Programas – 7 a 15 de dezembro
*Forte repercussão de artigo de Frei Betto, esta semana, Natal na Faixa de Gaza, publicado no site do Instituto Humanitas Unisinos. “(…) Neste Natal, Jesus nasce em Gaza. Não na manjedoura exposta em um curral, mas entre escombros do que resta das moradias de seus habitantes. Não nasce cercado de animais, e sim de bombas detonadas, balas de fuzis Tavor Ctar atiradas contra a população civil (950 tiros por minuto), granadas e gases letais. E os voos assassinos dos caças F-35″.
*Mensagem urgente publicada pelo economista grego Yanis Varoufakis hoje, dia 08/12/2023, com um pedido dramático de um amigo que vive e trabalha em Israel: “Precisamos da ajuda de vocês, urgente. Se não houver intervenção internacional estamos perdidos. O povo palestino todo está sob ataque, um genocídio, e os judeus democratas em Israel estão sob violenta perseguição fascista que se assemelha aos regimes das juntas militares dos anos 70 na América Latina”.
*Frei Betto acrescenta: “Jesus nasce em Gaza e, agora, já não podem matá-lo, pois haverá de ressuscitar em cada criança, em cada jovem, em cada cidadão palestino consciente de que a terra das vinhas e das oliveiras guarda em seu solo as cinzas de seus mais longínquos ancestrais”.
*O programa é informar corretamente: militares declaram que foram abandonados na linha de frente da Ucrânia pela Otan e por seus aliados europeus; a guerra no Oriente Médio tende a se espalhar, e os assassinatos de 16.248 palestinos e palestinas, sobretudo de 7.112 crianças, vão deixando as manchetes e pautas da mídia corporativa nos noticiários de horário ‘nobre’. O movimento Palestina Livre deve ser desconhecido da mídia corporativa.
*De olho na estreia do filme Puan selecionado para o Prêmio Goya Ibero-Americano e dirigido por María Alché e Benjamín Naishtat. Trata-se de uma coprodução Brasil/Argentina/Itália/França/Alemanha precedida de boas críticas. O assunto: Marcelo (ator Marcelo Subiotto), professor de filosofia da Universidade Puan, entra na competição por uma cadeira na cátedra da instituição, concorrendo com outro profissional da área interpretado por Leonardo Sbaraglia (de Relatos Selvagens). O professor precisa provar para si mesmo e para os colegas que está à altura do cargo. Já os vencedores dos próximos Prêmios Goya serão anunciados em fevereiro de 2024.
*Programa importante: de autoriade Michel Desmurget e com tradução de Julia da Rosa Simões, o livro Faça-os ler!: Para não criar cretinos digitais é considerado, com razão, “importante antídoto contra o surgimento do cretino digital. Centenas de estudos mostram que a leitura traz enormes benefícios para a linguagem, os conhecimentos gerais, a criatividade, a atenção, as competências de escrita, as competências de expressão oral, a compreensão dos outros e de si mesmo, e a empatia com um impacto considerável no sucesso acadêmico e profissional”. O livro (Editora Vestígio) vem no exato momento em que cientistas neozelandeses acabam de publicar um alerta no jornal científico Pediatrics, conclusão de estudos recentes: “O excesso de telas na infância pode ter impactos em longo prazo, aumentando o risco de desenvolver síndrome metabólica, um conjunto de condições que aumentam o risco de doença cardíaca, acidente vascular cerebral – o AVC, e diabetes na vida adulta”.
*Desmurget demonstra que nossos filhos leem cada vez menos e rejeita a ideia de que as crianças em idade escolar aprendem a ler quando conseguem decifrar letras; ele lembra que “ler é compreender” e identifica “as alavancas que permitem aos pais encorajar e manter o gosto pela leitura nos seus filhos”.
*Há 68 anos, a célebre militante americana Rosa Parks era presa por desobediência civil. O evento desencadeou um boicote de mais de 300 dias ao sistema de ônibus de Montgomery que culminou na proibição da segregação em transporte público e deu grande ímpeto ao movimento de Luta por Direitos Civis nos EUA. Quem conta o episódio é Angela Davis no seu livro Mulheres, Raça e Classe: “O boicote foi organizado por mulheres negras, não pelo Reverendo Martin Luther King, Jr. (…) Rosa Parks, que se recusou a abrir mão de seu assento, não era a ‘mulher cansada’ retratada pela mídia. Era uma militante e estrategista ativa. Mas não é essa história que a narrativa hegemônica nos passa, não é mesmo? Geralmente, tende-se a favorecer narrativas de individualismo heroico quase sempre protagonizadas por um homem. Isso é muito perigoso”.
*Angela Davis relembra a contribuição dada por outras mulheres negras, líderes que surgiram no interior da comunidade negra norte-americana: Harriet Tubman, Sojourner Truth e Ida B. Wells além de Parks (Editora Boitempo).
*A queda do Imã, da escritora egípcia Nawal El-Saadawi, poesia em forma de poesia, é um grito de guerra contra os que usam a religião como arma para subjugar as mulheres. Em uma escrita experimental, Nawal El-Saadawi relata os horrores aos quais mulheres e crianças podem ser expostas em nome da fé (Editora Tabla).
*Convém também anotar mais uma reimpressão da mesma editora (acima) da coletânea de poemas Gaza, terra da poesia que demonstra a rica produção cultural e literária realizada em Gaza.
*Sugestão: ler Henrique Dória, de Coimbra, Portugal, advogado e escritor, que vive e trabalha no Porto. Colaborou em vários jornais e revistas, no Diário de Lisboa Juvenil e na revista Vértice. Tem quatro obras de poesia publicadas: Círculo da terra, Escadas de Incêndio, Mar de Bronze e Súbita iluminação; e uma quinta obra de poesia em vias de publicação. É fundador e diretor da revista digital e em papel InComunidade e publicou em prosa O Menino e o Sol, O gato Zeca e Coração, solitário labirinto (Tagore Editora)
*Para fechar o ano com chave de ouro, lançamentos da Editora Nemo: Nas Índias traiçoeiras, de Alain Ayroles (Autor) e Juanjo Guarnido (Ilustrador), e Monica, marcando o retorno de Daniel Clowes. As graphic novels, uma especialidade da Editora, apresentam mulheres fortes retratadas em Reflexos do Mundo, Sessenta primaveras e Madeleine, resistente. Outros best sellers: o quadrinho Meu irmão caçula e a saga de Cachorro em Vira-lata virador.
*Em tempos de “soluções mágicas”, os psicanalistas Christian Dunker e Gilson Iannini propõem a ideia de que Ciência pouca é bobagem. Neste livro eles analisam a complexa relação da psicanálise com a ciência, dialogam com críticos contundentes da psicanálise como Wittgenstein, Popper e Grünbaum, e combatem os ataques infundados que ela vem sofrendo nos últimos anos. “Defender a cientificidade da psicanálise é bom não apenas para a psicanálise, mas para a própria ciência”, escrevem os autores. “Defender a psicanálise é também defender a ciência”. Em pré-venda com envios a partir do dia 20. (Editora Ubu)
*O New York Film Critics Circle, com a nata da crítica cinematográfica de Nova York, anuncia seus premiados de 2023. A cerimônia de entrega dos prêmios será dia 3 de janeiro de 2024, em NY. São eles: Assassinos da Lua das Flores, de Martin Scorsese, Oppenheimer e Passagens. Atriz: Lily Gladstone, em Assassinos da Lua das Flores; ator coadjuvante, Charles Melton, em Segredos de um Escândalo; atriz coadjuvante: Da’Vine Joy Randolph, em Os Rejeitados; filme de estreia, Vidas Passadas, de Celine Song. Filme internacional: Anatomia de uma Queda (França), de Justine Triet; filme de não ficção, Menus-Plaisirs-Les Troisgros (França/EUA), de Frederick Wiseman. Roteiro, de Samy Burch e Alex Mechanik, por Segredos de um Escândalo e Fotografia, Hoyte van Hoytema, em Oppenheimer.
*Em 2023, o cinema perdeu um dos seus mais empolgantes compositores, o japonês Ryuichi Sakamoto, autor de belas trilhas sonoras de clássicos extraordinários como O Último Imperador, de Bertolucci e Furyo, de Nagisa Oshima. Sakamoto assinou seu último trabalho no filme Monster, direção e montagem de Hirokazu Koreeda. Faleceu este ano, pouco antes de participar da atual acolhida da crítica, sempre elogiosa, por mais esse seu trabalho, que, dizem, é espetacular.
*Boa pedida: o link para baixar a revista Filme Cultura nº 64. O tema é Cinemas Negros (clique aqui).
*No próximo dia 14 será transmitido ao vivo pelo canal Splash/Uol, a cerimônia do Women’s Music Event (WME) em homenagem a mulheres que se destacaram na área da música popular brasileira. A saudosa Rita Lee será uma das homenageadas assim como Dona Onete, cantora, compositora e poetisa do Pará, de 84 anos de idade.
*Para os interessados na estratégia de saúde da família – profissionais, usuários, formuladores de políticas, a leitura sugerida é Doentes e Parentes – Composição de Governo na Estratégia Saúde da Família, do pesquisador Everton de Oliveira, da Universidade de São Carlos e da Unicamp. Ele transporta o leitor para a cidade de São Martinho, na encosta da Serra Gaúcha, onde os pobres são em grande maioria brancos, de cabelos claros e olhos azuis. Nessa cidade de economia rural, as políticas de saúde, ele diz, são desenvolvidas de “modo próprio e contextual” (Editora Alameda).
*Da mesma editora, atenção para Autoritarismo e golpes na América Latina, de Pedro Serrano, professor de Direito Constitucional da PUC-SP, volume no qual ele apresenta um estudo sobre o estado de exceção e os papéis que o Poder Judiciário tem assumido implementando um controle cada vez mais autoritário sobre a vida social e política de diferentes países após o fracasso dos Estados com polícia de direita e de esquerda do século XX. Serrano também é o autor de A Justiça na Sociedade do Espetáculo.
*Relembrando um herói da nossa História, o “Almirante Negro”, militar da marinha de guerra brasileira, João Cândido Felisberto, corajoso líder da Revolta da Chibata, o volume João Cândido, o Almirante Negro, de Alcy Cheuiche (2010/ Editora LPM). João Cândido faleceu aos 89 anos, no dia 6 de dezembro de 1969, em São João de Meriti, no Rio de Janeiro, onde viveu seus últimos anos.
Jornalista.