Bairros marginalizados sofrem mais com as mudanças climáticas

Bairros marginalizados sofrem mais com as mudanças climáticas

Por Correspondente IPS no Egito

CAIRO – Bairros marginalizados e assentamentos informais precisam de uma transformação rápida, pois estão entre os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, aponta um relatório divulgado nesta terça-feira (5) pelo Programa das Nações Unidas para os Assentamentos Humanos, ONU-Habitat.

Anacláudia Rossbach, diretora executiva da instituição, declarou que “quase nenhum morador urbano ficará imune, com bilhões de pessoas expostas a temperaturas mais altas ou a riscos de inundações e outras ameaças”. Ela destacou que “assentamentos informais e bairros marginalizados, geralmente situados em áreas ambientalmente sensíveis e desprovidos de infraestrutura de proteção, são os mais atingidos por desastres climáticos e fenômenos extremos”.

Ao apresentar o relatório em Cairo, sede do 12º Fórum Urbano Mundial, Rossbach ressaltou os impactos dos eventos climáticos sobre as cidades, citando como exemplo as ondas de calor e inundações vistas recentemente em Valência. A região, localizada no leste da Espanha, foi devastada por chuvas intensas e enchentes na última semana, resultando em 218 mortos e grandes danos materiais.

Com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5ºC até 2050, o relatório alerta que hoje, 2 bilhões de pessoas vivem em cidades onde a temperatura média aumentará pelo menos 0,5ºC até 2040.

Rossbach destacou que as iniciativas climáticas urbanas ainda estão aquém dos desafios, acrescentando que “os mais vulneráveis são justamente aqueles que já enfrentam desigualdades estruturais persistentes”. Ela também mencionou que essas comunidades têm menos chances de receber apoio em caso de desastres. “A transformação rápida dos bairros marginalizados e assentamentos informais e a atenção às áreas urbanas mais vulneráveis são prioridades urgentes”, reforçou.

O relatório também revela que o crescimento urbano desordenado resultou em uma constante perda de áreas verdes: a proporção média de espaços verdes urbanos caiu de 19,5% em 1990 para 13,9% em 2020. Ainda mais preocupante, algumas intervenções climáticas falharam em proteger as comunidades vulneráveis e até pioraram suas condições, como ocorre na “gentrificação verde”, em que a criação de parques leva ao aumento do custo das moradias, afastando moradores de baixa renda.

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Apesar das dificuldades, o relatório destaca a importância das áreas urbanas como parte da solução climática. “Com investimentos e planejamento adequados, as cidades podem reduzir as emissões de gases de efeito estufa e se adaptar aos impactos do clima”, afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres, no prefácio do relatório. Ele elogiou cidades que lideram ao expandir áreas verdes inclusivas, reduzir emissões por planejamento urbano inteligente e investir em energia renovável para serviços públicos, como transporte.

O documento pede uma abordagem urbana detalhada para apoiar compromissos nacionais ambiciosos, alinhando ações climáticas com objetivos de desenvolvimento, como a modernização dos assentamentos, redução da pobreza e melhorias na saúde pública.

Estima-se que as cidades precisem de investimentos anuais entre 4,5 e 5,4 trilhões de dólares para construir e manter sistemas resilientes ao clima, mas o financiamento atual é de apenas 831 bilhões. “Esse déficit expõe as cidades, especialmente suas populações mais vulneráveis, a riscos cada vez maiores. A cada ano, o alerta se torna mais urgente, pois o impacto das mudanças climáticas piora enquanto as medidas concretas para enfrentá-lo permanecem muito atrasadas”, concluiu Rossbach.

Patrocinado pela ONU-Habitat e pelo Egito, o 12º Fórum Urbano Mundial, que se estende até 8 de novembro, reúne cerca de 6.500 participantes de todo o mundo, incluindo funcionários governamentais, planejadores urbanos, líderes comunitários, representantes empresariais e organizações da sociedade civil.

*Imagem em destaque: Vista de Cairo, onde ocorre o 12º Fórum Urbano Mundial. No evento, ONU-Habitat destaca a urgência de proteger bairros marginalizados e assentamentos informais, que serão os mais afetados pelas mudanças climáticas. Imagem: ONU-Habitat.

**Publicado originalmente em IPS – Inter Press Service | Tradução e revisão: Marcos Diniz

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