Ciganos, o perfume da Terra

Ciganos, o perfume da Terra

De Naji Sidki, documentário ‘Terra de Ciganos’  explora a vida e as tradições de músicos ciganos em Goiás, abordando com poesia seus desafios e sua rica cultura, pouco conhecida, mas presente em diversas regiões do Brasil

Terra de Ciganos, do diretor Naji Sidki, é um curioso road movie musical. Um filme musical realizado nas entranhas das estradas de Goiás, durante os deslocamentos incessantes de um grupo de músicos ciganos, ainda hoje moradores em barracas, nos campos. O documentário de uma hora e vinte minutos acompanha com delicadeza e poesia a busca pela preservação das tradições e da milenar cultura cigana e também alguns dos seus encontros e confrontos com o meio ambiente e com a sociedade rural ao seu redor.

Apresentado no 17º Festival Internacional do Documentário Musical, o EDIT, nesta semana ele está entrando em cartaz nas telonas dos cinemas. Vale a pena assisti-lo, a essa pequena viagem através de uma cultura enigmática sobre a qual, de modo geral, sabemos tão pouco. Lembrando que o Brasil é o terceiro país do mundo a abrigar uma população de etnia cigana – cerca de 800 mil pessoas em diversos estados.

O diretor do doc, Naji Sidki, também produtor, fotógrafo e empresário na área da indústria de filmes, nasceu em Brasília e estudou cinema em Nova Iorque. É descendente de uma pintora nascida nos Estados Unidos e de um refugiado palestino, matemático e professor da Universidade de Brasília. Sempre foi um curioso pelas culturas nômades. “Meus pais peregrinaram pelo mundo em busca de uma pátria que os aceitasse. E esse meu filme fala sobre uma comunidade excluída, mas que deseja ser aceita”.

Em Terra de Ciganos há sequências com as mulheres que saem de casa (ou melhor, das tendas onde vivem), embarcam em ônibus e em trens para trabalhar e ganhar alguns trocados nas praças do centro das cidades, lendo as linhas da mão de transeuntes; e homens que se organizam em grupos musicais romanescos (ou romani) e apresentam suas canções em shows. Belas composições, em geral nostálgicas e algumas até melancólicas. Quase todas relacionadas à natureza.

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“A Natureza”, diz uma delas, “é a roupa da Terra. E nós somos o perfume da Terra”. Em outro verso musical: “De onde viemos? De muito longe, das estradas da Índia”… E como que concluindo: “Não sei de onde viemos e nem sei para onde eu vou”.

Em geral, as letras das canções são criadas em idiomas dos grupos ciganos Rom, Sinti e, em especial, dos Calon, e miscigenadas ao nosso português, porém ao nosso idioma falado no Brasil profundo, o ‘caipira’. Foram esses três agrupamentos, Rom, Sinti e Calon, que deram com os costados, no passado, no Brasil, em migrações, algumas delas voluntárias e outras forçadas, durante o período colonial.

Mas, durante a viagem de pré-produção do filme, em busca de personagens, chamou a atenção da equipe que, em todos os acampamentos que visitavam, havia sempre um músico que tocava violão. “Muitas das músicas, em Chibe, o dialeto local dos ciganos Calon”.

“A música não tem fronteiras”, comenta o diretor, “e não precisa de tradução. Viaja pelo mundo proclamando sua irmandade. Apresentando a música cigana brasileira para o Brasil e para outros países, temos a certeza de estarmos contribuindo para que esse sofrido povo possa ser mais respeitado e acolhido”.

Assistir Terra de Ciganos: estamos em um bom momento para conhecer, neste documentário musical, a população pouco conhecida dessa tão decantada, atualmente, diversidade populacional brasileira. E vítima, muitas vezes, de preconceitos e da ignorância baseada em lendas absurdas.

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