Maduro rompe relação com Brasil, um de seus últimos aliados na região
O Focus 21 reúne as citações relevantes sobre o Brasil publicadas pela imprensa internacional
Nesta quarta-feira, o governo venezuelano chamou de volta seu embaixador no Brasil por “repetidas declarações intervencionistas e grosseiras” de Brasília, acrescentando que também estava convocando o enviado comercial do Brasil para conversações. Em uma declaração, o Ministério das Relações Exteriores da Venezuela citou especificamente o principal assessor de política externa do presidente brasileiro, Celso Amorim, por “agir mais como um mensageiro do imperialismo norte-americano” e acusá-lo de ser “impertinentemente dedicado a emitir julgamentos de valor sobre processos que correspondem apenas aos venezuelanos e suas instituições democráticas”.
O presidente do parlamento venezuelano, Jorge Rodriguez, propôs que os legisladores votassem a declaração de Amorim como persona non grata, depois de acusá-lo de se comportar como um enviado do conselheiro de segurança nacional dos EUA, Jake Sullivan. A escalada diplomática ocorre depois de semanas de tensões após a disputada eleição presidencial da Venezuela no final de julho.
Pelo menos 600.000 venezuelanos migraram para o Brasil nos últimos anos, de acordo com dados do governo brasileiro, enquanto em 2022 o comércio bilateral totalizou cerca de US$ 1,3 bilhão em exportações brasileiras e US$ 400 milhões em remessas da Venezuela. (Reuters / El Tiempo / Ámbito)
* A tensão bilateral cresce após o veto de Brasília à entrada da Venezuela no grupo Brics. (Clarín)
*Grave crise entre Venezuela e Brasil: rompe-se a relação entre Maduro e um de seus últimos aliados na região (La Nación)
*”Brasil: um veto suicida”: O imperdoável veto do governo brasileiro à entrada da Venezuela no Brics+ não é nenhuma surpresa. Há conflitos profundamente enraizados entre os projetos regionais e internacionais do Itamaraty e os do governo bolivariano. Esse conflito, latente em alguns momentos, manifesto em outros, ocorreu independentemente do que Lula pensava durante seus primeiros oito anos de governo. Depois de muito atrito diplomático, as relações entre Brasília e Caracas só foram normalizadas após a derrota da ALCA, em novembro de 2005. (Rebelión)
ASSASSINOS DE MARIELLE VÃO A JULGAMENTO
O julgamento dos supostos assassinos da vereadora Marielle Franco começou nesta quarta-feira –um assassinato que abalou o Brasil e repercutiu em todo o mundo. Manifestantes começaram a se reunir no início da quarta-feira em frente ao tribunal no centro do Rio, onde dois ex-policiais serão julgados pelas mortes de Marielle, de 38 anos, e de seu motorista, Anderson Gomes, em 14 de março de 2018. Ronnie Lessa é acusado de ter disparado a arma no tiroteio, enquanto Élcio Queiroz é acusado de ser o motorista que perseguiu Marille. Lessa e Queiroz foram presos em 2019 e estão detidos desde então, aguardando julgamento. Eles assinaram acordos de confissão sobre seus papéis, mas um júri terá a palavra final sobre se eles são culpados.
“O momento pelo qual esperávamos, há seis anos, chegou”, disse o Instituto Marielle Franco em seu site antes do julgamento. O instituto foi fundado pela família de Franco após sua morte.
A justiça demora no Brasil, mas aos poucos está chegando: o Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) pedirá a pena máxima de 84 anos para os acusados do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes no julgamento que tem início nesta quarta-feira. O feminicídio político de Marielle Franco, ocorrido em 2018, chocou o país, e movimentos populares realizaram diversas ações para buscar justiça: uma justiça que parece começar a ser cumprida após quase sete anos.
(Independent / Nodal)
MILEI-CHINA-LULA
A mudança no relacionamento do presidente Javier Milei com a China, a quem ele elogiou em seus discursos recentes como um “parceiro muito interessante, que não exige nada, apenas que não seja incomodado”, está causando preocupação no governo Lula, de acordo com o que o jornal O Globo informou na quarta-feira em sua edição on-line. No artigo, o país vizinho lembrou que o presidente chinês, Xi Jinping, enviou uma carta a Milei na semana passada para parabenizá-lo por seu aniversário e também fez eco à “guinada de 180 graus” que o líder libertário deu em relação ao seu parceiro comercial asiático. Durante a campanha, Milei havia dito que não faria “pactos com comunistas”, um preceito que parece ter sido deixado para trás. (La Nación)
CORTE DE GASTOS
Os ministros do governo brasileiro se comprometeram nesta quarta-feira a fortalecer a estrutura fiscal do país, tentando aliviar as preocupações do mercado enquanto se preparavam para debater como proceder com um ajuste fiscal que deverá incluir cortes de gastos. Os participantes do mercado questionaram a capacidade do Brasil de manter sua estrutura fiscal, uma vez que as despesas obrigatórias têm aumentado em um ritmo acelerado, reduzindo o espaço para outros gastos de acordo com uma regra que limita o crescimento geral das despesas. O Ministro da Fazenda, Fernando Haddad, disse que uma emenda constitucional seria necessária para que o governo fortalecesse a estrutura fiscal, acrescentando que as negociações com outros membros do gabinete sobre o assunto estavam avançando. Ele afirmou que houve uma “convergência importante” com o chefe de gabinete do presidente Lula no que diz respeito às medidas, mas observou que ainda há um “desafio de redação” enquanto o governo esquerdista de Lula as prepara. (Reuters)
MEIO AMBIENTE
Os satélites brasileiros não detectaram nada alarmante. No entanto, no solo, as árvores estavam morrendo. Lenta mas inexoravelmente, uma extensão de floresta protegida do tamanho da cidade de Nova York estava secando. As folhas estavam caindo das árvores e, à medida que o sol se filtrava através do dossel, prados gramados estavam brotando. Tudo isso foi intencional. Quando as autoridades brasileiras responderam a reclamações anônimas sobre a destruição no ano passado, encontraram pilhas de recipientes vazios de herbicida. O gado perambulava por alguns dos pastos recém-cultivados. As terras pertenciam a Claudecy Oliveira Lemes, um pecuarista que forneceu alguns dos maiores frigoríficos do mundo, incluindo a JBS, uma gigante brasileira de carne bovina que exporta para os Estados Unidos.
O que diferencia Lemes dos milhares de outros madeireiros e fazendeiros que devastaram áreas da Amazônia brasileira e de outras florestas é que ele usou o que as autoridades dizem ser uma nova e perigosa técnica: o desmatamento químico. Em outras palavras, ele usou produtos químicos, em vez de motosserras, para desmatar a floresta. (NYT)
INDÍGENAS PROTESTAM
Com imagens de animais e cobertos com pinturas corporais, centenas de indígenas marcharam na quarta-feira na capital do Brasil, pedindo ao Congresso que desistisse de uma proposta de emenda constitucional que tem o potencial de paralisar e até mesmo reverter a distribuição de terras. O projeto de lei visa acrescentar à Constituição uma teoria jurídica, defendida pela bancada do agronegócio, segundo a qual a data de promulgação da Constituição – 5 de outubro de 1988 – deve ser o prazo final para que os povos indígenas já tenham ocupado fisicamente as terras reivindicadas ou estejam lutando legalmente para reocupar o território. Os legisladores da bancada também alegam que isso proporciona segurança jurídica aos proprietários de terras. Grupos de direitos indígenas argumentaram que estabelecer um prazo é injusto, pois não leva em conta as expulsões e os deslocamentos forçados de populações indígenas, principalmente durante a expansão da fronteira agrícola do Brasil no século XX. “Estamos cientes dos interesses de empresas de mineração, fazendeiros e companhias de petróleo em nossas terras. Quantas vidas serão destruídas se esse projeto de lei for aprovado?” Alessandra Korap, líder indígena da tribo Munduruku, disse à The Associated Press. (Independent)
Jornalista, ex-Folha, Reuters e Valor Econômico. Participei da cobertura de posses presidenciais, votações no Congresso, reuniões ministeriais, além da cobertura de greves de trabalhadores e de pacotes econômicos. A maior parte do trabalho foi no noticiário em tempo real. No Fórum 21, produzo o Focus 21, escrevo e edito os textos dos analistas.