Imagem 1

50 anos do golpe: Viva Chile! Comitiva brasileira avança em conquistas esperadas há meio século.

50 anos do golpe: Viva Chile! Comitiva brasileira avança em conquistas esperadas há meio século.

O Brasil pede desculpas pela primeira vez ao povo chileno por ter dado apoio ao golpe, à ditadura e à repressão política e deverá ter o seu próprio Museu da Memória e dos Direitos Humanos.

O grupo “Viva Chile!” – com mais de 160 ex-exilados brasileiros e acompanhantes – concluiu a missão coletiva a que se propôs em Santiago, de 09 a 13 de setembro, superando, e muito, as expectativas iniciais dos organizadores. Mais de 500 participantes e ativistas assinaram o Manifesto do grupo em agradecimento ao povo chileno, ao governo socialista de Salvador Allende e em defesa da democracia (leia a íntegra clicando aqui).

Em poucos dias, a história se condensou apontando para conquistas pelas quais se luta há mais de cinco décadas: o compromisso do governo brasileiro de criar o Museu da Memória e dos Direitos Humanos; o pedido de desculpas do Brasil ao Chile por ter dado apoio ao golpe e participado da repressão política; a homenagem oficial aos seis brasileiros assassinados pela ditadura chilena expressa em metal e pedra na placa instalada na Praça Brasil, em Santiago.

Além da caravana Viva Chile!, o Brasil foi representado oficialmente nos eventos políticos pelo Ministro da Justiça e da Segurança Pública, Flávio Dino,  e pelo Ministro dos Direitos Humanos e da Cidadania, Silvio Almeida, acompanhado pelo seu Assessor Especial de Defesa da Democracia, Memória e Verdade, Nilmário Miranda.

O Ministro Sílvio Almeida reafirmou os compromissos do governo brasileiro com a agenda principal no Chile: vocês não estão sozinhos nesta luta; o governo do Presidente Lula está ao lado de vocês e nós somos aliados para realizar conquistas no campo fundamental dos Direitos Humanos que têm sido postergadas ao longo da história.

No ato de inauguração da exposição de fotos de Evandro Teixeira, Fotoperiodismo y ditadura: Brasil 1964 / Chile 1973, Sílvio Almeida assumiu o compromisso de criar no Brasil o Museu da Memória e dos Direitos Humanos, no que foi apoiado fortemente pelo Ministro Flávio Dino.

Outra conquista significativa aconteceu na cerimônia em memória dos brasileiros exilados no Chile que foram presos, torturados e assassinados ou desapareceram durante o golpe de Estado de 1973, inclusive com a participação da repressão da ditadura brasileira.

O Ministro da Justiça do Brasil, Flávio Dino, declarou:

 “Estamos aqui pedindo desculpas ao povo chileno porque a ditadura brasileira contribuiu para o golpe militar”.

“Para mim é muito doloroso, mas necessário, dizer que eu acuso e condeno a ditadura brasileira por ter colaborado com o golpe no Chile, essa é uma mancha na história brasileira que merece ser lembrada para que não se repita e é por isso que nós estamos aqui fazendo uma reparação histórica que é intergeracional, mas também internacional, nós estamos aqui também pedindo desculpas ao povo chileno porque a ditadura brasileira contribuiu para um golpe militar aqui no Chile há 50 anos”.

Pela primeira vez nestes 50 anos, uma autoridade brasileira no nível do Ministério da Justiça pede desculpas ao povo chileno pelo papel desempenhado por seu país – na época liderado pelo ditador Emílio Garrastazu Médici – durante o golpe civil-militar e a ditadura chilena.

A Prefeita de Santiago, Irací Hassler, filha de brasileira, agradeceu:

“Quero valorizar profundamente e agradecer as palavras dos ministros e especialmente aquelas que apontam para um pedido de desculpas do Estado brasileiro pelo papel que a ditadura brasileira também desempenhou na ditadura chilena, elas me parecem de grande significado”.

Veja Também:  Foco de Lula será RS e viagem ao interior de SP; Congresso tem semana agitada e corte britânica decide futuro de Assange

A cerimônia realizada na Praça Brasil, em Santiago, homenageou a memória de Jane Vanini, Luiz Carlos de Almeida, Nelson de Souza Khol, Nilton da Silva, Túlio Quintiliano Cardoso e Wanio José de Mattos, cidadãos brasileiros que se refugiaram no Chile após o golpe militar de 1964 e que foram vítimas da ditadura chilena. Na ocasião, foram instaladas duas placas com os nomes deles. Uma delas será transferida posteriormente para a sede da Embaixada brasileira no Chile, atualmente em reforma. O embaixador do Brasil no Chile, Paulo Roberto Soares Pacheco, assumiu esse compromisso no seu discurso no ato.

Diálogo com Lula

No seu discurso, Flávio Dino contou que estava na cerimônia oficial no Palácio La Moneda quando recebeu uma ligação do Presidente Lula, que lhe chamava de uma escala na Tunísia na viagem de volta da Índia – do G20 – pro Brasil.

“Onde você está?”, perguntou Lula após os cumprimentos.

“Estou onde o senhor disse para eu estar, Presidente, lhe representando e ao governo brasileiro aqui no Chile, juntamente com o ministro Sílvio Almeida”, respondeu Flavio Dino.

Lula fez questão de dizer que estava acompanhando a programação de perto e reforçava os cumprimentos ao Presidente Gabriel Boric e demais autoridades presentes.

O ministro contou também que, além de dar os cumprimentos de Lula a Boric, disse a ele que a comitiva de mais de 160 ex-exilados brasileiros e acompanhantes organizada no grupo “Viva Chile!” era a maior e mais expressiva dos países presentes aos eventos políticos no Chile.

Boric ficou alegremente surpreso e agradeceu ao ministro brasileiro.

A cerimônia na Praça Brasil foi aberta pouco antes das 10 h do dia 12 de setembro com os depoimentos de três representantes do “Viva Chile!”: Sílvia Whitaker, Flávia Quintiliano e Naná Whitaker.

(Leia o depoimento de Sílvia Whitaker clicando aqui).

Os ministros brasileiros e suas comitivas, após o evento, dirigiram-se diretamente ao aeroporto de Santiago pra retornarem ao Brasil.

O grupo Viva Chile!, que já fizera no dia anterior visita guiada ao Estadio Nacional Memoria Nacional, no qual grande parte dos participantes estiveram presos, foram torturados e presenciaram companheiros serem levados para serem executados, dedicou-se ainda a outras agendas importantes da programação: depositou flores na estátua de Salvador Allende ao lado do Palácio La Moneda e participou de visita guiada ao próprio Palácio no dia seguinte, entre outras atividades.

Viva Chile! se torna assim uma iniciativa vitoriosa, que deixa frutos de significado histórico e certamente terá continuidade participando na realização efetiva das conquistas e dos compromissos obtidos.

Tagged: , , , ,

Leave comment