A Onda Verde
Eles crescem em todo o mundo porque reconheceram, antes de outros partidos políticos, as ameaças de um futuro em que as demandas da população humana, em constante crescimento, superam a capacidade da Terra em atendê-las. O futuro traz consigo, se o mundo se mantiver impassível, a certeza de um desastre.
A consciência de que o mundo caminha para o desastre e que os mitos sobre o fim do mundo podem não ser exatamente produtos da imaginação pessimista da humanidade, inspiraram o aparecimento dos partidos verdes. Inicialmente na Europa, ampliaram-se para praticamente todos os países, que hoje possuem um movimento repleto de advertências, reivindicações e agitações promovidas pelos verdes. No continente europeu, eles estão em 29 países, dois a mais do que possui a própria União Europeia.
Não é exatamente uma tarefa fácil classificar os verdes no espectro político. Em alguns países eles estão mais à direita, em outros mais à esquerda e têm feito alianças políticas inclusive com partidos de direita para disputar eleições. No geral são razoavelmente bem sucedidos e apresentam tendência de crescimento. Seria mais adequado talvez os definir quase todos como de centro esquerda, embora a origem de um dos partidos pioneiros, o partido verde alemão, seja as campanhas anticomunistas que antecederam o fim da Deutsche DemokratischeRepublik, a Alemanha Oriental, e a unificação do país.
Die Grünen
O Partido Verde Alemão (Die Grünen) vem desde 1979. Depois da unificação fez a fusão, por afinidades ideológicas, com o Aliança 90 (Bündnis 90), que vinha da oposição ao governo da Alemanha Oriental. A convivência inicial foi difícil, mas as contradições acabaram por ser resolvidas. O partido unificado obteve algumas vitórias significativas, como o fechamento das centrais nucleares do país até 2022, depois de promover a mobilização da opinião pública diante do desastre nuclear de Fukushima, no Japão, em 2011, quando três reatores derreteram em seguida a um tsunami.
O partido tem assentos em todos os parlamentos regionais e possuirepresentação no parlamento da União Europeia. Constitui-se hoje na terceira força política da Alemanha. Sua plataforma destaca o desenvolvimento sustentável, respeito pelo meio ambiente, proteção dos recursos naturais e defesa da energia renovável. Defende também uma renda básica de cidadania e a ampliação da previdência social, além de reivindicar direitos para os imigrantes numa sociedade multicultural.
Existem duas alas ideológicas no partido verde alemão. Fundis, palavra que define uma posição mais radicalizada, anticapitalista e pacifista; e outra denominada Realo, defensora da Realpolitik, de índole reformista. Nesta última milita hoje Daniel Cohn-Bendit, que se destacou quando estudante nas lutas radicais de 1968 em Paris.
Nas eleições regionais de 2019, Die Grünen chegou a aliar-se a alguns partidos de direita, na prática da chamada Realpolitik.
Os verdes da França
Eles se autodenominam Europe Ecologie-Les Verts (EELV). Têm origem no LesVerts, que existiu de 1984 até 2010, quando assumiu a forma atual. Com a vitória de Emmanuel Macron em 2017 o partido enfrentou uma crise de representação, sem deputados no parlamento. Nas eleições de 2019, no entanto, definindo-se como um partido progressista, humanista, antiliberal e de oposição ao sistema, surpreendeu a todos ao receber 13,5 por cento dos votos e obtendo 13 assentos no Parlamento europeu, algo que nenhum instituto de pesquisa havia previsto. Ultrapassou com folga todas as outras siglas de esquerda, tornando-se a terceira força política da França, depois do Reunião Nacional, de extrema direita, liderado por Marine Le Pen, e do centrista A República em Marcha, de Macron. Seu líder Yannick Jadot, que é também diretor de campanhas do Greenpeace, falou de uma “onda verde” varrendo a Europa.
Europe Ecologie defende a igualdade de direitos entre os casais, inclusive os casais homossexuais, a eutanásia como uma escolha para o fim da vida, a legalização das drogas leves com a taxação da sua produção e comércio, o respeito à biodiversidade e o direito de voto para os estrangeiros em eleições locais. Sua plataforma considera que um mundo como o atual, onde subsistem profundas desigualdades sociais, não é durável. E que os ganhos de uma pessoa devem considerar sua contribuição à sociedade e não apenas à economia e ao comércio.
A onda verde
Na Itália, a Federação dos Verdes (Federazione dei Verdi) é o terceiro maior partido da Itália, com cerca de 60.000 membros e 1,5 milhões de eleitores registrados. É o partido mais popular entre os jovens, os eleitores urbanos e os eleitores preocupados com o meio ambiente.
Na Suécia, o Partido Ambiental – Os Verdes tem recebido em torno de 7% dos votos, o que lhe garantiu 25 deputados no Parlamento Nacional e 4 assentos no Parlamento Europeu. É o quarto maior partido com cerca de 100.000 membros e 1,5 milhões de eleitores registrados. É o partido mais popular entre os jovens e os eleitores urbanos.
O Partido Ecologista “Os Verdes” (PEV), em Portugal, é coligado ao PCP-Partido Comunista Português. Tem três deputados na Assembleia da República e cerca de 50 eleitos em diversos municípios e freguesias.
A Iniciativa pela Catalunha Verdes (em catalão: Iniciativa per Catalunya Verds, ICV) faz parte hoje da frente de esquerda Unidos Podemos que viabilizou a posse do atual governo de centro-esquerda espanhol e afirmou-se como poderosa força política.
Na Áustria, Os Verdes – Alternativa Verde (Die Grünen – Die GrüneAlternative), elegeu o seu líder Alexander van der Bellen presidente do país nas eleições de 2016, mas logo em seguida sofreu um racha e nas eleições de 2017 não conseguiu nenhuma representação no parlamento. Em 2019, no entanto, obteve 13,8 por cento do eleitorado e elegeu 26 deputados. Participa do governo em coligação com os conservadores do Partido Popular Austríaco.
O partido europeu
Os partidos verdes da Europa estão unidos no Partido Verde Europeu (https://pt.wikipedia.org/wiki/Partido_Verde_Europeu), que reúne 32 partidos ecologistas de 29 diferentes países. Junto com deputados independentes, nacionalistas e de esquerda formam no Parlamento Europeu um bloco que se autodenomina Os Verdes Europeus/Aliança Livre Europeia. Como não poderia deixar de ser, abriga partidos de diferentes tendências e reflete a realidade política dos seus respectivos países.
Há quem considere que os verdes constituem em todo o mundo um movimento conservador, por causa das suas teses conservacionistas. Eles próprios se veem como uma força de esquerda, por desafiarem o establishment e defenderem a igualdade de direitos, o humanismo e o socialismo. Crescem em todo o mundo porque reconheceram, antes de outros partidos políticos, as ameaças de um futuro em que as demandas da população humana, em constante crescimento, superam a capacidade da Terra em atendê-las. O futuro traz consigo, se o mundo se mantiver impassível, a certeza de um desastre.
Poeta, articulista, jornalista e publicitário. Traballhou no Diário de Minas como repórter, na Última Hora como chefe de reportagem e no Correio de Minas como Chefe de Redação antes de se transferir para a publicidade, área em que se dedicou ao planejamento e criação de campanhas publicitárias. Colaborou com artigos em Carta Maior e atualmente em Fórum 21. Mora hoje no Porto, Portugal.
É autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).