Celso Amorim media crise política na Venezuela; PT reconhece vitória de Maduro
O assessor especial da Presidência do Brasil para Assuntos Internacionais, Celso Amorim, reuniu-se com o presidente venezuelano Nicolás Maduro no Palácio Miraflores na tarde desta segunda-feira (29), para mediar a crise política que se instalou no país após as eleições presidenciais de domingo (28). Amorim também se encontrou com o candidato oposicionista, Edmundo González Urrutia.
Na manhã de segunda-feira, o Conselho Nacional Eleitoral (CNE) proclamou Maduro como vencedor, mas González Urrutia também reivindica a vitória. Desde o domingo, muitos países e observadores eleitorais têm solicitado a divulgação completa dos resultados. Segundo o argentino La Nación, Maduro prometeu entregar as atas eleitorais em breve, atendendo ao pedido de vários países, incluindo o Brasil.
À noite, contrariando a postura cautelosa do governo e da diplomacia brasileira, o Partido dos Trabalhadores (PT) reconheceu formalmente a reeleição de Maduro, elogiando o processo eleitoral como pacífico, democrático e soberano.
Já o presidente Lula, que discutiu o assunto por telefone com o presidente dos EUA, Joe Biden, na tarde desta terça-feira (30), aguarda o retorno de Amorim para obter informações mais detalhadas, conforme relatado pelo português Correio da Manhã.
Os Estados Unidos endureceram sua postura em relação ao regime venezuelano, considerando “inaceitável” a repressão a manifestantes e líderes da oposição e exigindo a publicação de resultados eleitorais “completos, transparentes e detalhados”. A secretária de imprensa da Casa Branca, Karine Jean-Pierre, afirmou que qualquer repressão política ou violência contra manifestantes e opositores é inaceitável, referindo-se às manifestações contra os resultados das eleições. Adrienne Watson, porta-voz do Conselho de Segurança Nacional, criticou as supostas irregularidades na contagem dos votos e a repressão desencadeada pelo regime, pedindo a divulgação completa dos resultados, incluindo dados por colégio eleitoral.
Em resposta às ações do regime, os EUA estão considerando a imposição de novas sanções, que podem incluir medidas individuais contra funcionários venezuelanos ou proibições de viagens. Francisco Palmieri, chefe de missão da embaixada dos EUA na Venezuela, destacou a perseguição e a detenção de membros da oposição, exigindo sua libertação imediata.
Em contrapartida, o bloco de integração latino-americano e caribenho, ALBA-TCP, condenou as ações de facções de extrema-direita que desrespeitam os resultados das eleições presidenciais e criticou a campanha de ódio promovida por canais de comunicação imperialistas. O bloco também repudiou os ataques a pessoas, infraestrutura pública e símbolos nacionais, que visam deslegitimar o processo eleitoral, que se desenvolveu de forma pacífica e histórica.
Enquanto isso, as manifestações continuam em Caracas, a capital do país. Segundo a BBC, milhares de manifestantes se concentraram no centro da cidade para demonstrar oposição à declaração de vitória de Maduro, prometendo não cessar suas ações até que um novo governo seja instaurado e exigindo que as forças de segurança se unam aos opositores.
Até o momento, tanto o exército quanto a polícia mantêm lealdade a Maduro, reprimindo os protestos com gás lacrimogêneo e balas de borracha. Autoridades locais relatam cerca de 750 prisões, enquanto duas importantes ONGs mencionam mortes e dezenas de feridos. O ministro da Defesa descreveu os protestos como um “golpe”, e o general Vladimir Padrino reafirmou o apoio incondicional do exército ao presidente. O procurador-geral, aliado próximo de Maduro, confirmou a morte de um soldado durante os protestos. A líder oposicionista Maria Corina Machado pediu que as manifestações sejam pacíficas e alertou contra provocações do governo que buscam dividir os venezuelanos (La Nación, La Política Online, La Nación, Correio da Manhã, Prensa Latina, BBC).
*Imagem em destaque: Wikimedia Commons