Tudo se encaixa: Os movimentos recentes da extrema-direita brasileira com os EUA

Tudo se encaixa: Os movimentos recentes da extrema-direita brasileira com os EUA

Carmen Munari

É nítida a articulação nos últimos dias de um movimento orquestrado pela extrema-direita brasileira com apoio explícito de setores conservadores dos Estados Unidos. Neste ritmo, pode-se prever uma ampliação ainda maior desta estratégia com a provável reeleição de Donald Trump à Presidência em novembro próximo.

A mais recente prova deste elo é a divulgação das decisões do ministro do STF Alexandre de Moraes sobre suas determinações de suspender uma série de postagens na rede social X (ex-Twitter). Vieram a público por meio de um deputado republicano trumpista –Jim Jordan—de uma comissão da Câmara dos Deputados dos EUA. Jordan é tido como ídolo de bolsonaristas. A Comissão de Assuntos Judiciários da Câmara dos Deputados dos Estados Unidos publicou na quarta-feira (17/04) um relatório de 541 páginas que contém 90 despachos do STF determinando ao X que retirasse posts ou perfis da rede. O documento em inglês, com o requinte de que parte foi traduzida para o português, diz que o ministro Alexandre de Moraes censura a oposição brasileira com “uma plataforma de crítica” ao atual “governo de esquerda”, em referência ao presidente Lula. Em tempo: as decisões do ministro do STF estavam sob sigilo de Justiça e tratavam na maioria de desinformação.

Em nota, o STF esclareceu que o documento divulgado pela comissão do Congresso dos Estados Unidos não traz a íntegra da maioria das decisões proferidas por Moraes, em que determinou a suspensão ou remoção de perfis nas redes sociais. O texto do Supremo diz ainda que “todas as decisões tomadas pelo STF são fundamentadas, como prevê a Constituição, e as partes, as pessoas afetadas, têm acesso à fundamentação”.

Não por coincidência, a iniciativa do deputado americano se segue às diversas acusações contra Moraes realizadas por Elon Musk, dono do Twitter, nos últimos dias, disputa citada no relatório da comissão. “Ditador” apontado como censurador que merece impeachment, segundo Musk, mas o executivo apenas ameaçou não cumprir ordens judiciais. Articulistas dizem que suas declarações contra o Brasil não passam de provocações momentâneas que logo terminam e passam a atingir outro alvo. Errado. Ele está a serviço de um grupo, de uma articulação que envolve bolsonaristas, principalmente. Tanto é assim que em seguida o deputado americano do parido Republicano elevou o debate com a divulgação das decisões de Moraes sobre o Twitter e sem mencionar os devidos argumentos do ministro para suas decisões.

Nos dois casos (relatório e postagens de Musk) a principal acusação a Moraes é o bloqueio à “liberdade de expressão”. Intitulado “O ataque contra liberdade de expressão no exterior e o silêncio da administração Biden: o caso do Brasil”, é o título do relatório. Qual liberdade?

Antes ainda desses fatos, mas em data bem próxima a eles, em 13 de março, Eduardo Bolsonaro (PL-SP), filho do ex-presidente, esteve mais uma vez nos EUA. Desta vez, se encontrou com Trump em sua casa em Mar-a-Lago, na Flórida, e levou junto o também deputado Mário Frias (PL-SP). A informação e a foto consaram do perfil do filho de Bolsonaro nas redes sociais, em que ele disse que anseia pelo retorno de Trump à Presidência nas eleições de novembro contra o democrata Joe Biden, “para que tempos de paz e normalidade sejam resgatados”. Segundo Eduardo, o ex-presidente norte-americano “está ciente do que se passa no Brasil”, sem especificar. Durante o encontro, Trump conversou com Bolsonaro pai por vídeo e Bolsonaro desejou “boa sorte para as eleições” americanas. O próprio Bolsonaro teve encontros com Trump como presidente do Brasil em 2019 e 2020, pelo menos. Eduardo passou dias em Washington para obter apoio político e tentar convencer parlamentares republicanos de que o Brasil não é mais uma democracia. 

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Segundo a Agência Pública, o grupo defende que os Estados Unidos aprovem uma lei para penalizar as autoridades brasileiras, sob a justificativa de violação dos direitos de conservadores, e que imponham sanções ao país para que a suposta “ditadura de esquerda” seja derrotada. O filho de Bolsonaro teve reuniões com vários deputados do Partido Republicano. Depois da publicação do relatório da Câmara dos EUA, Eduardo publicou no X: “O jogo está apenas começando”. No ano passado, a Pública mostrou que Eduardo Bolsonaro, principal articulador internacional do movimento, fez ao menos 125 reuniões com membros da extrema-direita do continente americano nos últimos anos –dos EUA, México, Argentina e outros países.

Mas as articulações recentes da direita não estão apenas na esfera das relações com os EUA, também por aqui lideranças se articulam. No início de abril, um almoço na casa do deputado Ciro Nogueira reuniu integrantes da direita brasileira. Integraram o evento Tarcísio de Freitas, Romeu Zema, Ratinho Júnior, Ronaldo Caiado, ACM Neto, Tereza Cristina, Mauro Mendes, Flávio Bolsonaro e Rogério Marinho. Pelo que foi divulgado, o grupo voltará a se reunir a cada três meses para discutir a conjuntura política e econômica, sempre de olho na eleição de 2026, conforme publicou um colunista.

E como o próprio Bolsonaro não poderia ficar de fora desta festa, está agendada uma manifestação em Copacabana liderada pelo ex-presidente no domingo (21) – dia de Tiradentes e dois dias após a data comemorativa do Exército. No vídeo em que convoca os bolsonaristas para o evento ele diz: “Nunca estivemos tão perto de uma ditadura. Não vamos desistir do Brasil.” Ele deve aproveitar as divulgações das medidas de Moraes em discurso e alardear de novo a tal ausência de liberdade de expressão.

(Com informações do Poder360, Agência Pública, colunista Lauro Jardim)

Na imagem, Eduardo Bolsonaro, Donald Trump e Mario Frias na casa do ex-presidente americano em Mar-a-Lago, na Flórida em março / Reprodução Instagram

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