagem regressiva do relógio da Union Square.

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