O grande negócio do crime
São centenas os grupos dedicados a todos os crimes que existem no mundo. Eles testemunham a doença das sociedades, operam na mais estrita organização empresarial capitalista e representam terrível ameaça. Confundem-se com as atividades econômicas legais, chegam a dominar importantes empresas, financiam a política, corrompem a polícia e cada vez aproximam-se mais do poder político.…
A criminalidade organizada cada vez mais violenta espalha-se por todos os países do mundo. Explora o tráfico de drogas e de órgãos humanos, a prostituição e a escravização de crianças, homens e mulheres ao mesmo tempo em que se revela uma doença endêmica e perigosa que ameaça as sociedades e a própria civilização.
O terrorismo é o que mais preocupa as autoridades, mas a cada dois minutos um tipo diferente de crime é denunciado. Além do terrorismo, atraem a atenção da polícia o tráfico e exploração sexual de crianças, passando pela corrupção e violência nos esportes, tráfico de drogas, cibercrimes, crimes financeiros, tráfico de pessoas, sem esquecer os clássicos crimes de homicídio, assaltos e roubos a formar o elenco da criminalidade. E também os crimes menores e recorrentes como furto de carteira, carro e golpes em turistas.
Mas há um novo fenômeno que expande e dá força à criminalidade em todo o mundo: o fortalecimento das organizações criminosas, sejam aquelas tradicionais ou as novas que surgem com novos métodos e novas tecnologias. Muitas delas adotam crenças ideológicas de extrema direita e seus membros exibem simbologias nazifascistas em tatuagens pelo corpo.
Segundo a Europol, os grupos de crime organizado em atuação já são mais de cinco mil só na Europa, a maior parte dedicada ao tráfico de drogas, que aparece sempre ligado ao tráfico de pessoas. Diz o relatório policial que é “uma das atividades mais generalizadas e rentáveis para a criminalidade organizada dentro da União Europeia”.
As principais organizações
Trago como exemplos das associações formadas para o crime algumas das mais nefastas e representativas.
“Los Zetas” opera no México e foi formada em 1999 por militares que deixaram o Exército para se dedicarem ao tráfico de drogas. É um dos cartéis mais poderosos e temidos, tecnologicamente avançado, envolve-se também em extorsão, sequestro e assassinato por encomenda. Costuma exibir como troféu a cabeça degolada das suas vítimas.
Outra poderosa organização mexicana é o “Cartel de Sinaloa”, responsável pela maior parte do tráfico de drogas no México e que domina o mercado americano de entorpecentes. Possui, segundo a polícia, um enorme patrimônio e se ramifica pela própria polícia, pelo mundo dos negócios e pela política.
A “Camorra”, italiana, opera desde o Século 19, surgiu na prisão, como outras quadrilhas criminosas. Está sediada em Nápoles, domina toda a região da Campania e suas raízes espalham-se por toda a sociedade. Tem mais de sete mil membros, possui mais de cem clãs, é maior do que a máfia siciliana. Temida pela violência com que reage a qualquer oposição a suas ações, suas especialidades são a lavagem de dinheiro, falsificação, extorsão, tráfico de drogas, corrupção política, homicídio e roubo.
Embora seja um fenômeno italiano, assim como são as milícias no Rio de Janeiro, os grupos mafiosos atuam em todo o continente europeu, principalmente os mais conhecidos ‘Ndrangheta, Camorra e Cosa Nostra. Existem outras organizações menores e mais recentes na Itália como a Stidda (Sicília central), a Sacra Corona Unita (região da Puglia), o Bando della Magliana (Roma) e, a mais recente de todas, a denominada “Máfia Capital”.
Trata-se de um tipo de organização criminosa que tem sua origem anterior à unificação do território italiano, na segunda metade do século XIX. De origem rural e estruturada com base nas relações familiares, cresceu onde não existia ou era escassa a presença do Estado. Ganhou fama internacional nos anos 1950, quando implantou uma lucrativa indústria de sequestros.
Imigrantes de El Salvador nos Estados Unidos, fugidos da guerra civil, fundaram em Los Angeles uma gangue violenta com o nome de Mara Salvatrucha 13 (MS-13). Suas especialidades são assassinato, tráfico de drogas, sequestro, invasão de domicílio e assalto a mão armada. Tem ramificações na América Central, no Canadá e na Espanha. Seu nome vem da combinação de “Mara”, gíria que significa “bando”, gangue de rua, e “salvatrucha, palavra usada para designar os que vêm de El Salvador.
PCC
A maior organização criminosa no Brasil, um país com uma das maiores taxas de homicídios do mundo, é o PCC-Primeiro Comando da Capital. Possui cerca de 13 mil membros, metade deles operando de dentro da prisão. É uma das organizações mais audaciosas e perigosas do país. Foi formada como retaliação ao chamado massacre de Carandiru, quando 111 presos foram mortos pela polícia durante a repressão a uma rebelião, em 1992. Seus principais negócios são o tráfico de drogas, assaltos a bancos, sequestro e extorsão. É responsável por coordenar violentos ataques nas ruas de São Paulo, em cidades do interior e dentro das próprias prisões.
Fundada na Rússia por Sergei Mikhailov, que era conhecido como um empresário respeitável, a Solntsevskaya Bratva, conhecida como Bratva, é hoje um braço da rede da Máfia Russa e se dedica a atividades legítimas ao lado de contrabando roubado, assassinatos por encomenda, prostituição, extorsão e até ao comércio de material nuclear. Tem conexões com os serviços de inteligência e opera também nos Estados Unidos e países da Europa.
Personagem de filmes policiais, estrela numa grande diversidade de artigos nos jornais do mundo, a centenária máfia japonesa Yakuza, também conhecida como Yamaguchi Gumi e Gogudô, é uma empresa diversificada que fatura mais de 80 bilhões de dólares por ano e é formada por cerca de 500 mil membros. Seus principais negócios são o tráfico de drogas, extorsão e jogos de azar. Opera internacionalmente e domina pelo terror os bairros asiáticos que existem nas principais cidades do mundo.
São centenas os grupos dedicados a todos os crimes que existem no mundo e seria ocioso enumerá-los aqui. Eles testemunham a doença das sociedades, operam na mais estrita organização empresarial capitalista e representam terrível ameaça. Confundem-se com as atividades econômicas legais, chegam a dominar importantes empresas, financiam a política, corrompem a polícia e cada vez aproximam-se mais do poder político. Em alguns países já chegaram ao poder e sequestraram o Estado.
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).