Argentina: entre Massa e Milei

Argentina: entre Massa e Milei

De um lado, Javier Milei, que defende uma política de terra arrasada do Estado de Direito. A motosserra é o símbolo de sua campanha. De outro lado, Sergio Massa, que para superar a crise argentina propõe a valorização da política e o fortalecimento das instituições democráticas.

POR RENATO MARTINS

As eleições de domingo próximo, 19/11/23, poderão definir o futuro da Argentina para as próximas décadas, com repercussão no Mercosul e na integração sul-americana. Por isso, elas se revestem de singular importância para todos nós.

Esquematicamente, dois projetos políticos opostos se defrontam neste segundo turno.

De um lado, está a candidatura democrática e popular de Sergio Massa, que visa a superar a grave crise argentina através da valorização da política e do fortalecimento das instituições democráticas. Para surpresa geral, Massa chegou na frente no primeiro turno e tem chance de virar o jogo no próximo domingo. Para isso, ele precisa atrair o voto dos eleitores assustados com as propostas enlouquecidas de seu adversário, que nesta campanha já xingou o Papa Francisco e promete acabar com o Banco Central. A defesa da democracia confere legitimidade ao programa de governo de Sergio Massa e o diferencia de seu oponente da extrema-direita.

De outro lado, está o candidato ultra liberal Javier Milei, que defende uma política de terra arrasada do Estado de Direito. A motosserra é o símbolo de sua campanha. Para enfrentar a crise argentina ele alimenta a ilusão de destruir o país e recomeçar tudo do zero. É uma narrativa simplista, mas altamente aderente a quem perdeu a confiança nos políticos e a esperança na democracia.

Líderes da extrema-direita mundial tem recorrido a este discurso de ódio. Eles não fazem senão emular o fascismo do século passado. A motosserra de Milei equivale ao “me ne frego” dos camisas negras e à “arminha” dos bolsonaristas. No fundo, eles são todos iguais, e se reconhecem no desprezo à democracia. Sem prova alguma, Milei declarou na semana passada que houve fraude no primeiro turno, cujo resultado frustrou a sua pretensão de chegar à frente dos demais. Já vimos esse filme e sabemos como termina.

As sondagens dos institutos de pesquisa indicam que a diferença entre Massa e Milei vem caindo, o que torna impossível saber quem será o vencedor. Esta semana que antecede o pleito será decisiva e começa com o último debate eleitoral deste domingo apenas entre os dois candidatos – quem errar estará fora.

A disputa acirrada é sinal de que a Argentina está polarizada, a exemplo do que acontece em outras partes onde os partidos liberais perdem a ilusão de alcançar o poder e de governar com suas clássicas políticas elitistas e antipopulares, e se rendem ao modus operandi do fascismo do século 21.

Uma coisa é certa. Em caso de vitória da extrema-direita, não pensem que Milei vá deixar de cumprir o que prometeu na sua campanha contra o Estado e a democracia, por mais desastroso que isto seja para a Argentina. Nas relações exteriores, o candidato propõe sair do Mercosul, romper relações com a China e continuar os ataques ao presidente do Brasil. Ele só não diz como vai resolver a crise econômica argentina se isolando do resto do mundo. Por experiência própria, sabemos onde leva tudo isso. Com Milei, a Argentina poderá vir a se tornar o próximo pária internacional da América do Sul. O que seria péssimo para todos.

Por isso, é imperioso que no próximo domingo os argentinos elejam Sérgio Tomás Massa. Sua candidatura representa os valores democráticos que a Nação argentina vem construindo desde o fim da ditadura, motivo de orgulho de um povo que derrotou e condenou os responsáveis por um dos mais bárbaros regimes militares da América do Sul. Oxalá a vitória de Massa permita a retomada de uma aliança progressista da América Latina, desta vez com México, Brasil, Colômbia, Chie, Bolívia e Argentina à frente de um novo ciclo de integração econômica, política, social e cultural em benefício de todos.

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