Acordo quase unânime marca o fim da cúpula América Latina-EU

Acordo quase unânime marca o fim da cúpula América Latina-EU

Líderes dos blocos buscaram cooperação econômica e ambiental, sendo registrada apenas uma divergência no tema da guerra na Ucrânia. Acordo histórico destinará bilhões para projetos de desenvolvimento sustentável na região. Protestos e encontros bilaterais marcaram o evento

Do correspondente IPS em Bruxelas

BRUXELAS – A reunião de líderes da União Europeia (UE) e da América Latina e do Caribe, que terminou nesta terça-feira, 18, teve ampla concordância em promover a democracia, os negócios e a ação climática, mas não chegou a um consenso sobre a guerra entre Rússia e Ucrânia.

A Nicarágua, em apoio a Moscou, recusou-se a assinar o parágrafo 15 dos 41 que contém a declaração final desta terceira cúpula – oito anos após a segunda – entre a UE e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC).

Nesse parágrafo, os outros 59 países de ambas as margens do Atlântico expressaram “nossa profunda preocupação com a guerra em curso contra a Ucrânia”, responsabilizando as tropas russas pela invasão iniciada em fevereiro de 2022.

Essa guerra, afirmaram, “continua causando imenso sofrimento humano e está agravando as fragilidades existentes na economia global, restringindo o crescimento, aumentando a inflação, interrompendo as cadeias de suprimentos e elevando os riscos para a estabilidade financeira”.

Por isso, apoiaram as resoluções do Conselho de Segurança e da Assembleia Geral das Nações Unidas que pediram o fim da invasão russa e exigiram o respeito ao direito internacional, incluindo a soberania, independência e integridade territorial de todas as nações.

Além dessa divergência, os governantes europeus, latino-americanos e caribenhos comemoraram a retomada de seus encontros, seu diálogo político e seus acordos econômicos, bem como a cooperação em questões ambientais e climáticas.

Paralelamente, houve inúmeras reuniões bilaterais e em grupos, como a que tratou da crise política na Venezuela, entre figuras do governo e da oposição desse país, com os presidentes da Argentina, Alberto Fernández; Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva; Colômbia, Gustavo Petro, e França, Emmanuel Macron.

A cúpula também foi palco de um encontro entre empresários de ambas as regiões – uma Cúpula dos Povos – na qual líderes e ativistas de esquerda atuaram como palestrantes, além de pequenas demonstrações de protesto contra os governos de Bolívia, Cuba, Nicarágua e Venezuela, em frente aos locais da reunião.

No campo econômico e da cooperação, o destaque foi o anúncio da Comissão Europeia – o Executivo da UE – de assegurar o financiamento de 50,5 bilhões de dólares para mais de 100 projetos de desenvolvimento e conservação, até 2027, na América Latina e no Caribe, como, por exemplo, o desenvolvimento de parques industriais e cadeias de valor da economia verde no México, e no combate à poluição de bacias hidrográficas e no fornecimento de água à sua capital, na Guatemala.

Em El Salvador, o cofinanciamento do trem do Pacífico e da Linha 1 do Metrô de San Salvador; em Honduras, a construção de uma represa para produzir energia sustentável, e em Costa Rica, projetos de pesca e agricultura sustentáveis, eletrificação do transporte e financiamento e desenvolvimento de títulos verdes.

No Panamá, serão apoiados projetos de transição energética, e no Equador, a extensão e melhoria dos sistemas de esgoto e água potável, bem como o sistema andino de interconexão elétrica.

Para a Venezuela foi anunciado o apoio ao seu programa de redução de emissões de dióxido de carbono e metano em prol do clima, da preservação ambiental e da eficiência energética em sua província petrolífera de Monagas.

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Na Colômbia, o apoio seria para a produção de hidrogênio verde e energias renováveis, aumentando a conectividade à internet para 85% dos colombianos e contribuindo para a Linha 2 do metrô de Bogotá.

Com relação ao Peru, está prevista a promoção do turismo sustentável, o apoio aos seus planos de interconexão elétrica e a melhoria da mobilidade urbana em várias cidades. E na Bolívia, estão sendo explorados investimentos para explorar o lítio, um mineral estratégico para a transição energética global, do qual o país possui reservas abundantes.

No Brasil, os projetos se concentram principalmente na Amazônia, para evitar o desmatamento e promover a bioeconomia sustentável, além de financiar iniciativas de eficiência energética verde e promoção do hidrogênio verde.

No Paraguai, o projeto de uma nova fábrica de celulose com projeto de plantação florestal e renovação da rede de distribuição de energia elétrica.

Na Argentina, a atenção se concentra em cadeias de valor de matérias-primas críticas, como lítio e cobre, produção de energia renovável, investimento em eficiência energética, energias renováveis e bioeconomia.

No Uruguai, será aprovado a produção de hidrogênio renovável e a adaptação da infraestrutura do porto de Montevidéu, e no Chile, as cadeias de valor de matérias-primas críticas e a produção de combustíveis neutros em carbono.

Jamaica espera apoio em seu mercado de títulos verdes e para seus planos de renovação urbana, gestão de resíduos e microempresas.

Cuba aguarda apoio para sua indústria biotecnológica e para novas usinas eólicas e solares para aumentar sua produção de energia elétrica, enquanto a República Dominicana aguarda apoio para sua infraestrutura de transporte urbano e para a gestão de água e resíduos.

Belize deseja financiar pequenas infraestruturas para comunidades indígenas e crédito para pequenas e microempresas e agricultores, especialmente mulheres em comunidades rurais.

Para a Guiana, os recursos serão direcionados ao suporte de florestas, tratamento de águas e fabricação de produtos sanitários, e para as Pequenas Antilhas, investimento em tecnologia solar, eólica, para enfrentar a escassez crônica de água, adaptação às mudanças climáticas e combate à poluição oceânica.

No caso do Haiti, os programas anunciados se referem ao apoio à educação; em Barbados, aos programas de saúde e à mitigação e adaptação às mudanças climáticas; e em Trinidad e Tobago, aos temas de obtenção e tratamento de águas e o apoio à transição digital.

A declaração reiterou, no plano político, uma crença comum, reafirmando que “os valores compartilhados nos quais nossa parceria se baseia permanecem inalterados: resiliência, sociedades inclusivas e democráticas, a promoção, proteção e respeito de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais”.

Também “o estado de direito, a democracia livre, justa, inclusiva e transparente, eleições críveis e liberdade de imprensa, multilateralismo inclusivo e cooperação internacional, com base nos princípios e objetivos da Carta das Nações Unidas e do direito internacional”.

*Imagem em destaque: Mandatários e outras autoridades dos 60 países na terceira cúpula da União Europeia e da Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos em Bruxelas (Pool Moncloa)

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução de Marcos Diniz

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