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Uma lição de delicadeza e respeito no fundo do mar

Uma lição de delicadeza e respeito no fundo do mar

Os polvos têm sensações e emoções, foi demonstrado nas pesquisas científicas, e além de emotivos, receptivos e sentimentais podem sentir dor, guardam memórias e, como mostra o documentário do cinegrafista subaquático Roger Horrocks com filmagens do cineasta e ambientalista sul-africano Craig Foster, de Pippa Rocks e deJames Reed, eles nos ensinam e nos lembram de como é…

Professor Polvo (My Octopus Teacher) é um filme de dois anos atrás, de 2021, quando recebeu o Oscar de Melhor Documentário do ano e começou a ser exibido nas  plataformas de streaming de diversas partes do mundo, Brasil aí incluído. Sempre muito procurado, sobretudo por ambientalistas, mostrando a amizade desenvolvida entre um polvo(a) e um mergulhador profissional, no fundo do mar de algas da Cidade do Cabo, só agora esse doc sobe vertiginosamente nos índices de assistência e ocupa o quinto lugar na lista das produções mais procuradas por espectadores de vários perfis. Está inscrito no catálogo da Netflix, pela primeira vez produtora de um documentário sobre a natureza.

Por coincidência, há menos de uma semana, um grupo de pesquisadores brasileiros baseado há tempos em Fernando de Noronha, anunciou na mídia a possibilidade de corroborar avaliações recentes, dos estudos já desenvolvidos em laboratórios britânicos apontando para a forte possibilidade da scenciência (possibilidade de sentir e perceber através dos sentidos) desses seres marinhos tentaculares no seu ambiente natural.

Os polvos têm sensações e emoções, foi demonstrado nas pesquisas científicas, e além de emotivos, receptivos e sentimentais podem sentir dor, guardam memórias e, como mostra o documentário do cinegrafista subaquático Roger Horrocks com filmagens do cineasta e ambientalista sul-africano Craig Foster, de Pippa Rocks e deJames Reed, eles nos ensinam e nos lembram de como é ser delicado e respeitoso. O grupo de realizadores do doc são fundadores do coletivo Sea Change Project, que visa a proteger, como eles acentuam, a ‘’grande floresta marinha da África’’; a casa do polvo.

A história do ‘’professor’’, que na verdade é uma fêmea, entrando em contato com Foster, foi filmada durante um mês, em 2010. Depois de idas e vindas na relação que foi se estabelecendo aos poucos, no vigésimo sexto dia o bichinho(a) enrolou um dos seus tentáculos na mão do mergulhador e ali ficou. Um momento extraordinário registrado pela câmera.

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A história inteira é esta: Craig Foster deixara sua profissão de documentarista ao sofrer forte crise de esgotamento nervoso e encontrou no fundo do mar e nos mergulhos em águas profundas uma forma de fazer terapia. Decide então mergulhar diariamente no mesmo local e acaba fazendo amizade com um polvo acompanhando o dia-dia dele(a) durante um ano. Rastreava seus movimentos com todo cuidado para ganhar sua confiança e foi estabelecendo, aos poucos, um vínculo com o animal.

Foster entrou no mundo onde ela dormia, se movimentava e se alimentava e o animal começou a brincar com ele e a se aproximar sem medo. O filme mostra também o polvo(a) se defendendo do ataque de tubarões, um dos seus tentáculos feridos depois de uma luta e a regeneração dele durante semanas. A câmera, respeitosa, sempre presente.

No fim, o acasalamento da amiga marinha com um polvo maior e sua produção de um grande número de ovos. Em seguida, o bichinho morre naturalmente, como é da sua natureza, enquanto cuidava dos seus ovos. Um tubarão aparece e leva seu corpo embora.

Foster comenta, nas entre-imagens subaquáticas do seu documentário, a importância para ele dos ensinamentos proporcionados pela amiga. A incrível criatividade utilizada para a sobrevivência, a fragilidade da vida, a forte interação do ser humano e da natureza, o respeito, a confiança e a alegria sem reservas das relações de amizade.

Agora, com o levantamento dos estudos dos britânicos e a apresentação da sua legislação indicando que os polvos podem sentir emoção, a pesquisa em Fernando de Noronha, da professora Tatiana Silva Leite, da universidade federal de Santa Catarina e coordenadora do estudo brasileiro, é oportuna para comprovar se, em ambiente natural, o que foi visto em laboratório – e acrescentamos, também em Professor Polvo – se confirma.

Por enquanto, temos a confirmação do pacote de prêmios recebidos pelo documentário em vários festivais ao redor do mundo. E, além do Oscar, o mais importante premio de cinema da Grã-Bretanha, o Bafta, e o Grande Premio da Associação de Sindicatos de Produtores de Hollywood.

Já Craig Foster, pelo que se sabe, está bem obrigada.

* Algumas filmagens subaquáticas não mostradas no filme , mas realizadas pelo mesmo grupo, no mesmo local, estão no 5° episódio de Blue Planet II.

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