Estados Unidos vetam um possível cessar-fogo em Gaza na ONU
Além de apelar a um cessar-fogo humanitário imediato, proposta dos Estados Árabes rejeitava o deslocamento forçado da população civil palestina – incluindo mulheres e crianças –, exigia a libertação imediata e incondicional de todos os reféns e apelava ao acesso humanitário sem obstáculos à Faixa.
POR CORRESPONDENTE IPS
NAÇÕES UNIDAS – Os Estados Unidos vetaram na última terça-feira (20), um projeto de resolução no Conselho de Segurança da ONU, apresentado pela Argélia em nome dos Estados Árabes, que exigia “um cessar-fogo humanitário imediato que deve ser respeitado por todas as partes” na Faixa de Gaza.
O texto recebeu 13 votos a favor, um contra (Estados Unidos) e uma abstenção (Reino Unido). Para ser adotado, o projeto de resolução deveria receber pelo menos nove votos a favor e não ser vetado por nenhum dos cinco membros permanentes do Conselho (China, França, Rússia, Reino Unido e Estados Unidos).
Além de apelar a um cessar-fogo humanitário imediato, o texto rejeitava o deslocamento forçado da população civil palestina – incluindo mulheres e crianças – em violação do direito internacional, exigia a libertação imediata e incondicional de todos os reféns e apelava ao acesso humanitário sem obstáculos à Faixa.
O curso atual da guerra em Gaza eclodiu depois que militantes do movimento islâmico Hamas atacaram o sul de Israel em 7 de outubro, causando 1.200 mortes, centenas de feridos e fazendo 240 reféns, segundo Tel Aviv.
Israel lançou uma operação militar em grande escala na Faixa – 365 quilômetros quadrados e 2,3 milhões de habitantes – que em quatro meses deixou, segundo fontes de Gaza, mais de 29 mil mortos, 69 mil feridos, milhares de desaparecidos e cerca de dois milhões de pessoas deslocadas de suas casas.
Centenas de milhares de pessoas deslocadas estão amontoadas na cidade de Rafah, no sul da Faixa e na fronteira com o Egito, sob cerco do exército de Israel que prepara um ataque que, temem as agências da ONU, poderá causar uma catástrofe humanitária.
Os serviços regulares de acesso a água, alimentos, combustível, cuidados médicos, comunicações e educação desapareceram da Faixa, e muitas das estruturas que os forneciam, bem como dezenas de milhares de casas, foram destruídas.
O Conselho de Segurança da ONU tentou várias vezes, sem sucesso, aprovar uma resolução para garantir um cessar-fogo e garantir a entrada de assistência humanitária às centenas de milhares de famílias deslocadas pelos combates.
Na sessão desta terça-feira, os Estados Unidos distribuíram um projeto de resolução alternativo ao da Argélia, em apoio a um cessar-fogo temporário em Gaza, à cessação dos combates “o mais rápido possível” e exigindo a libertação de todos os reféns ainda detidos pelo Hamas, cerca de cem.
Antes da votação do projeto de resolução argelino, a Embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, afirmou que a sua delegação estava trabalhando num acordo sobre os reféns.
“Às vezes, uma diplomacia difícil leva mais tempo do que qualquer um de nós gostaria”, disse Thomas-Greenfield. “Qualquer ação que este Conselho tome deverá ajudar, e não prejudicar, estas delicadas negociações em curso”, acrescentou.
Na sua opinião, o texto apresentado pela Argélia não proporcionou uma paz duradoura, mas prolongou o cativeiro dos reféns e a crise humanitária.
Diplomatas ocidentais viajam para capitais do Médio Oriente tentando chegar a um acordo sobre reféns e a entrada de ajuda humanitária na Faixa.
Entretanto, o governo do primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, recusa um cessar-fogo por tempo indeterminado, assim como retirar suas forças de Gaza ou desistir de um ataque a Rafah para eliminar redutos que a milícia do Hamas ali teria.
Thomas-Greenfield também disse que “é hora de este Conselho condenar o Hamas”, o que o Conselho de Segurança não fez explicitamente.
Durante o debate, o embaixador russo, Vassily Nebenzia, afirmou que Washington “continua a dar a Israel uma licença para matar”, e por isso “pedimos aos membros do Conselho que se oponham à anarquia de Washington”, uma vez que “a opinião pública já não perdoará a inação do Conselho de Segurança.”
O Embaixador israesense Gilad Erdan afirmou que o Conselho se reuniu repetidamente “sobre a mesma questão falha: a exigência de um cessar-fogo”.
Essa “bala de prata” apenas garantiria a sobrevivência do Hamas, disse Erdan, e “seria uma sentença de morte” para israelenses e habitantes de Gaza”, uma vez que a milícia islâmica “continuará a derramar o sangue de inocentes”.
Erdan sublinhou que nenhuma vez desde 7 de Outubro, o Conselho condenou o Hamas: “Condenem o Hamas como Conselho, façam-no pelo bem dos reféns”, disse ele.
Embaixador e observador permanente da Palestina na ONU, Riyad Mansour, afirmou que o projeto de resolução liderado pela Argélia foi apresentado “precisamente porque Israel persiste em sua arremetida apesar dos apelos quase unânimes da comunidade internacional a favor de um cessar-fogo”.
Mansour lembrou as medidas provisórias do Tribunal Internacional de Justiça que ordenam que Israel cesse todos os atos de genocídio, incitação ao genocídio e garanta o acesso humanitário ao povo palestino “que enfrenta todos os dias a morte, a fome e os repetidos deslocamentos forçados por toda Gaza”.
Publicado na Inter Press Service.
A Embaixadora dos EUA, Linda Thomas-Greenfield, vota contra o projeto de resolução, apresentado pelos países árabes, para que o Conselho de Segurança da ONU ordene um cessar-fogo em Gaza. A ofensiva do exército israelita e a crise humanitária afeta mais de dois milhões de palestinos que continuam no território. (Foto: Manuel Elias/ONU)
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