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Programas – de 10 a 17 de maio

Programas – de 10 a 17 de maio

*O programa principal é seguir os eventos da tragédia no Rio Grande do Sul. Resultado de mudanças climáticas que vêm sendo anunciadas há anos, e providências de prevenção desprezadas por motivos econômicos, ideológicos e pelo descaso das bancadas de políticos do estado e do (des)governo federal anterior que esteve instalado em Brasília até 2022.

*A propósito, o professor gaúcho, escritor, advogado e vereador em Porto Alegre, Adeli Sell, escreveu, a respeito do rio Guaíba: “Eu falo da beira do rio, como sempre denominamos este trecho às margens do lago/rio. E a pergunta é: quem invadiu quem? Falou-se muito que o rio invadiu a cidade. Mas, na verdade, foi a cidade que invadiu o leito do seu espelho de água, com os inúmeros e vastos aterros. Adentramos o rio e queremos que ele nos respeite contra a sua própria natureza”.

*O professor Sell se refere a Bertold Brecht quando lembra do ensinamento do poeta e dramaturgo alemão: “Do rio que tudo arrasta se diz que é violento. Mas ninguém diz violentas as margens que o comprimem”.

*Já o sociólogo e ambientalista de primeira hora, Lizst Vieira, utiliza a observação de Miguel de Cervantes como epígrafe “Elimine a causa e o efeito cessa” no seu texto publicado aqui, no Fórum 21. “Não é hora de buscar culpados, afirmou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, numa confissão indireta de culpa”, escreve Lizst, “que cortou ou alterou 480 pontos da legislação ambiental do Estado do RS, em 2019. Quando a natureza reage com inundações, está mais do que na hora de buscar os culpados da violação das leis ambientais de proteção ao meio ambiente”.

*Segundo a AGAPAN, a Associação Gaúcha de Proteção ao Meio Ambiente Natural, o novo Código Ambiental do RS representa um retrocesso de 40 anos, sublinha o ambientalista. “Mas a grande mídia em geral só mostra as consequências e ignora as causas”. E Lizst segue: “Falta de planejamento e manutenção vai de mãos dadas com a especulação imobiliária, o agronegócio, a pecuária, mineração, indústrias poluidoras, enfim, todas as atividades econômicas destruidoras do meio ambiente natural, deixando a população desprotegida em caso dos previsíveis e ignorados eventos climáticos extremos”.

*Carlos Nobre, uma das maiores autoridades em ambientalismo do país e Coordenador Geral do Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos (CPTEC/INPE, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais), afirmou, esta semana, em entrevistas: “O que acontece no Rio Grande do Sul não é uma tragédia natural. É consequência da ação humana, da irresponsabilidade, do descaso com o Meio Ambiente”.

*A deputada federal Fernanda Melchionna, do PSOL, foi a única integrante da bancada gaúcha de congressistas a encaminhar emendas parlamentares para a prevenção de desastres climáticos no Rio Grande do Sul. A deputada reservou um milhão de reais para “apoio à execução de estudos, planos, projetos e obras de prevenção e proteção à erosão costeira em áreas urbanizadas tocada pelo Ministério da Integração e do Desenvolvimento Regional, o responsável mais direto por ações de Defesa Civil”. Os valores não chegaram a ser empenhados.

*Outros três parlamentares gaúchos também direcionaram recursos para ações relacionadas ao tema, embora de forma indireta. O deputado Márcio Biolchi, do MDB, indicou três milhões de reais, enquanto Carlos Gomes, do Republicanos, e o senador Paulo Paim, do PT, destinaram, respectivamente, 400 mil e 317,4 mil para apoio a projetos de Desenvolvimento Sustentável Local Integrado. Nenhum dos valores para essa rubrica chegou a ser empenhado”.

*Antes tarde do que nunca é antigo ditado que o atual Presidente dos Estados Unidos, na ansiedade primária para conseguir se reeleger nas eleições deste ano, com certeza não conhece. Ele declara, esta semana, que seu país não fornecerá armas a Israel para matar civis em Rafah, último refúgio que resta para a população palestina ainda viva na região.

*Instalações hídricas de Gaza estão arrasadas ou danificadas, as universidades foram metodicamente destruídas, doentes e médicos fogem como podem das ruínas dos hospitais em direção a lugar nenhum, e crianças morrem famintas. “Fujam para a zona leste de Rafah”, aconselha generosamente o governo atual de Israel enquanto comboios com alimentos são interceptados na fronteira com o Egito e não entram na Palestina. Sionismo? Antisemitismo? O nome é: Perversidade.

*Aviso importante: o lançamento em Brasília do livro Por trás das chamas, de Nilmário Miranda, Carlos Tibúrcio e Pedro Tierra, que seria esta semana, foi adiado por motivo de força maior – saúde – para o fim deste mês. Data e local serão divulgados em breve.

*Leitura pertinente: História ambiental no sul do Brasil – apropriações do mundo natural, volume organizado por Jó Klanoviez, Gilmas Arruda e Ely Bergo de Carvalho, trata das apropriaçõesatuais da natureza pelo homem. O desafio da história ambiental, ressaltado no volume, é restabelecer a conexão entre terras, águas, florestas, animais e humanos (Editora Alameda, 1ª edição, março/ 2012).

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*Lembrando que desde a década de 1980 contamos com estudos de História Ambiental. Mas uma obra clássica, marco da trajetória ambientalista no país, de autoria do brasilianista Warren Dean, é considerada por muitos leitores e pesquisadores do assunto. Dean é também autor de Ferro e Fogo: a história e a devastação da Mata Atlântica brasileira, da Cia das Letras, de 2004, tradução para o português de Cid Knipel Moreira. Trata da apropriação da natureza pelo homem na região.

*Programa indispensável: doar água potável, alimentos não perecíveis, medicamentos básicos e produtos de higiene que faltam aos habitantes das cidades inundadas do Rio Grande do Sul. Endereços, entre outros, para doar com segurança: Pix para a conta SOS Rio Grande do Sul do Banrisul – Chave Pix: CNPJ: 92.958.800/0001-38. Para o MST: https://apoia.se/sos_mst. E no site ParaQuemDoar.com.br.

*Mais uma sugestão de leitura: a nova edição de A revolta da chibata, de autoria do jornalista Edmar Morel. Para quem não conhece, ou não lembra o movimento liderado pelo “almirante negro”, esse trabalho de pesquisa recupera a verdade do primeiro levante de subalternos na Marinha e nas forças armadas brasileiras. Publicado originalmente em 1959, A Revolta da Chibata lembra fatos esquecidos pela história oficial: os massacres na Ilha das Cobras, onde os revoltosos, já anistiados, foram confinados em uma masmorra cheia de cal; e o navio Satélite, que levou, em seu porão, centenas de marinheiros para os confins da Amazônia para lá serem vendidos como escravos ou simplesmente fuzilados (Editora Paz e Terra/Grupo Record).

*Lançamento literário importante: O Essencial Chomsky, recém lançado, publicado pela Editora Editorial Crítica, com 25 prefácios e ensaios em 654 páginas. Segundo a Editora, “é um preâmbulo à revolução linguística e às ideias políticas de Chomsky”. Os aficionados do livro dizem: “É inteligência em estado puro”. E o The Guardian: “Chomsky está ao lado de Marx, Shakespeare e da Bíblia como uma das dez fontes mais citadas nas humanidades; é o único escritor vivo dessa seleção, o maior crítico e a maior voz dissidente da atualidade”. Temas centrais do volume vão da mídia corporativa e do intervencionismo norteamericano até economia política e direitos humanos.

*Mais uma leitura recomendada: Memória, Movimentos Sociais e Direitos Humanos organizado por José Sérgio Leite Lopes, Felipe Magaldi, Lucas Pedretti, Luciana Lombardo e Virna Plastino. O livro parte do ciclo Memória, Movimentos Sociais e Direitos Humanos, iniciado em 2019, no Colégio Brasileiro de Altos Estudos (CBAE) da UFRJ. “Entre 2012/2014, o país viveu um inédito cenário de debate sobre as violações de direitos humanos do regime autoritário, estimulado pelo trabalho da Comissão Nacional da Verdade e de mais de uma centena de comissões estaduais e municipais, em sindicatos e universidades”, observa a apresentação do trabalho. “Nesse contexto, antigos debates, como a revisão da Lei de Anistia de 1979, a construção de espaços de memória, a localização dos corpos dos desaparecidos e o esclarecimento das circunstâncias que os vitimaram, dentre outros, voltaram à cena pública” (Editora da UFRJ com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro/ FAPERJ).

*O volume Direito à terra no Brasil – A Gestação do Conflito (1795-1824), da historiadora e professora da UFF, Márcia Motta, outra leitura recomendada. Oportuno, o texto de introdução ao livro, lançado em 2012, observa: “Quase não passa um dia sem que o noticiário registre problemas envolvendo o uso da terra no Brasil. Essa questão nos remete à situação brasileira no final do século XVIII com as polêmicas em torno do direito à terra e da sua história”.

*Em 2005, Márcia Motta publicou o Dicionário da Terra, 2º lugar no Prêmio Jabuti na categoria Ciências Humanas naquele ano.

*No próximo dia 14, às 10 horas, lançamento do livro Vozes da Resistência – Memória da Luta contra a Ditadura Militar no Paraná, coordenação do trabalho, projeto e organização de Aluizio Palmar. No Salão Nobre do Curso de Direito da Universidade Federal do Paraná. (Ed. Banquinho, de Curitiba).

*Lamentável, ultrajante: a Justiça iraniana condenou o famoso cineasta Mohammad Rasoulof, diretor de O Crepúsculo, Ilha de Ferro, Adeus, Manuscritos Não Queimem, Um Homem de Integridade e Não Há Mal, esteúltimocom o qual ganhou o Urso de Ouro no Festival de Cinema de Berlim de 2020. Rasoulof é cineasta independente, de 52 anos, e será punido com chibatadas, multas, confisco de bens e cinco anos de prisão. O seu mais recente filme, The Seed of the Sacred Fig, foi incluído na seleção oficial do Festival de Cannes 2024, que se inicia dia 14, concorrendo à Palma de Ouro.

*Semana de programas tensos e pesados. Mas a luta continua. Resistir é preciso.

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