“Lula e a floresta amazônica, um compromisso animador”, avalia Le Monde
A Cúpula da Amazônia ocorrida em Belém, entre 8 e 9 de agosto, é o principal tema das notícias e análises sobre o Brasil na imprensa internacional, com destaque para o jornal francês que deu capa “Lula mobiliza, progresso limitado” e editorial “Lula e a floresta amazônica, um compromisso animador” ao encontro dos países amazônicos.
POR TATIANA CARLOTTI
“O desejo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva de aparecer como o líder de uma transição verde e uma nova política regional para preservar a floresta tropical só pode ser bem-vindo. Também para a floresta amazônica, a volta de Luiz Inácio Lula da Silva é uma boa notícia. A reunião de oito países membros da Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA), realizada na terça-feira (8) e quarta-feira (9) em Belém, não muito longe do delta do rio Amazonas, marca o retorno da ambição do Brasil de ser protagonista na luta contra o aquecimento e preservação da biodiversidade”, avalia o editorial do Le Monde desta quinta-feira (10).
“Lula envia, com a reunião de Belém, um sinal claro à União Europeia, que queria agregar uma cláusula sobre meio ambiente ao acordo de livre comércio com o Mercosul, e está aguardando ratificação. O chefe de Estado brasileiro, que em junho em Paris demonstrou a Emmanuel Macron sua combatividade em denunciar as responsabilidades ambientais dos velhos países industriais, mostra aos europeus que não precisa deles para avançar na questão”, complementa o texto.
A Cúpula da Amazônia ocorrida em Belém é o principal tema das notícias e análises sobre o Brasil na imprensa internacional, com destaque para o jornal francês, que além do editorial acima, deu capa – “Lula mobiliza, progresso limitado” ao encontro dos países amazônicos. “No alto da Amazônia de Belém, Lula consegue sucesso diplomático apesar de avanços limitados”, diz o texto, ao ponderar que a declaração final do encontro “apela à necessidade de ´ação urgente para evitar o ponto sem retorno´, sem incluir objetivos concretos sobre o desmatamento, e o próprio presidente brasileiro fez questão de excluir do texto a questão dos hidrocarbonetos”.
No The Guardian, Tom Phillips avalia que, do ponto de vista de Lula, “este é um enorme sucesso político”, mas o jornalista também manifesta preocupação de o encontro ser uma lista de boas intenções, sem qualquer compromisso específico. “Os Estados estão longe de compartilhar o mesmo modelo de atuação”, lembra. Os avanços, porém, são notórios. “Seria absolutamente impensável que um governo brasileiro sob o comando de Bolsonaro reunisse milhares de ambientalistas, ativistas indígenas e formuladores de políticas para discutir o desenvolvimento sustentável e a proteção da floresta tropical”.
Página 12 , por sua vez, destaca a cobrança para que os países desenvolvidos “cumpram suas obrigações em termos de financiamento climático” antes da COP28. No Clarín, a manchete aponta que “a cúpula da Amazônia terminou com compromissos mornos e um forte apelo do Brasil ao “mundo rico”. Já o francês Le Figaro questiona: “Desmatamento, clima: ainda podemos salvar a floresta amazônica?”
As diferentes posições entre os presidentes Lula e Gustavo Petro também receberam comentários na mídia, em particular, o La Politica Online que trouxe a fala do presidente colombiano aos colegas, “se você produz petróleo na selva, está matando a humanidade”, relacionado-a as propostas da Petrobras de extração de petróleo na bacia amazônica.
Por fim, a reportagem da Reuters, “Cúpula da Amazônia mostra desafio espinhoso para cidade-sede brasileira da COP30”, descreve como está a futura sede da COP30, programada para 2025, e as condições de Belém para sediar o evento mundial. A cidade, destaca o texto, planeja concluir um diagnóstico ainda este mês sobre todos os desafios a serem enfrentados nos dois anos até a cúpula, incluindo um sistema de esgoto inadequado, estradas em ruínas e transporte público precário.
ASSASSINATO NO EQUADOR
Prensa latina destaca nota do governo brasileiro que rejeitou e qualificou de deplorável o assassinato do candidato à presidência do Equador, Fernando Villavicencio, em Quito. Ele foi morto na tarde desta quarta-feira (9), quando saía de um ato de campanha. As eleições estão marcadas para 20 de agosto.
Com apoio do ex-presidente Rafael Correa, a candidata Luiza Gonzáles (Revolução Cidadã) lidera as pesquisas eleitorais com 26,6% das intenções de voto. Villavicencio (Movimiento Construye) era o segundo colocado nas pesquisas eleitorais, com dez pontos a menos.
DIREITA GOLPISTA
O argentino Página 12 trouxe longa matéria sobre a prisão, na última quarta-feira (9), do ex-diretor da Polícia Rodoviária do Brasil (PRF) Silvinei Vasques, em Florianópolis. No dia das eleições, em 30 de outubro de 2022, a Polícia Rodoviária, então comandada por Vasques, montou barreiras que causaram engarrafamentos e atrasaram a chegada de eleitores às seções eleitorais do Nordeste, reduto eleitoral de Lula, diz a reportagem. Segundo nota da PF, “os crimes teriam sido planejados desde o início de outubro, enquanto havia patrulhamento ostensivo e direcionado para a região nordeste do país”. Lula venceu Bolsonaro com uma diferença de dois milhões de votos. A prisão de Vasques também ganhou cobertura da Reuters.
Prensa Latina informa que o ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), pediu à Justiça Eleitoral do estado do Acre (noroeste) que investigue Bolsonaro pelo gesto de execução realizado por ele durante a campanha eleitoral de 2018. Gritando “vamos dar um tiro na petralhada”, Bolsonaro emulou uma arma de fogo com um tripé de uma câmera de vídeo. Zanin assumiu a relatoria do processo que estava com o ministro Ricardo Lewandowski, aposentado desde abril.
The Brazilian Report destacou o arquivamento pela Comissão de Ética da Câmara dos Deputados da queixa disciplinar contra o deputado mineiro Nikolas Ferreira (PL) por seu comportamento transfóbico no Plenário da Casa, em 8 de março.
MERCADO
A Reuters traz uma matéria sobre a necessidade do lobby da carne combater o desmatamento. Segundo o diretor de sustentabilidade da Abiec, Fernando Sampaio, “o desmatamento ilegal acaba contaminando nossa cadeia produtiva”. Este é o “calcanhar de Aquiles” da indústria da carne, avalia, ao destacar que os mercados consumidores estão exigindo que grandes produtores de alimentos como o Brasil limpem suas cadeias de suprimentos e rastreiem a origem das matérias-primas em nome de frear as mudanças climáticas. “O Brasil está apanhando por causa disso. A indústria inteira está apanhando por causa disso”, afirmou.
O português Expresso destaca que o Banco do Brasil obteve um lucro líquido de 16,5 bilhões de reais (3077 milhões de euros) no primeiro semestre do ano, mais 15,2% que no mesmo período de 2022. O índice de inadimplência (não pagamento) nas operações vencidas há mais de 90 dias ficou em 2,73% ao final de junho, superior aos 2% registados no mesmo mês de 2022.
A companhia aérea brasileira Azul teve um prejuízo menor no segundo trimestre, superando as expectativas do mercado. As ações da maior companhia aérea do Brasil em número de voos e cidades atendidas, negociadas em São Paulo, saltaram 8,9%, informa a Reuters. Ela também informa que o Carrefour Brasil criou 15 mil empregos diretos e indiretos nos primeiros seis meses de 2023.
IMPERDÍVEIS
Le Monde também trouxe outra reportagem imperdível sobre o país, intitulada “No Brasil, as cotas raciais criaram uma geração de graduados negros”, e assinada por Bruno Meyerfeld. Em apenas uma década, houve um aumento de 400% no número dos alunos negros nas universidades brasileiras.
No El Diario da Espanha, uma entrevista com Giancarlo Summa (Sorbonne), especialista em extrema-direita, sobre a situação da Argentina e as eleições primárias que acontecem no próximo domingo (13.08), e também sobre a ascensão da extrema-direita no resto do mundo.
Repórter do Fórum 21, com passagem por Carta Maior (2014-2021) e Blog Zé Dirceu (2006-2013). Tem doutorado em Semiótica (USP) e mestrado em Crítica Literária (PUC-SP).