Programas, de 10 a 18 de outubro de 2024

Programas, de 10 a 18 de outubro de 2024

*Um ano de guerra metamorfoseada em rotina? Em programa? Podemos então descansar e pensar em outros assuntos? Como? Foi realizado nesta quinta-feira (dia 10/10) um ataque aéreo israelense a uma escola que abrigava pessoas deslocadas no centro de Gaza. Morreram pelo menos 28 pessoas, incluindo mulheres e crianças, enquanto três hospitais ao norte da região receberam avisos para retirada de pessoas do local, colocando em risco a vida dos pacientes. Informação de médicos dos hospitais.

*Um dia antes, disse o porta-voz de Jeremy Laurence, comissário dos Direitos Humanos da ONU, em Genebra: “Estamos vendo civis pagando o preço, hospitais fechando, um milhão de pessoas deslocadas, civis mortos, escolas impactadas”. E James Elder, porta-voz do Fundo das Nações Unidas para a Infância, a UNICEF, reforçou: “As semelhanças entre o Líbano e Gaza estão em toda parte. A ferocidade dos ataques iniciais, a linguagem que está sendo usada, o deslocamento em massa, o grande número de pessoas forçadas a se mudar. As semelhanças, infelizmente, estão aí”.

*Em tempo: em 12 de outubro, crianças deveriam ser festejadas. Mas os militares israelenses pedem aos residentes de Gaza, inclusive, é claro, acompanhados de crianças, que deixem uma área na qual a ONU estima que mais de 400 mil pessoas estejam presas: Jabalia, Beit Hanoun, Beit Lahiya. E até capacetes azuis da ONU são bombardeados em suas bases, ao longo da fronteira Líbano/Israel.

*Candidatos que se declararam quilombolas venceram as eleições para prefeito em 17 municípios, segundo dados do Tribunal Superior Eleitoral. A maior parte dos eleitos é de 15 homens. Duas mulheres estão no grupo. Cor declarada ao TSE no registro da candidatura: oito pessoas pretas, seis pardas e três brancas. Municípios que elegeram esses candidatos são do Norte, Nordeste, Sudeste e Centro-Oeste. Nenhum(a) quilombola foi eleito(a) prefeito(a) em cidades da Região Sul.

*Nas eleições do Legislativo, 262 homens e 72 mulheres quilombolas conseguiram uma vaga para as câmaras municipais de suas cidades.

*Expectativa para a estreia, nos cinemas, dia 21 de novembro, do filme de Marcelo Gomes, Retrato de um certo Oriente, recém apresentado no Festival de Cinema do Rio. Trata-se de uma adaptação do famoso romance de Milton Hatoum, Relato de um certo Oriente, que se passa na Amazônia. Marcelo diz que a história do livro (e do filme) é “um grande antídoto pra o fanatismo; são memórias que nele estão restauradas. A partir disso se cura certos traumas do passado”.

*Leitura vivamente sugerida, no livro A Conspiração Lava Jato – O jogo político que comprometeu o futuro do país, Luiz Nassif, seu autor, utiliza informações apuradas e divulgadas pelo site GGN desde 2005 até a tentativa de golpe de oito de janeiro de 2023. Nassif escreve que a Lava Jato não foi apenas “uma mera operação conduzida de forma medíocre e inescrupulosa. Trata-se de uma ação impulsionada inicialmente pelos grupos de mídia e sustentada a partir do apoio e da complacência de uma série de instituições de setores relevantes da sociedade”. A obra disseca o lavajatismo e o “interliga à revolução das comunicações, ao avanço da ultradireita e do crime organizado – estes os precursores do bolsonarismo e da crise da democracia que levaram um país a perder a visão de futuro”. Com prefácio de Carol Proner, o lançamento no Rio de Janeiro foi esta semana, na Associação Brasileira de Imprensa.

*Sobre A Conspiração Lava Jato escreve o jurista Lenio Streck: “Refletir sobre os dez anos passados desde o início da Operação é tentar entender como o país foi cooptado por um pequeno grupo de agentes, que – com intenções escusas e de cunho eleitoral – manipularam a opinião pública e fizeram milhões de brasileiros acreditarem que Sérgio Moro e seus asseclas ‘salvariam’ o Brasil da corrupção. Uma espécie de jus-messianismo com pés de Curupira” (Editora Contracorrente).

*O programa é relembrar o saudoso prefeito do Rio de Janeiro, Roberto Saturnino Braga, falecido semana passada, e conhecer dois livros de sua autoria. O primeiro, Meu querido Brasil, suas “memórias de Getúlio, JK, Lula, Dilma e outros democratas”, como ele dizia. E Joias do Rio, livro de crônicas em que desfilam treze locais escolhidos por Saturnino, carioca militante: o Jardim Botânico, a Praça Mauá, a Lagoa Rodrigo de Freitas, entre outros.

*Formidável: Fernanda Montenegro fazendo 95 anos no próximo dia 16. E o Canal Brasil montou uma programação de 24 horas dedicada à grande e incansável intérprete no teatro e no cinema. Na festa de Fernanda, esses filmes, entre outros, estão na maratona: Central do Brasil, Casa de Areia, Infância, A hora da Estrela.

*Título do volume O pobre de direita – A vingança dos bastardos, de Jessé de Souza, é outra leitura sugerida para esses dias que correm depois dos inquietantes resultados do primeiro turno das eleições municipais. Temas e observações de O pobre de direita com questões como essas: o que explica a adesão dos ressentidos à extrema direita? O fenômeno recente desde 2018 mudou completamente o panorama das corridas eleitorais no Brasil (Editora Civilização Brasileira).

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*Mais uma vez, o diretor Sergio Machado está no Festival de Cinema do Rio, Mostra Première. Com o documentário 3 Obás de Xangô, o relato da amizade entre Jorge Amado, Dorival Caymmi e Caribe e da conexão cultural que existiu entre os três amigos, construindo uma identidade baiana que vai além da geração dos três obás.

*Filme interessante, uma coprodução Colômbia/Brasil, Alma do Deserto, de Mônica Taboada, também estreou na Première Latina do festival carioca. O tema, sensacional: Georgina, uma mulher trans da etnia Wayúu, luta para obter o direito básico de obter uma identidade reconhecida após perder seus documentos em um incêndio criminoso provocado pelos próprios vizinhos que rejeitavam sua presença. Georgina queria o documento para poder votar nas eleições colombianas. Filme com estreia ainda este ano nas telonas dos cinemas.

*Plataforma bretz filmes, até 30 de novembro: Paul Singer – uma utopia militante, de Ugo Giorgetti, que comenta sobre o seu filme: “Se você não achar que inteligência é beleza, sai fora desse documentário. Porque ele é só isso: um homem pensando.” O filme perpassa a infância de Paul Singer em Viena, onde nasceu, e a chegada ao Brasil, em 1940, escapando da Segunda Guerra Mundial. Mostra os movimentos sindicais aos quais se engajou, sua trajetória como professor, a USP, e sua militância como discípulo de Paulo Freire.

*Mês cinematográfico com certeza. Mais ainda com a 19ª Mostra Mundo Árabe de Cinema replicada pela Cinemateca Brasileira de São Paulo, mas apenas até hoje, 11/10. Estão sendo exibidos filmes considerados joias do cinema oriental. O Poeta Rei, Lyd, Beirut Holde’m e À Beira do Vulcão. Curador, Arthur Jafet. Sessões gratuitas, que por sinal deveriam ser prolongadas por mais dias, com ingressos adquiridos uma hora antes do início da projeção.

*Exposição Constituinte do Brasil Possível, com vinte artistas negros(as) de sete estados, é um bom programa do Centro Cultural dos Correios do Rio de Janeiro. Desta semana até 30 de novembro. “Um país possível, mais inclusivo” é o slogan da mostra com fotografias, pinturas, colagens, desenhos, objetos de cerâmica etc.

*Sugestão: assistir o curta-metragem de 19 minutos filmado pelo grupo do MST da Bahia. Chama-se Produção de cacau, foi realizado no assentamento Terra Vista, em Arataca, e demonstra como alimentos saudáveis podem ser cultivados e comercializados com respeito ao meio ambiente e proteção da natureza. (Na plataforma do Brasil de Fato).

*Lançado Céu Branco, da escritora, editora de livros e tradutora Maria José Silveira, onde integridade, ganância, sordidez, traições, um assassinato, covardia da imprensa e tentativa de corrupção se sucedem e se interligam no cenário da cidade de Brasília. Tramoias e fake news nada edificantes, mas também esperança, determinação e coragem dos personagens. Maria José também é autora de Aqui Neste Lugar, de 2022, e Farejador de Águas, de 2023 (Editora FariaeSilva).

*O cérebro leitor é outra leitura adequada aos dias de hoje. De autoria da neurocientista estadunidense da Universidade da Califórnia, Maryanne Wolf, o trabalho trata da importância do ato de ler, das leituras que moldam cérebro e cultura, e do processo que ajuda a preservá-los nesse mundo cada vez mais digital. A professora Wolf é também autora de O Cérebro no Mundo Digital. Pré-venda da Editora Contexto.

*Dia 01 de novembro, na Concha Acústica do Teatro Castro Alves, em Salvador, show de comemoração dos 50 anos do grupo Ilê Aiyê, primeiro bloco afro a desfilar no carnaval.

*Escritora da Coreia do Sul, Han Kang, 53 anos, autora de O Livro Branco, A Vegetariana e Atos Humanos, acaba de ser premiada com o Nobel de Literatura. Os três volumes são da Editora Todavia.

*Imagem em destaque: colagem de Marcos Diniz

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