Viagem de Lula para a China e discurso de 100 dias do governo repercutem na mídia global
Veículos de comunicação e agências de notícias internacionais enfatizam a visita do presidente brasileiro ao gigante asiático e destacam seu discurso proferido ontem, em celebração aos primeiros 100 dias de governo
“Lula viajou para a China para reatar relações e com objetivo claro: ‘Queremos mais investimentos'”, informa o Clarín. De acordo com o jornal argentino, após ter sua viagem programada para final de março adiada devido a uma pneumonia, o presidente brasileiro embarcou nesta terça-feira rumo ao país asiático, com o objetivo de impulsionar as relações bilaterais e atrair novos investimentos através da assinatura de mais de 20 acordos. “Queremos que os chineses façam investimentos para criar novos empregos e novos ativos produtivos no Brasil”, disse ele, em entrevista à televisão e rádio brasileiras na segunda-feira.
Segundo a agência cubana Prensa Latina, o governo brasileiro confirmou que o objetivo da viagem é “promover o relançamento das relações com aquele que é o principal parceiro comercial do país desde 2009”. A comitiva que acompanha Lula em sua primeira viagem à China desde que assumiu o cargo, em 1º de janeiro, é formada por mais de 40 autoridades, e entre elas estão ministros, empresários, governadores e parlamentares. O encontro com o presidente chinês Xi Jinping está marcado para a próxima sexta-feira, dia 14.
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Os primeiros 100 dias do governo Lula também seguem na pauta da mídia internacional. O argentino Página/12 relata que o governo teve um início conturbado, por conta da tentativa de golpe liderada por seguidores do ex-presidente Jair Bolsonaro, uma semana após a posse do atual presidente, mas que, nos meses seguintes, manteve o foco na reconstrução e união do país, lançando ou relançando programas sociais para facilitar o acesso à moradia, saúde e alimentação. Além disso, o governo enfrentou a crise humanitária do povo indígena Yanomami, que foi duramente atingido pelo garimpo ilegal promovido durante o governo anterior. “Os problemas herdados foram tantos e em tantas frentes que o termo ‘reconstrução’ foi incorporado ao slogan do governo federal, precedido de outra palavra-chave: ‘união’. Não há dois Brasis , o Brasil dos que votaram em mim e o Brasil de quem votou em outro candidato. Somos uma nação”, disse Lula em artigo publicado pelo jornal Correio Brasiliense.
O presidente do Brasil elogiou o trabalho de seus 37 ministros, enumerou medidas que, segundo ele, vão permitir avanços importantes para o país, e disse que os 100 dias de governo já mudaram o cenário de caos que recebeu ao assumir o cargo, informa o português Correio da Manhã.
Reafirmar a posição do Brasil no cenário internacional, ressalta o britânico Independent, também tem sido uma prioridade para Lula, que se reaproximou de líderes dos Estados Unidos, França, China e Argentina. Seu antecessor mostrou pouco interesse em viagens ao exterior ou construção de pontes. O líder brasileiro também procurou se projetar como uma voz de liderança para um fim pacífico para o conflito na Ucrânia.
O argentino Página/12 repercute a fala de Lula, também durante o discurso de 100 dias do seu governo, a respeito da sucessão de ataques racistas cometidos pelo grupo Carrefour no Brasil. Em menos de uma semana, duas pessoas declararam ter sofrido discriminação racial dentro de supermercados da rede francesa. “Eles cometeram outro crime de racismo. Um guarda do Carrefour seguiu uma negra que ia comprar alguma coisa, achando que ia roubar. É a segunda vez que o Carrefour faz esse tipo de coisa”, denunciou o presidente, declarando que este tipo de comportamento não será mais tolerado: “Temos que dizer à direção do Carrefour: se eles querem fazer isso no seu país de origem, que façam, mas neste país não vamos admitir o racismo”.
O uruguaio La Diaria destaca as palavras de Lula sobre o futuro de seu governo e do Brasil: “Nos 1.360 dias que temos pela frente (o governo) seguirá firme na reconstrução de um país mais desenvolvido, justo e soberano, com paz e oportunidades para todos”.
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O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o processo de transição energética do Brasil para fontes renováveis será impulsionado através de novas licitações para energia solar e eólica. Lula declarou que os novos contratos terão capacidade de geração de energia equivalente às “maiores hidrelétricas” e que o país se tornará uma “usina de hidrogênio verde”. Os primeiros projetos de infraestrutura, inclusive na área de energia, deverão ser anunciados até maio. As informações são Brazilian Report, que também informa que a Petrobras, a gigante estatal do petróleo, financiará pesquisas em energia renovável e receberá investimentos para expandir a frota de navios operados pela sua subsidiária, a Transpetro, responsável pela logística de transporte e armazenamento.
“Nunca pensei na Petrobras como uma empresa de petróleo. A Petrobras sempre foi mais do que isso. É uma empresa de energia. É a empresa que historicamente mais investe em pesquisa no país. É a empresa que mais tem investido em inovação neste país”, declarou o presidente, no discurso comemorativo dos 100 primeiros dias de seu governo.
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A agência de notícias Reuters distribui conteúdo em que questiona o futuro político do ex-presidente Jair Bolsonaro. Segundo a publicação, nem mesmo seus aliados mais poderosos acreditam que ele possa ser candidato nas próximas eleições presidenciais: “O ex-presidente está enfrentando mais de uma dezena de processos na Justiça Eleitoral devido à sua conduta na campanha do ano passado, quando repetidamente atacou a legitimidade do sistema de votação eletrônica do Brasil enquanto concorria à reeleição. Especialistas jurídicos e duas fontes do Judiciário disseram à Reuters que esperam que ele perca pelo menos um desses casos, o que o impediria de concorrer à campanha presidencial de 2026″.
Bolsonaro não reconheceu sua derrota nas eleições de outubro e segue questionando a confiabilidade do sistema de votação brasileiro. O Tribunal Superior Eleitoral rejeitou sua reclamação formal em que contesta o resultado das urnas, e multou seu partido (PL) em mais de U$ 4 milhões, considerando sua posição como litígio de má-fé. O presidente do Partido Liberal, Valdemar Costa Neto, que está financiando a defesa de Bolsonaro, afirmou que o ex-presidente não cometeu nenhum crime.