Bolsonaro escondido em embaixada, aprovação de cessar-fogo em Gaza e avanços do caso Marielle: destaques da mídia global
ESCONDIDO NA EMBAIXADA HÚNGARA
Jair Bolsonaro passou dois dias no prédio da embaixada da Hungria, em Brasília, após ter o seu passaporte apreendido pela Polícia Federal. Imagens de câmeras de segurança da embaixada obtidas e divulgadas pelo jornal The New York Times relevam que o ex-presidente este no local durante este período, sendo acompanhado por dois guardas e recebendo atendimento do embaixador húngaro e sua equipe.
A permanência na embaixada sugere uma tentativa de aproveitar sua amizade com o primeiro-ministro húngaro Viktor Orbán para evitar o sistema judicial brasileiro. Alvo de várias investigações criminais, Bolsonaro não pode ser detido em uma embaixada estrangeira que o abrigue, pois elas estão fora do alcance das autoridades nacionais. As imagens das câmeras de segurança mostram sua chegada em 12 de fevereiro e sua partida em 14 de fevereiro.
O ex-presidente e Orbán têm uma relação próxima, compartilhando semelhanças como líderes de ideologia de extrema-direita, e se reuniram várias vezes durante e após o governo Bolsonaro. Em dezembro, eles se encontraram em Buenos Aires para a posse do novo presidente de direita da Argentina, Javier Milei. Durante o evento, Orbán referiu-se a Bolsonaro como “herói” (Clarín).
MARIELLE: PF PRENDE SUPOSTOS MENTORES
Um deputado federal, um ex-chefe de polícia do Rio de Janeiro e um funcionário ligado ao governo foram presos sob suspeita de serem os mentores do assassinato da vereadora Marielle Franco, do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL), que ganhou destaque como ativista social, denunciando milícias paramilitares e se opondo à intervenção das Forças Armadas nas favelas.
Seis anos e dez dias após o assassinato, perpetrado por membros dessas milícias historicamente ligadas a Jair Bolsonaro, a Polícia Federal prendeu o deputado federal do partido de direita União Brasil, Chiquinho Brazão, o ex-chefe de polícia Rivaldo Barbosa e Domingos Brazão, do Tribunal de Contas do Rio de Janeiro. Os três foram delatados pelo ex-policial Ronnie Lessa, autor confesso do atentado que custou a vida de Marielle e seu motorista, Anderson Gomes, em uma emboscada no centro da capital fluminense, na noite de 14 de março de 2018.
A ausência de avanços nas investigações sobre o atentado foi causada pela interferência deliberada do delegado Barbosa, nomeado para o cargo pelo general Walter Souza Braga Netto, que em 2018 era o interventor militar do Rio (Página/12). Posteriormente, Braga Netto foi ministro da Defesa, chefe de Gabinete e candidato a vice-presidente de Bolsonaro.
Após a confirmação da detenção de Rivaldo Barbosa e a divulgação da nota de nomeação assinada por Braga Netto, o ex-ministro de Bolsonaro publicou um comunicado desvinculando-se da situação e responsabilizando o então secretário de Segurança Pública, general Richard Nunes. Na prática, a nota indica que Barbosa estava sob a responsabilidade de Nunes, que hoje ocupa o cargo de Chefe do Departamento de Educação e Cultura do Exército, uma posição de destaque na hierarquia interna da força. Ele também é um dos generais mais próximos do atual comandante, o general Tomás Paiva, e é considerado um dos potenciais candidatos para assumir o comando do Exército no futuro.
Nunes tem uma péssima relação com Braga Netto e os militares que integraram o governo de Bolsonaro. Ele já foi um militar de confiança de Edson Leal Pujol, comandante do Exército foi demitido em 2021 após pressão do bolsonarismo, e esteve ao lado de Tomás Paiva e dos generais Valério Stumpf, Freire Gomes e Amin Naves, que lideraram a ala legalista do Exército após a eleição de Lula. Internamente, essa ala defendeu a posse do presidente eleito, tornando-se alvo dos bolsonaristas que defendiam o golpe.
A estratégia indica que as Forças Armadas estão buscando acordos com o governo para se resguardarem das possíveis repercussões internas decorrentes da detenção de militares no contexto de uma tentativa de golpe de Estado. Entre os indivíduos que os militares estariam dispostos a entregar estão o próprio Bolsonaro e outros militares que consideram terem violado a hierarquia militar, como Braga Netto e Augusto Heleno. O governo de Lula considera a notícia como um avanço no caso e continua sua investigação para confirmar as conexões entre o bolsonarismo e os responsáveis pelo assassinato de Marielle.
A ligação entre Bolsonaro e os membros das milícias ficou clara durante as investigações, especialmente porque Lessa era vizinho do condomínio onde o ex-presidente e seu filho Carlos residiam, na Barra da Tijuca, zona oeste do Rio de Janeiro. No entanto, em sua delação, Lessa não mencionou ninguém da família Bolsonaro (La Política Online).
ONU APROVA CESSAR-FOGO E AFIRMA: É GENOCÍDIO
O Conselho de Segurança das Nações Unidas emitiu sua primeira exigência de cessar-fogo em Gaza, com os Estados Unidos irritando Israel ao se abster da votação. Israel respondeu à votação de segunda-feira cancelando uma visita a Washington por uma delegação de alto nível, no mais forte choque público entre os aliados desde o início da guerra (Associated Press).
Francesca Albanese, relatora especial da ONU sobre direitos humanos nos territórios palestinos, escreveu, em um relatório previsto para ser entregue ao Conselho de Direitos Humanos da instituição nesta terça-feira (26), que existem “fundamentos razoáveis” para acreditar que Israel realiza três dos cinco atos definidos como genocídio: matar palestinos, causar-lhes sérios danos físicos ou mentais e “infligir deliberadamente condições de vida calculadas para provocar a destruição física” da população total ou parcial.
“O caráter avassalador e a escala do ataque de Israel contra Gaza e as condições de vida destrutivas que impôs revelam uma intenção de destruir fisicamente os palestinos como grupo”, afirma Albanese, em outro trecho do documento (Guardian).
DEMOCRACIA SEMPRE, SEM ANISTIA AO GOLPISMO
Movimentos sociais se mobilizaram no último sábado (23) em mais de 20 cidades brasileiras em defesa da democracia e justiça social. Em meio a um dia de intensas chuvas no sul e no sudeste do Brasil, os manifestantes uniram forças para exigir que não haja anistia em relação aos crimes contra líderes sociais, indígenas e afrodescendentes cometidos durante a administração do ex-presidente de extrema-direita Jair Bolsonaro (2019-2022), e em particular às tentativas de golpe de Estado para impedir a posse do presidente Lula.
Com base nas recentes revelações das investigações da Polícia Federal sobre os atos golpistas de 8 de janeiro de 2023, os movimentos sociais pediram que Bolsonaro fosse preso. Outra reinvindicação comum foi o progresso em políticas de verdade e justiça, seis décadas após o golpe de Estado contra o presidente João Goulart (1961-1964), ocorrido em 31 de março de 1964, liderado pelos setores mais conservadores das Forças Armadas.
Também ocorreram demonstrações de solidariedade com o povo palestino, pedindo por um cessar-fogo imediato e duradouro na Faixa de Gaza, e exigindo que Israel pare com seu genocídio e seja responsabilizado por seus crimes de guerra contra civis palestinos tanto na Faixa de Gaza quanto na Cisjordânia ocupada. As organizações populares e movimentos se mobilizaram sob os lemas “Democracia sempre” e “sem anistia ao golpismo”. (Telesur).