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Pescar votos nos 9% “flutuantes”

Dizia o saudoso cientista político Wanderley Guilherme dos Santos que, no Brasil, tradicionalmente a direita tem 30%, a esquerda tem 30% e 40% constituem o eleitorado flutuante. No primeiro turno, Bolsonaro teve 43%, recebeu 13% além da média tradicional da direita. Lula teve 48%, recebeu 18% além da média tradicional da esquerda. Somando os 13% de…

Passado o impacto inicial do resultado do primeiro turno, com a difícil digestão da eleição imprevista de parlamentares bolsonaristas para o Senado e Câmara Federal, vimos diversas análises mais ponderadas e objetivas sobre a possibilidade de vitória no segundo turno.

Pela primeira vez, um candidato da situação, com a máquina na mão, ficou atrás do candidato da oposição. E por máquina entenda-se não apenas governadores, deputados, prefeitos e vereadores Brasil afora, mas principalmente o orçamento secreto que, nas palavras da ex-candidata Simone Tebet, é “a maior corrupção do planeta”. Com efeito, ninguém sabe quem recebeu, quanto recebeu, para onde foi o dinheiro e de que forma foi gasto. Essa caixa preta será aberta ano que vem, no futuro governo Lula.

Dizia o saudoso cientista político Wanderley Guilherme dos Santos que, no Brasil, tradicionalmente a direita tem 30%, a esquerda tem 30% e 40% constitui o eleitorado flutuante. No primeiro turno, Bolsonaro teve 43%, recebeu 13% além da média tradicional da direita. Lula teve 48%, recebeu 18% além da média tradicional da esquerda. Somando os 13% de Bolsonaro com os 18% de Lula, temos 31% dos votos do eleitorado flutuante.

Isso significa que restam 9% de votos, distribuídos com outros candidatos, brancos, nulos e abstenções. Considerando que eleitores de Lula e Bolsonaro não devem mudar o voto no segundo turno, trata-se de ganhar votos nesse universo de 9%.

Para isso, é louvável que cada um de nós possamos sair de nossas bolhas e buscar convencer eleitores indecisos ou que se abstiveram. Isso pode ser feito individualmente ou em grupos. Mas, a meu ver, essa louvável atitude não será suficiente. O principal é pressionar a campanha de Lula para apresentar propostas concretas pela TV e redes sociais da internet visando a capturar esses votos em disputa.

Por exemplo, para a classe média fazer propostas denunciando o preço extorsivo dos planos de saúde ou a alíquota do imposto de renda que iguala quem ganha 5 mil e 1 milhão por mês. Ou, para camadas mais pobres, fazer propostas combatendo o alto preço dos alimentos, do gás, do aluguel, e denunciando a fome que já atinge 33 milhões de brasileiros.  

Na realidade, o grande mal da extrema direita no poder vai além das eleições e dos malfeitos do governo.  É verdade que o orçamento secreto possibilitou uma mega corrupção.  É verdade também que o desmantelamento e o corte de verbas para a educação, saúde, ciência, meio ambiente etc produz consequências desastrosas. Mas há um veneno poderoso que se infiltra sorrateiramente na mente de boa parte da população, em geral pobre, ingênua e de pouca instrução. As fake news são recebidas como verdades. Muita gente só aceita as mentiras que vêm confirmar suas crenças e rejeita os fatos da realidade que contrariam suas crenças.

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Trata-se de uma atitude que contraria não apenas a razão iluminista dos séculos XVIII e XIX, mas até mesmo a mentalidade científica presente nos avanços e descobertas do Renascimento: os fatos são rejeitados em prol das crenças. A aceitação acrítica de dogmas irracionais lembra a Idade Média. O retrocesso que a extrema direita neofascista tenta implementar no Brasil – e não só – é mais perigoso e profundo do que se pensa à primeira vista.

A grande campanha da mídia contra o PT em 2018 para eleger Bolsonaro deitou raízes. Lula foi absolvido pelo Supremo Tribunal, foi condenado sem provas por razões políticas, mas no povão os bolsonaristas o chamam de ladrão. A corrupção no governo Lula não foi maior que nos governos anteriores ou posteriores, mas ninguém chama FHC ou Temer de ladrão, ambos protegidos pela mídia que agora passou a criticar Bolsonaro assustada com as ameaças de golpe e de ditadura anunciadas várias vezes pelo atual presidente.

Em suma, o que está em questão é ganhar os votos desses 9% do eleitorado flutuante que se abstiveram ou votaram nulo ou em branco. Para ganhar esses votos, é importante destacar que esta eleição não é partidária. Não é uma eleição a favor ou contra o PT. Os economistas tucanos do Plano Real, FHC, Simone Tebet e muitos outros nunca foram e nunca serão do PT.

O que temos nesta eleição é uma Frente Democrática Ampla, de vários Partidos e personalidades políticas contra o projeto de uma ditadura neofascista. O que está em jogo nesta eleição é a luta da CIVILIZAÇÃO CONTRA A BARBÁRIE!

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