Argentina: “Preocupa quando um candidato diz que vai romper com o Brasil”, afirma Haddad

Argentina: “Preocupa quando um candidato diz que vai romper com o Brasil”, afirma Haddad

Em entrevista à Reuters, o ministro Fernando Haddad (Fazenda) demonstra preocupação com possível vitória de Javier Milei (foto), o chamado “Bolsonaro da Argentina”, no próximo domingo (22).

POR TATIANA CARLOTTI

No próximo domingo (22) acontece o primeiro turno das eleições presidenciais na Argentina e o ministro Fernando Haddad (Fazenda), em entrevista à agência Reuters, manifestou a sua preocupação com uma possível vitória do candidato de extrema-direita argentino Javier Milei. Estão na disputa, além de Milei (Liberdade Avança), a conservadora Patricia Bullrich (Juntos pela Mudança) e o atual ministro da Economia, Sergio Massa (União pela Pátria).

“É natural que eu esteja (preocupado). Uma pessoa que tem como uma bandeira romper com o Brasil, uma relação construída ao longo de séculos, preocupa”, afirmou Haddad. Segundo o ministro, “não se transpõe para as relações internacionais, as questões internas. Mesmo quando você tem preferências, manifestas ou não”, vide o exemplo do presidente Lula, que mantém relações amigáveis com chefes de Estado de todo espectro político, complementou.

Apelidado de “Bolsonaro da Argentina”, Milei afirmou que limitaria o comércio com o país, caso fosse eleito. No começo dessa semana, Bolsonaro divulgou mais um vídeo em apoio à candidatura do extremista argentino. Resta saber se o apoio vai ajudar ou atrapalhar, afinal, nesta quinta-feira (19), os “crescentes problemas legais” e o pedido de indiciamento de Jair Bolsonaro por cinco acusações na CPI do 8 de Janeiro, ganharam as manchetes internacionais sobre o Brasil. Não é de se estranhar que o episódio tenha ganhado destaque nos argentinos La Nacion e na Página 12.

PEDIDO DE INDICIAMENTO

A CPI terminou no final da tarde desta quarta-feira (18) com o pedido de indiciamento do ex-presidente, de cinco de seus ministros, seis ex-auxiliares diretos, além de 27 militares e policiais militares, entre eles ex-comandantes do Exército e da Marinha. O total é de aproximadamente 60 pessoas envolvidas com o golpe. Elaborado pela senadora Eliziane Gama (PSD-MA) o relatório, fruto de cinco meses de trabalho, foi aprovado ontem, por 20 votos favoráveis e 11 contrários.

Na próxima semana, a chefe interina da PGR, a procuradora Elizeta Ramos, deverá receber o documento da própria senadora Eliziane. Em sua fala, ela destacou o 8 de Janeiro como uma obra do bolsonarismo. “Não foi um movimento espontâneo ou desorganizado. Foi uma mobilização idealizada, planejada e preparada com antecedência”, reforçou, como destacou a agência pública estadunidense NPR.

A Reuters também trouxe duas reportagens sobre o resultado da CPI brasileira. “Bolsonaro ainda é alvo de pelo menos cinco investigações criminais lideradas pelo Supremo Tribunal Federal”, destaca a agência britânica, elencando as acusações: a divulgação de notícias falsas sobre as vacinas, o vazamento de detalhes de uma investigação selada da Polícia Federal, a interferência na Polícia Federal, a propagação de desinformação online e o planejamento dos tumultos de 8 de janeiro na capital”. Confira a outra reportagem aqui.

The Brazilian Report complementa, ao lembrar que Bolsonaro nesta semana, além dos demais depoimentos (um para cada acusação diferente, ele já testemunhou sobre o escândalo das joias, o 8 de janeiro, os registros falsos de vacinação e a suposta tentativa de golpe denunciada pelo senador Marcos do Val), ele prestou mais um testemunho à Polícia Federal, agora sobre seu envolvimento com as ações do grupo do WhatsApp de empresários supostamente envolvidos com a intentona golpista, entre eles, Mayer Nigri (Tecnisa) e Luciano Hang (Havan).

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SECA NA AMAZÔNIA

A conversa entre os presidentes Lula (Brasil) e Gustavo Petro (Colômbia) na manhã desta quinta, e as boas perspectivas de enfrentamento da seca que atinge a região Amazônia, em um esforço conjunto, foi notícia no colombiano KienyKe.

GUERRA ISRAEL/PALESTINA

A França lamentou nesta quinta, o fracasso da resolução da ONU proposta pelo Brasil para a ajuda humanitária em Gaza. Em comunicado (veja a íntegra), o Ministério da Europa e dos Negócios Estrangeiros afirmou que a França votou a favor do projeto brasileiro “que muito provavelmente reuniria o Conselho em torno de princípios comuns e que contaria com o apoio de 12 países”.

A nota destaca que o projeto brasileiro “condenava inequivocamente os ataques terroristas do Hamas contra Israel, exigia a libertação dos reféns, apelava ao respeito de todos pelo direito humanitário internacional, às pausas humanitárias e à abertura urgente do acesso humanitário pleno, seguro e sem entraves às Nações Unidas, ao CICV e organizações humanitárias em Gaza para permitir o fornecimento de produtos básicos à população civil”.

Enquanto 12 dos 15 membros do Conselho de Segurança votaram a favor do texto liderado pelo Brasil, os EUA votaram contra e a Rússia e o Reino Unido se abstiveram na votação ontem (quarta-feira), também destaca o britânico The Daily Star. Já os EUA vetaram a resolução, dizendo ser demasiado cedo para redigir uma resposta adequada à crise do Conselho de Segurança.

No portal AA da Turquia, uma reportagem elenca o posicionamento dos líderes latino-americanos em relação ao conflito no Oriente Médio.

ECONOMIA

Em entrevista à Reuters, o ministro Haddad também disse que o governo brasileiro está se preparando para introduzir instrumentos de hedge cambial este ano para atrair mais investimentos de longo prazo do exterior, em um esforço para reverter a queda do investimento estrangeiro direto (IED). A iniciativa, agora em fase de finalização em colaboração com o banco central, deverá ser lançada nos próximos 60 dias.

A agência também informa que os centros de exportação de commodities do Brasil estão sob pressão: exportadores relatam atrasos nos embarques de café devido à pouca disponibilidade de caminhões e contentores, enquanto o tempo de espera de carregamento dos navios aumenta, resultando em custos adicionais e atrasos na chegada dos produtos aos destinos.

INDÚSTRIA DE ARMAS

Por fim, duas reportagens da Bloomberg sobre como o Departamento de Comércio dos EUA está promovendo as exportações de armas no exterior, incluindo o Brasil. Assinada por Jessica Brice, Michael Smith e Christopher Cannon, as duas reportagens mostram como os armamentos e a cultura das armas estão sendo exportados em níveis sem precedentes, sob financiamento do Departamento de Comércio dos EUA.

“O último capítulo da série America: Global Gun Pusher documenta como as autoridades governamentais combinam vendedores e compradores em mercados como o Brasil e o Peru, onde o lobby das armas de fogo dos EUA ajudou a promover a cultura de armas ao estilo americano”, diz o texto (confira aqui). Na sequência, leia “Centenas de funcionários do governo dos EUA tornaram-se representantes de vendas da indústria de armas“, da mesma agência.


Javier Milei no programa “La Noche de Mirtha” em 3 de dezembro 2022. (Foto: Ilan Berkenwald/ Wikipedia)


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